EU AMO AMAR
Tá tudo se transformando, eu, essa casa, esse mundo. Nada será como antes, nem o hoje será como o amanhã, são várias vidas que se tem no mesmo corpo, na mesma carcaça que se habita aqui. Eu não sou quem eu era nem sou o que serei, talvez nem sou o hoje, o hoje que me seja.
Estou me transformando, migrando dentro de mim mesma, me deslocando e reinventando.
Tenho guardado memórias, pra mim. Tenho problema de esquecimento talvez apagamento, acho que isso me impulsiona mudar, não quero esquecer as coisas mais bonitas e importantes da minha vida, quero que elas fiquem aqui, tenho registrado tudo, feito do poema um desabafo, um reflexo de tudo que passo, proponho, faço ou desfaço, registro essas memórias pra mim, não tive elas antes, não sei de onde veio meus avós, não sei das histórias, das aventuras, das paixões, dores e amores que elus passaram, tô tentando buscar tantos significados, outra narrativa, decolonial, buscado caminhos antes que eu não enxergava como possibilidade, hoje faço das minhas escolhas, minha morada.
Não quero ter medo, tô fugindo dessa sensação, medo do que não existe, do que se foi ou será, tô refletindo sobre tudo, só, passando por uma transição só, a partir das escolhas que eu fiz, sobre onde estou, por que estou, como estou e até onde vou, escolhi em parte está aqui, estou aqui por que devo estar aqui, estou só, inteiramente só, aprendendo a está só e ficando bem só, estou amadurecendo nesse sentido, tentando não pensar em bobagens, apenas em crescimento, maturidade, me reinventando, me descobrindo. São 13m² de pura imersão, dentro de mim e do cerne e do ápice de onde posso chegar comigo. Nesse espaço, nessa casa, nesse contexto.
Tô buscando me amar ainda mais, fico as vezes 24h pelada, me olho por inteira, repetidas vezes, vejo possibilidades, onde quero chegar com o meu corpo, quero amar ele constantemente, me amar por inteira, me possibilitar, me pintar, buscar possibilidades sem interferências externas, eu comigo e só comigo, me contemplar.
Eu amo amar.