Jorge Santos (namastibet)

Jorge Santos (namastibet)

Que fazer, se assombro tudo que faço de medo e a fracasso ...

1961-07-03 Setúbal
200953
8
16


Alguns Poemas

Pra'lém do sonhar comum ...



Pra’lém do sonhar comum,

O essencial é não sentir comum demais …


Pra lá do eu, meu coração é o sonhar meu,
Tudo de resto é o fora de mim e o já agora,
A solução é não sentir o comum demais e o
Que real mais parece a mim, sem precisar de

Sonhos menos dúcteis, tão gerais quanto os
Monstros mortos ou a dócil paixão, segundo os
Logros vivos, como eles naturalmente sentem
À hora do chá e às cinco, n’ametade de tarde

Certa, parada quanto um jogo de premissas
Falsas, aleatoriamente bem verdadeiras, assim
É a nata do leite puro, para não sentir comum
Demais, a respiração aposta nas palavras tácteis,

Segundo uma dicotomia de escravo e seu dono,
Não se tocam e quando acontece o sonho morre,
Produzindo um som profundo embora leve,
Difícil de explicar escrevendo, se nem por gestos…

A unidade mínima na escrita, é o desassossego
E a solidão de quem escreve, uma anátema,
Porque escrever é o complexo e não a virtude,
É o erro e não o Graal que chamam de linguagem,

O ritual mórbido, que não há maneira de definir,
Senão pelo exagero, pois não existem palavras
Justas que definam o caos, a exegese do desapreço,
O menos cómodo dos suicídios e o cativeiro,

É o agir contra nós próprios que nos torna
Inteiros, embora estrangeiros em nossos fragmentos,
Como se fossemos um armazém de cabides
Desorganizados, onde penduramos fatos de outros,

Sensações anónimas e abomináveis, intervalos orgânicos
De conversas que não desejamos nos curtos metros
Quadrados desta nossa alma enviesada, cansada
De colóquios e considerações de precisão volumétrica …

(O essencial é não sentir comum demais)




Joel Matos 10/2019
Http://joel-matos.blogspot.com

Prefiro rosas púrpuras ...




Prefiro rosas púrpuras


Prefiro rosas, papoilas, a morrer por algo
Que não posso definir realmente,
Nem sei explicar o sentido, o modo
E a doçura, o relevo das folhas, o ópio

É a saudade que tenho das roseiras bravas,
Pintadas como se fossem curvas figuradas
Dedicados a alguma encarnada Deusa egípcia,
Fazendo de conta que existiu por mim,

E que eu próprio criei, embora seja também
Minha por direito de irmão, a única verdade
São os meus cinco sentidos saudosos,
Daí a lembrança dos espinhos verde-sangue,

Os que não cultivo e os cultivados,
Menos reais que os pinheiros azuis mansos,
E as cores do campo, únicas e com
Suave gosto a flores sem serem

Realmente isso, é tarde para morrer
De novo de amor humano, tal a minha
Devoção às flores do campo, relvados, tingidas
De vermelhos e brancos, rosas-papoilas,

Mirtilos, framboesas, diospiros, fresas,
Prefiro rosas a morrer por algo fora de mim,
Como se fossem malmequeres dos meus instintos,
Guardo-os, guardava-os onde se vissem melhor

Por dentro, assim me vissem ind’agora
Sofrendo do que não sei explicar,
Pode nem ter solução, remédio a esperança
De entender a vida com a definição das rosas

Púrpuras, se desfazendo uma a uma, sorrindo
Pétala após pétala, ironia do absurdo
Parecer realidade o facto falso e a versão
Fictícia, imitando o natural, o ruido e no fundo

A transcrição exagerada das rosas,
Representa o meu estado real de alma agora,
Despido do que me contraria e do que esqueço,
Do que havia, prefiro rosas púrpuras a cactus.

 

 

 

 

 

 

 

Jorge Santos (31 Dezembro 2020)
https://namastibet.wordpress.com
http://namastibetpoems.blogspot.com

A sucessão dos dias e a sede de voyeur







(Nada menos estranho para mim do que ser universal, humano e eu próprio, de versão consciente e de consciência livre, eu e sempre que posso)

 

 

 

 

A sucessão dos dias e a sede de voyeur

A sucessão dos dias é de facto consensual, a inalterável sequência das horas, a sequela da sensação dos minutos, a prossecução das gerações e das estações do ano, são como um guia, uma cúmplice realidade, viva e implícita, embebida num sudário ou num sáurio sonho, qual fazemos todos parte, a nossa expressão superlativa-quantitativa, embora diminuta, do tempo em forma de arte, pois que emoção é isso, a impressão expressiva do erro racional e não admitido, em forma de apelativo prazer, de estimulante vivido e vital perante a crueldade sincera e a consciência dolorosa in-vitro, que é viver de facto e realmente uma vida ultra e curta, sem sensações para invocar, nem dimensões de ordem extra, a pira ou o crematório para os oito intuitivos sentidos que nos restam e hão de soçobrar pateticamente na gesta de fogo versus ar e luar.
Se todos se sentissem tão comuns perante a vida e nós, como eu, perante a frieza da solidão que de facto se sente e eu sinto mais e muito, na paisagem agreste que me reveste da mesma forma e no mesmo género de satisfação de que eu sou, decomposto a meio, e todos tivessem a mesma sensação indiferente perante o vício solto de pensar e sonhar, dulcíssimos como a natureza do ar, lar intimo do que sinto e o orgulho ferido da realidade que a transfigura em irremediavelmente minha e eu em fatalmente seu, sucederíamos à quinta dimensão do tempo / espaço que diziam as divindades gregas suceder aos desejos de Omega, nas paisagens estéreo/ impassíveis, da fala e do falar que apenas na lua e no luar podem e há-de-haver em cada um, como em todos nós.
Controlamos os nossos defeitos em batalhas e rebeliões viscerais e não há, não existem impropérios reais, nem impérios virais “Do-bem” ou do mal que nos valham, nem sacrifícios que não amputem a razão na dimensão pura do ego, na vala comum e o eco da contenda que nos avise que perdemos. Clamamos pedindo repouso, misturando à lama do chão, ossos e as escaras dos que se diziam superiores, por quem os descreveu, sem estarem presentes nos sons dos campos de guerra, vazios passageiros do que resta da chama real, onírica e do vale de fumo, sem fundo que se chamam, ou de “falhar” ou de fama humana.
Na loucura, as faunas planas vestem-se de ouro em escamas e nas tardes sem honra, estranhos frades de toga buscam um Santo Graal sem validade, sem hora, nem nenhuma outra cura para a fé humana que não seja fraude e a incapacidade de viver sem o Omega, nem da palidez do Alfa, no mármore rósea nas capelas bizantinas, outrora na Capadócia extrema.
A isenção de sensibilidade censuradora, pisciforme, não nos purifica, antes nos esteriliza as escamas ao ponto de negarmos gerações conceptuais divergentes, somos seduzidos pelo asco e pela “touguia” universal, triunfal, pela mecânico quântica da mesquinhez vigente e da gargalhada persistente e viscosa, aplaudível por multidões universais, tosquiadas, sem formas e iguais a nós, eles mesmos, isentos e parciais, asquerosos pisciformes sem cor, ninguém de alma ilesa, acomodados funcionários e convalescentes do sentido estético, conspurcados assintomáticos.
A sucessão genética e embrionária é facto consensual e claro, uma tragédia estéril, quando se caracteriza de ambição e ganância gonorreica e a avidez protagoniza um placebo pouco nobre na ilusão de reproduzir semântica duma caixa de cartão liso ou papel canelado, mas vendável, já previamente cozinhado, com data de consumo obrigatória e a promessa de fomentar a realidade metafísica das sensações que não possuímos, mas reclamamos, tal como estéreis animais de esterco e de pasto para açougueiro.
Reajo contra a ideia cerebral, exacerbada de verdade, acertada e venal que vulgarmente se agrega ao papel higiénico numa crise diarreica fortíssima, provoca em mim uma náusea verbal mística e um sufoco do pensamento que vai além do desígnio consciente repugnante e auto purgante, persigo com o instinto do que procuro, como se fosse uma clarividência arejada, arrojada e doce, embora lhe dê uma designação de destaque, sinto-o agudo e pungente, assim como algo externo a mim, como um destino, um conceito, uma manifestação do que – “há de vir a ser”, clarividente e desapossada até ao tutano.
Bem hajam no futuro os deuses brandos e os mancos que pronunciam simples profecias, pois não haverá tíbias, nem pictóricos porteiros nem cadáveres pendurados pelos dedos em ameias, nem tratados tardios de paz, nem Sibilas, apenas a sucessão parda dos dias parados, como se fosse uma praia vizinha de Tróia, depois da guerra, num mar inclemente mas que é de todos nós, qual nos escapa como areia pelos nós dos dedos, como se fossem cabelos de Portia Deusa, pacata e mansa …a sucessão dos dias e por fim luz, luz ao fim do túnel …

No final da luz o fumo e o fim do túnel, sei que já disse tudo isto pois “ando-pouco-de-palavras” ultimamente, uso do mais grave que já disse, por não saber dizer nem mais, nem melhor, sou tudo o que me acusam e ainda mais, mas felizmente para mim segundo eu, ou não, segundo outros. Elegi neste lado do mundo, nesta parcela gástrica virtual,  uma vaidade mecânica de escrita pouco limpa e gasta como opção primeira e privilegiada de pensar e de pensamento e, na minha escrita não permito, nem permitirei, nem a febre dos fenos, nem do contágio decadente que polui de través, é e será o que constituí na minha interpretação de espaço, livre, comum de critica criativa e construtiva, excentricidades são e serão bem vindas desde que não rocem a imbecilidade expressiva e a rudeza, as expressões poética querem-se, quero-as eu e todos nós, vazias de exterioridades egoísticas, assim como a caixa onde o gato defeca diariamente se quer limpa de novos excrementos para que a verdade da agua pura flua e escorra por entre as vistosas pedras em cascata numa montanha livre de doenças parasitárias, malignas e esterilizáveis de pensamento e ideias, que o som das cristalinas águas nos acompanhe a todos e não o cárcere da infâmia e a lâmina da ignomínia com que muitas vezes sou reclamado a cooperar e reitero desde já um voto pelo bom funcionamento das nações e das instituições que minhas são também, quais posso e devo chamar assim, para que não se abra a tampa e pandora invada as nossas oníricas quimeras e as transforme em terríveis sensações decrepitas bem acima da linha do cabelo, bem hajam poetas e homens verdadeiramente amantes da escrita e da poesia, “no pasaran”, jamais passarão, eu passarinho.
Por fim luz ao fundo do túnel, não quero incendiar nem demais, nem – “de-menos” – os ânimos, apenas desejo e apelo ao bom entendimento  funcional do género humano e de algo que pode e deve ser belo, a partilha de palavras e o desejo, egoísta mas louvável de ser ouvido livremente e partilhado em comum por tantos e muitos ouvintes. Obrigado a todos por lerem o que partilho e o que escrevo, nestes momentos difíceis que atravessamos, toda a partilha é, como diz Bernardo Soares “A mais vil de todas as necessidades — a da confidência, a da confissão. E a necessidade da alma de ser exterior ” Obrigado a todos, bem hajam os seres humanos livres por vontade, bem hajam todos os poetas que amam as letras que usam, de todas as formas e em forma de arma, inclusive recriando uma nova, alterada e revolucionária sucessão de dias horas e mentes, pois que inalterável não é apenas a dor, Inalterável é a cachaça e um antropólogo em Marte, inalterável a minha sede de voyeur e a metafísica do terror, inalterável até o leite da Deusa Hera, mas eu não altero em nada seja o que for que sinta, seja ele quem for inclino-me ante quem é alterável quanto a minha dor que alterna entre a brava fúria e essa a qual me converto por amor.
Quando uma pessoa quer ver repetidos os mesmos padrões nos gestos, nas estrela mestras e os mesmos sorrisos nos rostos dos outros e não apenas nos das crianças, imutáveis quanto os castigos quer nos céus como nas gentes e nos despojos de dia zero, que as inúmeras vidas nos deram, quando alguém quer tudo isso o herdado e o por herdar, duma só vez, na breve vida, torna-se autista, Inalterável, incolor, inverneiro…

 

 

Joel Matos (Junho 2020)
http://joel-matos.blogspot.com
https://namastibet.wordpress.com

 
 

Dreaming Of A Better World




Olho sem ciência o horizonte que não descansa,
Uma gaivota gritando significa que está pedindo,
Um barco partido, sem ter vontade de navegar,
Nem pressa.

O silêncio é idêntico, quer no céu, quer em terra,
Só no mar se confunde o horizonte, suponho
Ser lá longe, p’lo som que uma gaivota cega faz
Na praia, ao chegar,

Ao regressar co’a heresia do mar, no fundo,
Aparte as ondas, nada se altera, o mar é aberto,
Alternas sensações,
O longe e o perto, o ar.

Barcos partindo de viagem, sem rota,
Minha pele sem escama nem arte, mar sem porta,
Sem peso nem ciência,
Minha força desleal.

A Aorta de um marinheiro é o bocado do corpo
Que mais lembra um coração, as algas o cabelo
E o som molhado da saudade,
O velame e o esteiro,

As águas vivas, terras perfeitas e areais florestas,
Palavras não expressas, organismos marinhos,
Marés sem esperança,
Curta distância e extinção…

Vivemos de estratégias, especulações e simulações reais,
Enquanto tempo é feito de ausência e de todos os elementos
Substantivos possessivos,
Que nos habituámos a dar

Como substancialmente comuns e até definitivamente vitais
Em função apenas da necessidade de tornar real, embora suave,
A passagem do tempo e das horas,
Como por exemplo, brincar

Irresponsavelmente com as palavras e com o pensamento,
Inconscientes da função de viagem, da paisagem,
E do meio de transporte, o espaço vida confinante
Ao “silêncio da pele”.

É atribuído genericamente ao tempo, apenas
A memória mental e mnésica que usamos na orientação
No espaço que inventámos, por confortavelmente
Não querermos existir no lado de fora dele,

Destas falsas e possessivas premissas constituintes da matéria…
Eu conheço lugares que caíram dentro de si, Incompreendidos
Lactos de uma triste tristeza paranóica.
Vi como demagogos se agregaram num tear de cegueira,

Deixando-me na insónia,
Ancorado na nulidade em que vivem esses Faraós Aqueus,
Incapazes de sentir, montados em debilitados javalis,
Maldosos, funestos delimitadores de jardins, bacantes.

Eu conheço um lugar blindado à fé primeira,
O lugar-dos -elefantes, a Terra-inteira, sem horizontes
Nem ciência, apenas bera cegueira …
I dream of a better world .



Jorge Santos 10/2019
http://namastibetpoems.blogspot.com
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filipemalaia
Gostei muito de o descobrir Jorge. Obrigado!
31/dezembro/2019
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nilza_azzi
É bom ler o que escreves; tens ritmo, domínio da línguagem poética e abordas temas intensos.
22/agosto/2019
-
namastibet
obrigado a todos que me leram
09/janeiro/2019
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ricardoc
Igualmente! Estou me familiarizando com a plataforma. Abraços, RicardoC.
23/abril/2018
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131992
muito intenso seus poemas, adorei.
26/outubro/2017
-
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa! Raimundo Correia

-Raimundo Correia
07/fevereiro/2013

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