Poemas Menores
Meus óculos quebrados
Me olham com saudades
Do passado que também se quebrou
-o-
Sujo é o beco de sua boca
quando fala.
Sujo é o beco - boca é suja
Pois as árvores poda
Até que a morte vem
Aos pássaros também
-o-
Sempre é o nunca
à podridão dos homens
que matam de penúria
ou de violência
que ferem a alma
de um povo já enfermo
E querem carnaval.
-o-
Cultivar plantas em xaxim
é como cultivar a paz
Os homens cultivam o fim
-o-
O verde desta planta
no meio de minha sala
O cinza desta fumaça
em todo meu caminho
-o-
Vivaldi vagueia
vadiamente
em meus ouvidos
-o-
Se não fosse a chuva
batendo em minha janela
Pensaria serem lágrimas felizes
de minha boca em seu corpo.
-o-
O meu copo de aço
escorregou-me da mão
Os estilhaços de vidro
cortaram-me o pé
Escorreu uma gota de sangue
manchando o tapete.
-o-
Saia do escuro e acenda uma vela
Fique na sua
tomando chuva na calçada
beijando a boca da namorada
sentindo a nuca se arrepiar.
-o-
Há olhos lindos e tentadores
meigos, tímidos, de muitas cores
sensuais, chocantes, libidinosos
lagos serenos, maravilhosos
cristais brilhantes, cheios de fé
mas nada como os olhos de Teté.
-o-
E lá estão os elefantes,
ciscando em volta do lago,
enquanto as pedras rolam
misturando-se com as cuspidas do tuberculoso.
Cânticos frêmitos entoados por pianos destruídos
entusiasmam os leprosos para uma valsa.
Vamos beber uma cerveja?
Então, bebamos oito.
-o-