Viagem de Trem Pelo Inferno
vai vai vai vai vai!, eles berram
e um macaco estica o braço e desenrosca a lâmpada
e a ruiva velha de vestido preto
levanta a saia e dança
vai vai vai vai vai!
ela sacode a bem-feita corcova do rabo
e aí o tira entra pelo vestíbulo
e eles dão vivas
oba!!! oba!!!
e ele cai fora com a ruiva diante de si
cabelo nos olhos dela, boca descaída em desgosto,
e eles gritam para ele
vai fundo! manda ver! oba!!!
é uma viagem de trem pelo inferno,
os perdedores do hipódromo voltando cento e cinquenta quilômetros para casa
para empregos e nenhum emprego, esposas e nenhuma esposa, vidas e nenhuma vida,
e o camarada do bar só tem cerveja,
ela flutua numa lixeira de gelo e ele joga a cerveja quente ali dentro –
(oba!!! oba!!!, eles berram toda vez que uma pessoa nova entra no vagão do bar)
e pega latas e as abre e as vende tão rápido quanto a máquina
é capaz de furar buraquinhos...
vai vai vai vai vai!!!, encontraram uma nova
e ela dança (as putas embarcam em San Clemente
onde estiveram sentadas nos bares
e elas rumam ao norte para L.A.
colhendo o que conseguem)
e agora ela está rolando dados imaginários,
não, eles são reais, há moedinhas no piso,
ela sacode os dados, ela sacode sua lata e eles gritam
vai vai vai vai vai!!!
o tira aparece de novo e os dados desaparecem,
ele está fumando um cigarro e seu quepe está levantado para trás,
ele é cinza e parece mais bêbado do que qualquer um de nós,
oba!!! oba!, eles saúdam, e ele vai andando.
um extrovertido de camisa esportiva azul
circula abraçando e beijando as mulheres,
aí uma garota de cor se pendura pelos joelhos numa barra transversal,
oba! vai vai vai! oba!
um homossexual esfrega seu rosto no meu,
“você estava no hipódromo?”
eu me afasto dele, vou até o bar e
suo na espera por uma cerveja.
oba! vai vai vai vai!
a garota de cor dança de frente para um chinês,
vai vai vai vai!
eu pego minha cerveja.
lá fora passam os prédios, pessoas olham televisão,
em Berlim eles fodem com o muro,
pessoas ponderam questões de estado com pedras,
aqui uma loira velha força o flanco contra o meu,
compro uma cerveja pra ela e um maço de Pall Mall,
então ela diz “vem comigo, preciso ir no banheiro”,
e vamos passando pelo tumulto,
oba! oba! lá vão eles! vai vai vai vai!!!
ela está de calças largas e a barriga dela querendo sair pra
fora, e eu espero junto à plaquinha externa que diz mulheres,
e estou suado e impaciente pelo pouco que a cerveja me dá
e esvazio a lata e a lanço no vestíbulo
e bebo a dela também, e no outro vagão
as pessoas estão cansadas e infelizes, ressonhando suas perdas,
chapados em seus assentos, bonecos empalhados,
engolidos – de novo – pelo mundo,
e a minha puta sai
e nós entramos no vagão do bar outra vez,
oba! oba! vai vai vai vai!
dança, dança, dança!
e ela começa a dançar balançando o que resta do
disfarce de sua carne e eu me afasto dela e vou para o bar,
vai vai vai vai vai vai vai vai vai!
ainda resta cerveja, o camarada puxa latas dos armários,
o trem ginga ginga correndo a 145 153 158
o maquinista um perdedor também
estourando um barrilete de cerveja entre as pernas,
e eu penso nas batalhas travadas ao longo dos séculos,
as batalhas em pequenos recintos, em campos de batalha,
louco, gênio, idiota, farsante,
todos tirando sangue, tudo desperdiçado, desperdiçado, desperdiçado,
as baratas vão rastejar por todo lado
sobre a Sinfonia #9 de Schubert,
pra dentro e pra fora dos nossos ouvidos
vai vai vai vai!!!
no entanto aqui
isso também
significa alguma coisa
e a minha puta voltou e nós bebemos
até que um cara maluco liga o sistema de incêndio
e as luzes se apagam
e ficamos todos sob um chuveiro frio
oba! oba! vai vai vai vai vai vai vai!
alguém desliga a água e liga as luzes
e as mulheres todas ganham cabeças de sapo
o cabelo escorrido, rímel apagado, pálpebras apagadas, e elas dão risadinhas,
bolsas e espelhos na mão, pentes na mão, tentando se esconder da vida de novo,
e eu desvio meu olhar, tranquilo afinal, pego mais umas cervejas,
acho um cigarro seco e o acendo,
e aí como outra chaga
Los Angeles se impõe a nós
e saímos pelas portas
correndo rampas abaixo
oba! vai, vai, vai, vai!
há uma cadeira de rodas no corredor,
e o extrovertido da camisa esportiva azul
senta seu amigo nela,
um doente! um doente! abram alas!
ei abram alas! um moribundo!
eles se movem numa tremenda velocidade
para dizer o mínimo, ei! abram alas! um doente!
ah, vai vai vai vai vai vai!
ah, vai vai vai vai, vai, vai! oba!!
um guarda os detém e pega a cadeira de rodas
e aí meu amigo da camisa azul
junta o amigo do chão e o coloca sobre o ombro
e se precipita rampa abaixo
ei! ei! abram alas, um moribundo!
minha puta ainda está comigo quando chego ao meu carro
no estacionamento, ela entra
e rodamos pela frente da prefeitura
ingressando na autoestrada, e há mais uma corrida
para correr sem vencedor, e por todos os lados dirigem
pessoas que estavam no jogo de beisebol
ou na praia ou no cinema ou na tia Sarah,
e a puta diz “é o Marmatz. eu simplesmente não sei.
o garoto não quer vencer por mim.”
20 minutos depois ela está no meu quarto.
vai, vai, vai, vai, vai, vai!
oba.
lá fora tudo está quieto, e dá pra ouvir os bombardeiros no alto,
dá pra ouvir os camundongos fazendo amor; dá pra ouvi-los cavando
as sepulturas nos cemitérios, dá pra ouvir os vermes rastejando para dentro das
órbitas, e o trem no qual viemos, ele está bem quietinho agora,
está parado, as janelas nada mostram senão o luar,
há uma tristeza que lembra velhos rios, e é mais real
do que jamais foi.