Alberto de Oliveira
Antônio Mariano de Oliveira, mais conhecido pelo pseudônimo Alberto de Oliveira, foi um poeta, professor e farmacêutico brasileiro. Figura como líder do Parnasianismo brasileiro, na famosa tríade Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.
1857-04-28 Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, Brasil
1937-01-19 Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
185516
3
1702
Confissão dos Olhos
Na sala, muita vez, junto aos que estão contigo,
Noto entrando que ao ver-me, entre surpresa e enleio
Ficas, como se acaso um sofrimento antigo
Eu te viesse acordar lá no íntimo do seio.
Por que enleio e surpresa? Olham-te, e empalideces;
Pões a vista no chão, fazes que desconheces
Estar ao pé de ti quem te perturba; acaso
Vais distraída; aqui tocas a flor de um vaso,
Ali de um velho quadro atentas na gravura;
Achegas-te à janela, olhas a tarde pura,
Voltas. De face então vês-me a estremecer. Quase
Disseste o que dizer te anseia há muito; a frase
Íntima, breve e ardente, em teu lábio purpúreo
Aflou num palpitar, fez ouvir um murmúrio,
Mas refluiu... Em torno atentos te encaravam.
Foi quando para mim teus grandes olhos voaram,
Voaram, vieram, assim como do firmamento
Duas estrelas, e a alma unindo a um pensamento
Único, em fluido a escoar dos raios de ouro em molhos,
Somem-se em mudo assombro, abismam-se em meus olhos.
E em minh'alma, lá dentro, eu sinto então, querida,
Que eles deixam cair, no ardor em que me inflamo,
Ah! e com que calor, com que sede de vida!
Letra a letra, a tremer, o teu segredo: Eu te amo!
Publicado no livro Poesias: segunda série. Poema integrante da série Alma Livre, 1898/1901.
In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense
Noto entrando que ao ver-me, entre surpresa e enleio
Ficas, como se acaso um sofrimento antigo
Eu te viesse acordar lá no íntimo do seio.
Por que enleio e surpresa? Olham-te, e empalideces;
Pões a vista no chão, fazes que desconheces
Estar ao pé de ti quem te perturba; acaso
Vais distraída; aqui tocas a flor de um vaso,
Ali de um velho quadro atentas na gravura;
Achegas-te à janela, olhas a tarde pura,
Voltas. De face então vês-me a estremecer. Quase
Disseste o que dizer te anseia há muito; a frase
Íntima, breve e ardente, em teu lábio purpúreo
Aflou num palpitar, fez ouvir um murmúrio,
Mas refluiu... Em torno atentos te encaravam.
Foi quando para mim teus grandes olhos voaram,
Voaram, vieram, assim como do firmamento
Duas estrelas, e a alma unindo a um pensamento
Único, em fluido a escoar dos raios de ouro em molhos,
Somem-se em mudo assombro, abismam-se em meus olhos.
E em minh'alma, lá dentro, eu sinto então, querida,
Que eles deixam cair, no ardor em que me inflamo,
Ah! e com que calor, com que sede de vida!
Letra a letra, a tremer, o teu segredo: Eu te amo!
Publicado no livro Poesias: segunda série. Poema integrante da série Alma Livre, 1898/1901.
In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense
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