Alberto de Oliveira

Alberto de Oliveira

Antônio Mariano de Oliveira, mais conhecido pelo pseudônimo Alberto de Oliveira, foi um poeta, professor e farmacêutico brasileiro. Figura como líder do Parnasianismo brasileiro, na famosa tríade Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.

1857-04-28 Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, Brasil
1937-01-19 Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
185409
3
1702


Prémios e Movimentos

Parnasianismo

Alguns Poemas

Os Amores da Estrela

Já sob o largo pálio a tenebrosa
Noite as estrelas nítidas e belas
Prendera ao seio, como mãe piedosa.

De umas as brancas lúcidas capelas,
De outras o manto e as clâmides de linho
Viam-se à luz da lua. Estas e aquelas,

Todas no lácteo sideral caminho
Dormiam, como bando alvinitente
De aves, à sombra, nos frouxéis de um ninho.

Vênus, porém, chorava; ela somente
De pé, cismando, o níveo olhar mais níveo
Que a prata, abria na amplidão dormente.

Olhava ao longo o célico declívio,
Como a buscar alguém que desejava,
Qual se deseja alguém que é doce alívio.

Só, no espaço desperta, como a escrava
Romana ao pé do leito da senhora
Velando à noite, a mísera velava.

Um deus de formas válidas adora;
São seus cabelos ouro puro, o peito
Veste a armadura de cristal da aurora.

Quando ele sai das púrpuras do leito,
O arco na mão, parece de diamantes
E rosados rubins seu rosto feito.

Dera por vê-lo agora as cintilantes
Lágrimas todas, líquido tesouro,
Que lhe tremem às pálpebras brilhantes...

Mas soa de repente um grande coro
Pelas cavas abóbadas... E logo
Assoma ao longe um capacete de ouro.

O deus ouviu-lhe o suplicante rogo!
Ei-lo que vem! seu plaustro os ares corta;
Ouve o relincho aos seus corcéis de fogo.

Já do roxo Levante se abre a porta...
E ao ver-lhe o vulto e as chamas da armadura,
Fria, trêmula, muda e quase morta,

Vênus desmaia na infinita altura.


Publicado no livro Poesias: segunda série. Poema integrante da série Alma Livre, 1898/1901.

In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense

A Cancela da Estrada

Bate a cancela da estrada
Constantemente.

Cavaleiro, à disparada,
Lá vai no cavalo ardente.
Cavaleiro em descuidada
Marcha, lá vem indolente.

Passa, ondeia levantada
A poeira, toldando o ambiente.

Bate a cancela da estrada
Constantemente.

Bate, e exaspera-se e brada
Ou chora contra o batente:
(Ninguém lhe ouve na arrastada,
Roufenha voz o que sente)

— "Minha vida desgraçada
Repouso não me consente;
Vivo a bater nesta estrada
Constantemente."

Moços, moças, de tornada
De alguma festa, em ridente
Chusma inquieta e alvoroçada,
Passaram ruidosamente.

Desta inda se ouve a risada,
Daquele o beijo... Plangente

Bate a cancela da estrada
Constantemente.

Agora, é noiva coroada
De capela alvinitente;
Segue o noivo a sua amada,
Um carro atrás, outro à frente.

Agora, é uma cruz alçada...
Um enterro. Quanta gente!

Bate a cancela da estrada
Constantemente.

Bate ao vir a madrugada,
Bate, ao ir-se o sol no poente;
(Das sombras pela calada
Seu bater é mais dolente)

Bate, se é noite enluarada,
Se escura é a noite e silente;

Bate a cancela da estrada
Constantemente.

Nossa vida é aquela estrada,
Com os que passam diariamente
E após si da caminhada
A poeira deixam somente.

Coração, como a cansada
Cancela de som gemente,

Bates a tua pancada
Constantemente.


Publicado no livro Poesias, 1912/1925: quarta série (1927). Poema integrante da série Alma e Céu.

In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1979. v.3. (Fluminense
Alberto de Oliveira (Palmital de Saquarema [Saquarema] RJ, 1857 - Niterói RJ, 1937) publicou seu primeiro livro de poesia, Canções Românticas, em 1878. Na época, trabalhava como colaborador do Diário, com verso e prosa, sob o pseudônimo Atta Troll. Em 1883 conheceu Olavo Bilac e Raimundo Correia, com os quais formaria a tríade do Parnasianismo brasileiro. Formou-se em Farmácia, no Rio, em 1884. Iniciou o curso de Medicina, mas não chegou a conclui-lo. Na época, publicou Meridionais (1884), e em seguida Sonetos e Poemas (1886) e Versos e Rimas (1895). Foi inspetor e diretor da Instrução Pública Estadual e Professor de Português e História Literária no Colégio Pio-Americano. Em 1897 tornou-se membro-fundador da Academia Brasileira de Letras. Publicou Lira Acaciana (1900), Poesias (1905), Ramo de Árvore (1922), entre outras obras poéticas. Foi eleito "Príncipe dos Poetas Brasileiros", em 1924, por concurso da revista Fon-Fon. Em 1978 foram publicadas suas Poesias Completas. Alberto de Oliveira é um dos maiores nomes da poesia parnasiana no Brasil.
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