Marcelo Gama

Marcelo Gama

Marcelo Gama, pseudônimo de Possidônio Cezimbra Machado foi um poeta e jornalista brasileiro. Foi um dos maiores representantes da poesia simbolista no Rio Grande do Sul, movimento forte naquele Estado.

1878-03-03 Mostardas RS
1915-03-07
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A uma Velhinha

No dia de Natal

Boas festas, velhinha! Eu te dou boas festas,
nestes versos que faço à glória dessas cãs
lavadas pelo pranto, as tuas cãs honestas,
— lindo corado ao sol de trinta mil manhãs.

Consente que eu te beije as mãos mumificadas,
trêmulas de sentir o frio dos desenganos;
mãos secas, espetrais, tiritantes, cansadas
de tanto abençoar durante oitenta anos.

E tomem essas mãos — camélias fenecidas,
que ora o amor elevou, quais ramos de oliveira,
ora o ódio agitou, crispadas, contraídas —
os versos em que evoco a tua vida inteira.

Já no tempo em que os teus cabelos foram pretos
e se usavam bandós, e os toucavas de flores,
um poeta de então fizera-te uns sonetos.
onde muito falava em — olhos sonhadores!

Inda os sabes de cor! — Os netos que os confrontem
com os versos de agora... E pões-te a recitar...
Bons tempos!... E parece entanto que foi ontem...
Não te podes conter... e ficas a chorar...

Choras... Que a tua vida é uma flor em desfolhos...
Sonhavam, velam hoje os teus olhos tristonhos.
Os sonhos, noutro tempo, erravam nos teus olhos;
os teus olhos, agora, é que erram pelos sonhos...

(...)


Publicado no livro Via Sacra (1902).

In: GAMA, Marcelo. Via Sacra e outros poemas. Posfácio de Álvaro Moreyra. Rio de Janeiro: Ed. da Sociedade Felippe d'Oliveira, 1944. p.49-50

NOTA: Poema composto de 20 quadra
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