Sebastião Uchoa Leite

Sebastião Uchoa Leite

Sebastião Uchoa Leite foi um poeta, ensaísta e tradutor brasileiro.

1935-01-31 Timbaúba PE
2003-11-27 Rio de Janeiro
18688
0
1


Prémios e Movimentos

Jabuti 1980Oceanos 2003

Alguns Poemas

O observador privilegiado

O espólio intelectual de Alexandre Eulálio, que vem surgindo em publicações post-mortem, entre as quais o substancial Livro Involuntário, seleção de Carlos Augusto Calil e Maria Eugenia Boaventura, revela-se precioso. Os organizadores, pela inteligente classificação do material, surpreenderam a ordem secreta na aparente aleatoriedade dos múltiplos interesses eulalianos. As oito partes são precedidas pelo texto A Imaginação do Passado e complementadas por posfácio, notas e índices. Assim, o espírito meticuloso do autor parece homenageado: nos detalhes obsessivos, distingue-se o mestre de um método oculto.
A Imaginação do Passado defende uma organicidade subterrânea de escritos ocasionais, mas estes não se contrapõem ao que o autor chama de nobre gueto universitário. Ele defende as mediações e nega a oposição maniqueísta entre modos de operar diversos. Defende ainda que análise formal e interpretação histórica se defrontem numa instância dialógica, que anularia os feixes de intersecção de diacronia e sincronia. Contra as generalizações, Alexandre exige ainda referenciamentos objetivos e aparato filológico, chegando ao corolário: A abrangência da história intelectual como história das formas é antes de mais nada história das idéias. Nessa utopia, enxerga o perfil ideal da crítica.
Os interesses plurais de Alexandre podem ser rastreados através das várias partes da publicação. A primeira, Crônicas do Brasil, parte do começo dos começos, a carta de Pero Vaz de Caminha, cujo cine-olho, segundo o autor, o identifica como um Flaherty quinhentista. Nesse deslocamento metonímico, comparando Caminha ao documentarista cinematográfico, se espelha um dos aspectos do método eulaliano de aproximação crítica. Do mesmo modo, quando aborda uma das suas paixões, o livro Minha Vida de Menina, de Helena Morley, retira uma lição crítica de evocações descritivas da inglesinha. Naquele livro se surpreenderia um interesse sociológico como crítica ao ambiente da província, onde coexistiam dois mundos culturais divergentes (o britânico protestante-liberal e o ibero-católico, mal saído da escravidão) que se contemplam e se julgam no interior de um eu tornado harmonioso pelo equilíbrio mesmo das suas contradições.
É este método de se retirar lições que se manifesta ainda, na seção Desejo de História, nos vários retratos de Tiradentes, que se torna apenas a tragédia individual de um homem, que seria ainda mais imponente dentro de suas limitações, observação que poderia caber também ao perfil de Tomás Antonio Gonzaga, logo adiante. Observe-se ainda a extrema isenção quanto ao prisma ideológico quando se refere ao folhetim de Joaquim Felício dos Santos, As Páginas do Ano de 2000, uma das mais violentas sátiras escritas ao reinado de Pedro 2º. A capacidade de dissociar valores crítico-literários e valores históricos, sem entrar num juízo pessoal, seria mesmo um dos melhores atributos críticos de Alexandre Eulálio.
Esta isenção se emaranha ainda em maior complexidade quando trata da personalidade dúplice de Paulo Prado, que conciliava um apaixonado da pesquisa histórica e um entusiasta de movimentos artísticos de vanguarda. O Retrato do Brasil seria próspera sementeira de questões e problemas, que se revelaria como um valor em si mesmo.
Os textos de uma coluna em O Globo em 1965 estão em Matéria e Memória, título que evoca o filósofo Henri Bergson. É matéria filtrada pela memória, passando pelo filtro de Marcel Proust, para o qual mais se inclinaria o autor. As admirações envolvem do irônico estilista mexicano Júlio Torri e os seus aforismos satíricos, passando pelo louvor de Bocage, ou, antes, os vários Bocages que o autor conheceu, e chegando ao Artur Azevedo da revista teatral O Tribofe, óculo de alcance de um observador privilegiado. Destaque-se a nota sobre Thomas de Quincey e o seu Confessions of an English Opium Eater, que revela o apego do crítico às pesquisas de um imaginário em liberdade, em contraposição a convenções da época e preconceitos do próprio De Quincey.
No centro do livro, Talento Maior nos revela um Alexandre talvez inesperado para os que não o conheceram, voltado para questões interpretativas genéricas. Em Noble Brutus, o que importa é o dilema psicológico entre o homem privado e o público, o novo conceito de liberdade e o conceito grego de predestinação conciliados e, enfim, a possibilidade de tudo fazer, que seria a grande contribuição de Shakespeare ao teatro moderno. Esta possibilidade é o centro da questão em O Édipo de Gide. Mais além do Édipo prometéico gideano, dividido entre a predestinação e a afirmação humana contra o deus, mais do que a questão literária entre liberdade & predestinação, o crítico vê o conflito real entre submissão e autoridade, simbolizado na luta de Édipo contra Tirésias.
Das ambiguidades, retira o autor a lição de que a solução para um problema proposto é só aquela solução e mais nada. Não há receitas genéricas. Disso pode-se pular para o extremamente particular, que é o poético no breve ensaio Maio em São Cristóvão. O poeta é Clarice Lispector no conto Mistério em São Cristóvão. Descrevendo-o, Alexandre se torna ele mesmo um crítico-poeta, ao propor que do cotidiano prosaico se passa para a ante-sala do desconhecido, através de uma imprevista colocação de peças no tabuleiro de xadrez.
As formas e relações violentamente novas criariam o clima de alucinação do conto clariceano. Ou seja, a ficção como química verbal, alquimia do verbo rimbaudiana.
Machado, as Mais das Vezes, reúne textos dedicados a um dos seus ídolos, Machado de Assis. Alexandre escolhe, com Esaú e Jacó em Inglês, o viés da visão de fora, um viés universalista para um Machado que abandonara os aspectos fundamentalmente éticos dos romances anteriores (Quincas Borba, Dom Casmurro) em favor de um realismo simbólico, que tinha raiz (na) fria maravilha que é o Brás Cubas. Esse viés prossegue em Aspiral Ascendente, pela visão de Jean-Michel Massa da formação jovem de Machado, onde se vêem transmutações (...) pouco perceptíveis a olho nu.
Em contraste com a pesquisa crítica de La Jeunesse de Machado de Assis, estão os quatro volumes de Vida e Obra de Machado de Assis, de R. Magalhães Júnior, com o seu enorme luxo de minúcias, ou seja, a lupa faiscante da história pequena (com h minúsculo: petite histoire). Contudo, o que mais o interessa é a paixão crítica, ao expor a argúcia de um crítico de fora, o inglês John Gledson em Machado de Assis: Ficção e História, desvendando no mestre a intrincada teia de alusões e referências do discurso ficcional. O breve estudo final, A Estrutura Narrativa de Quincas Borba, vê em Machado uma muito mais radical e duradoura denúncia contra imposturas e mistificações do tempo.
Notas de uma Agenda será, para certa classe de leitores, uma leitura de mais particular fascínio. Vêem-se evocações sartreanas a propósito de Cruz e Souza e sua negritude; o encontro do decadentista mineiro Severiano de Resende com Miguel Angel Astúrias e sua prosa impregnada da forma simbolista, e, por tabela, o encontro de Astúrias com James Joyce (entrevisto/observado com curiosidade numa vitrine de antiquário); o encontro de Carlos Felipe (Saldanha), criador do personagem Capitão Fantasma e uma velhinha que abominava toda poesia (Je la déteste, vraiment je la déteste); as minúcias linguísticas da Lição de Coisas de Carlos Drummond de Andrade e o seu inventário do atingir o sussurro do ptyx, arco mallarmaico, alegoria arbitrária (...) de significado ocluso; o pedido para se acentuar a última sílaba de Caniboswáld, comentário do Oswald canibal de Benedito Nunes, para não confundir Oswáld (de Andrade) e o assassino indigitado do primeiro Kennedy (Lee Ôswald), mas sim evocar o tempestuoso herói da Corinne, de Madame de Stael, e outras relações faiscantes pelo arguto jogo de referências e pelo discretíssimo humor eulaliano. Finalmente, anote-se que em Um Sentido Mais Puro (de Mallarmé) Alexandre revela nã
Sebastião Uchoa Leite (Timbaúba PE, 1935) publicou Dez Sonetos sem Matéria, seu primeiro livro de poesia, em 1960. Na época, já integrava o grupo que realizou a revista Estudos Universitários com Luiz Costa Lima. Dois anos depois, formou-se bacharel em Direito e Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco. Nos anos seguintes foi professor da Escola de Biblioteconomia da UFPE e orientador do Suplemento Literário do Jornal do Comércio. Entre 1966 e 1995 publicou os livros de ensaios Participação da Palavra Poética, Crítica Clandestina e Jogos e Enganos, além de traduzir obras de A. M. Krich, Angelo M. Ripellino, François Villon e Julio Cortázar, entre diversos outros. Em 1970 trabalhou em enciclopédias sob a chefia de Antonio Houaiss e Otto Maria Carpeaux. De 1976 a 1990 foi editor no Serviço Nacional de Teatro, no Rio de Janeiro; em 1986, tornou-se responsável pelo setor de edições do Instituto Nacional de Setor de Artes Cênicas. Recebeu, em 1980, o prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Antilogia. Na década de 1990 foi funcionário do Arquivo Nacional e do Ibac (Instituto Brasileiro de Arte e Cultura) e coordenador de Editoração do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Conquistou o Prêmio Jabuti de Tradução, em 2001, pelo livro Poesia de François Villon. Sua obra poética, de tendências contemporâneas, abrange os livros Isso Não É Aquilo (1982), Obra em Dobras, 1960/1988 (1988) e A Espreita (2000), entre outros. Sobre Obra em Dobras, o crítico João Alexandre Barbosa afirmou: "soltando as suas cobras, como diz Sebastião num dos poemas deste livro, o poeta afirma uma obra que já se identifica como das melhores na poesia brasileira contemporânea.".
Sala Paulo Freire - abril/ 2023 - Frederico Barbosa fala sobre a obra de Sebastião Uchoa Leite.
PALAVRA DE POETA Sebastião Uchoa Leite
Sebastião Uchoa Leite - Pequenas ideias fixas
Sebastião Uchoa Leite - Consciência Morta
Sebastião Uchoa Leite - Um Outro [Poema]
a doença na poesia de sebastião uchoa leite
Sebastião Uchoa Leite - Achtung! #Poema
Sebastião Uchoa Leite - Mínima Crítica [Poema]
Outro Esboço | Sebastião Uchoa Leite
Sebastião Uchoa Leite - Só a poesia nos Salvará
Poesia de Segunda 2016 | Sebastião Uchoa Leite
Hipertextos Intertextos Sebastião Uchoa Leite Reloaded - Leonardo Morais
"Antilogia (1960-2002)". De Sebastião Uchoa Leite.
SÉRIE "OUTROS AUTORES" (POR ANTÔNIO CUNHA): 90 – SEBASTIÃO UCHÔA LEITE: ODORES ODIOSOS I
Antimetodo 2 de Sebastião Uchoa Leite
Pouco a pouco: Sebastião Uchôa Leite
NO PLANETA DAS MOSCAS
"BALADA DA GORDA MARGOT"
SEBASTIÃO UCHOA, TÍTULO DE CIDADANIA
Menu de Poesia Frederico Barbosa. Parte 23: Frederico Barbosa VIII
Elizabeth Hazin - Com a Palavra o Escritor
Frederico Barbosa e Sérgio Vaz - A Letra da Rua - RUAS (2006)
Latin American Electronic Literature: Native languages, Translation and Dialogue Forums
oswaldo martins: antologia 82
Lewis Carroll - Um chá bastante louco
Menu de Poesia Frederico Barbosa. Parte 18: Frederico Barbosa III
Roberto Costa destaca passagem de Sebastião Uchôa pela DEMA
Sala Paulo Freire de maio/23, Piauí, a escritora Sérgia A. fala sobre o poeta Mário Faustino
Cabeça Ativa ENFERMIDADES [revista poética e temática - Costelas Felinas, editora artesanal]
"E pois coronista sou": formas virais de poesia - Eduardo Guerreiro B. Losso
oswaldo martins: antologia 37
Rodolfo Mata
Adolfo Montejo Navas
Stenio Johnny entrevista o Secretário Sebastião Uchôa - São Luís -MA
[SALA PAULO FREIRE] - Homenagens ao Rio Grande do Norte e à poeta Zila Mamede
Motorista filma descida de caminhão sem freio que bate em 13 veículos no Anel Rodoviário, em BH
MAESTRO JOSÉ MOLINA FOREVER
Janja após gestos em debate viralizar: "Bocejei na cara do inominável"
Composição Musical FSU Matheus Vitor
Cutrale, IMPÉRIO BILIONÁRIO DO AGRONEGÓCIO
"AVENTURAS DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS", de Lewis Carroll, com Teat(r)o de Encruzilhada
Caso Daniel Silveira: Lindôra ri ao ler trecho de texto que faz referência a Moraes
Michelle Bolsonaro diz onde estão os móveis do Palácio da Alvorada
Sebastião leite Fialho papai noel 2015
Lucas Evangelista-Tostão de chuva
Romario Leite Vs Lava Jato Cia Tercio Miranda Festa do Peão De Colorado 2017
SJNOTÍCIASMA/DELEGADO SEBASTIÃO UCHÔA REAGE ASSALTO E BOTA ASSALTANTES PRA CORRER
Consideraçôes finais Dr Eduardo Uchôa
Luciano Hang posta vídeo a favor do governo Lula
pala | Dheyne de Souza

Quem Gosta

Seguidores