Paisagem
à Cristina Pinchemel
Imagino que o dia está absolutamente perfeito.
Pelo vidro suave da janela,
o céu azul,
resplandescente,
ofusca qualquer pensamento vil.
Nas ruas,
as pessoas andam sorridentes e gentis,
com ensaios de "bom-dia",
"boa-tarde" e
"boa-noite".
Lá fora os ventos correm,
— brincando! —
como crianças num dia de sol,
embaraçando cabelos,
afagando folhas solitárias com suas doces carícias invisíveis...
O mar, verde como uma floresta virgem,
lança suas ondas de finas espumas sedosas,
e a areia ,
— ah! a areia!... —
com seus flocos dourados,
assiste a tudo,
inebriando-se...
E sinto!
Sinto a felicidade em mim,
tomando conta de toda a minha alma,
como se injetada por agulha fina, anestésica...
E o ar brinca em meu coração,
borbulhando todo o meu sangue,
numa taça profunda, de cristal...
O dia,
aos poucos,
vai desaparecendo por trás dos montes,
— verdes como o mar! —
dando luz e vida
a uma nova criança que está por nascer...
E a lua surge,
completa,
afiada,
seduzindo estrelas e puros corações.
Os vizinhos em suas varandas,
prestigiam um novo espetáculo.
E vão dormir felizes,
preenchidos por um calor que emana de cada um,
e com um misto de satisfação e ansiedade,
certos de um novo espetáculo,
que irá surgir pela manhã...
A vida não tem sentido,
se você não compõe sua própria paisagem...