semente
– j.
há uma semente aqui,
ela me disse,
e o tempo agora revela
um campo estéril
de tulipas mortas...
com as mãos vazias e sujas, penso:
não se pode semear
a névoa de medo e sonho
que precede o solo real,
por mais sedutora que seja.
é necessário transpô-la,
e isso demanda coragem.
também não basta semear
o solo perfeitamente tangível
e manter a armadura que limita
o alcance das mãos que cuidam,
é preciso deixá-la de lado,
e isso demanda coragem.
fazer valer a semente
demanda sempre muito amor,
e o amor demanda coragem,
muita, muita coragem
nesta terra de desterros.
porque o amor é sempre
o primeiro gesto de vulnerabilidade
diante da face da morte:
somente assim
pode-se não morrer;
é o coração exposto
que não sente medo
de buscar,
é o olhar calmo à espera da verdade,
é a força que nos põe à margem
da fenda abissal e nos faz apreciar
os infinitos tons de azul.
não subsiste onde suas raízes
ficam soltas ou feridas,
em reinos de resistência e podridão
onde imperam as distâncias,
preferindo ceder à ruína.
em campos assim
restam somente pétalas imaginárias.
e eu ouço,
sob o peso de minha exaustiva armadura,
os sussurros das pétalas:
através de poemas,
através de memórias já gastas.
numa voz disforme e ausente,
elas me dizem:
havia uma semente aqui.
há uma semente aqui,
ela me disse,
e o tempo agora revela
um campo estéril
de tulipas mortas...
com as mãos vazias e sujas, penso:
não se pode semear
a névoa de medo e sonho
que precede o solo real,
por mais sedutora que seja.
é necessário transpô-la,
e isso demanda coragem.
também não basta semear
o solo perfeitamente tangível
e manter a armadura que limita
o alcance das mãos que cuidam,
é preciso deixá-la de lado,
e isso demanda coragem.
fazer valer a semente
demanda sempre muito amor,
e o amor demanda coragem,
muita, muita coragem
nesta terra de desterros.
porque o amor é sempre
o primeiro gesto de vulnerabilidade
diante da face da morte:
somente assim
pode-se não morrer;
é o coração exposto
que não sente medo
de buscar,
é o olhar calmo à espera da verdade,
é a força que nos põe à margem
da fenda abissal e nos faz apreciar
os infinitos tons de azul.
não subsiste onde suas raízes
ficam soltas ou feridas,
em reinos de resistência e podridão
onde imperam as distâncias,
preferindo ceder à ruína.
em campos assim
restam somente pétalas imaginárias.
e eu ouço,
sob o peso de minha exaustiva armadura,
os sussurros das pétalas:
através de poemas,
através de memórias já gastas.
numa voz disforme e ausente,
elas me dizem:
havia uma semente aqui.
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