Recentemente descobri um quadro na estação de metrô que você iria adorar
Me fez lembrar aquele poema que recitamos durante toda madrugada e que nos fez
questionar sobre a química entre os corpos
e em como acontece uma alteração atômica em todo contato feito com os lábios que
amamos
Me fez acreditar nas coisas mais improváveis acontecendo
Como a velha ranzinza que serve o café com certa ojeriza no bar da rua que a sapataria
do senhor José funcionou por 50 longos anos
Sorrindo para todo cliente maltrapilho que adentra o lugar
Me fez imaginar uma realidade com Sylvia Plath feliz
E Sísifo, enfim, no topo da montanha, descansando sobre a grande Pedra
Milagres existem
E a vista dessa romaria tem ficado cada vez mais cintilante
Dizem que a estupidez insiste sempre
Como um hábito teimoso que impede a redenção
E me dei conta que há muito adquiri o bilhete para uma terra em que cacoetes são as
melhores das qualidades do homem
Como uma versão de Ícaro que escolheria, de novo e de novo, estar apaixonado pelo Sol
Pela eternidade dos minutos ao esplendor da luz à uma vida nas sombras
Meu dileto
Registramos uma mutação inquestionável na eletrosfera
Sem sequer outras pessoas saberem a respeito
Prótons e nêutrons agora se confundem
O perecível tornou-se perene
Com um beijo
Um quadro
E a lembrança de nós dois