José Afonso
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, foi um cantor e compositor português. É também conhecido pelo diminutivo familiar de Zeca Afonso, apesar de nunca ter utilizado este nome artístico.
1929-08-02 Aveiro
1987-02-23 Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal
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Alguns Poemas
Biografia
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Livros
Poeta, músico e cantor. José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos viveu parte da infância e adolescência entre Portugal, Angola e Moçambique. Veio, depois, para Coimbra, onde frequentou a Universidade. Obrigado a trabalhar antes de concluir a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, por dificuldades económicas, leccionou em diversas localidades do país. Datam desta época as suas primeiras canções. Grava o primeiro disco, Fados de Coimbra, em 1956 e o segundo, Balada do Outono, em 1960. No início da década de sessenta a poesia de participação mais directa na luta democrática contra a ditadura abeirou-se da comunicação com o grande público, o que corresponde a um dos aspectos mais significativos da crescente popularidade dos cantores-poetas. José Afonso passa a ser o pioneiro involuntário deste movimento, pelo maior empenho na participação que as suas canções sugerem, como também no apuro de uma sonoridade própria, com que acaba de revolucionar o fado tradicional de Coimbra. Os seus poemas-canções «Menino d'Oiro», 1962, e «Os Vampiros», 1963, marcam uma viragem na música portuguesa de raiz popular, mas também fazem dele o paradigma de toda a geração dos anos sessenta. Em 1964 volta a Moçambique como professor liceal, mas cedo as autoridades o molestam, enviando-o compulsivamente de Lourenço Marques para a Beira, por ter ousado dar aulas num centro associativo de negros. Regressado a Portugal em 1967, instala-se em Setúbal, onde lecciona por pouco tempo no Liceu, pois o regime expulsa-o do ensino oficial, acusado de «ideias subversivas». A partir desta altura as perseguições da polícia política caiem amiude sobre si. Para subsistir, dá explicações e inicia então uma vida de cantor-poeta errante que faz dele, no dizer de Bernardo Santareno, «o mais autêntico trovador do povo português». As suas canções tornaram-se então baladas referenciais da juventude anti-fascista portuguesa. Solicitado para dar recitais em colectividades de cultura e recreio, cineclubes, cooperativas e associações de estudantes, ganha uma dimensão que pessoalmente o surpreende, dada a modéstia da sua pessoa, apesar de continuar a ter de se socorrer de outros meios que não a profissionalização como cantor-poeta, para poder subsistir economicamente. Em Março de 1974, para subir ao palco do Coliseu de Lisboa, no I Encontro da Canção Portuguesa, organizado pela Casa da Imprensa, carece de autorização da polícia política, mesmo assim para cantar uma única canção, intitulada «Grândola Vila Morena», uma das poucas que não estava proibido de cantar em público. Em 25 de Abril de 1974, o MFA (Movimento das Forças Armadas) escolhe como senha para desencadear o movimento militar que pôs fim à ditadura exactamente esta última canção, difundida aos microfones da Rádio Renascença. Volta a Angola e a Moçambique, onde dá recitais, e percorre o país de norte a sul numa autêntica actividade militante, a cantar e a compôr, impedindo que a sua errância seja objecto de manipulações políticas. Dois chefes de Estado, após 1974, tentaram condecorá-lo com a Ordem da Liberdade, o que recusou, fiel à sua postura. Foi provavelmente um mito da geração dos anos sessenta e setenta, ou, como diz dele Urbano Tavares Rodrigues, «vemos agora com mais nitidez a originalidade dos seus poemas, tão profundamente ligados ao que de mais forte, directo e simultaneamente mágico há no povo e na sua tradição oral» (Jornal de Letras, 1992).