Autores Lista de autoresPoemas
Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cruz Cesar foi uma poetisa e tradutora brasileira, conhecida como Ana Cristina Cesar. É considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo da década de 1970, e tem o seu nome muitas ...

1952-06-02 Rio de Janeiro, Brasil
1983-10-29 Rio de Janeiro
53681
6
31


Alguns Poemas

19 de abril

Era noite e uma luva de angústia me afagava o
pescoço. Composições escolares rodopiavam,
todas as que eu lera e escrevera e ainda uma
multidão herdada de mamãe. Era noite e uma
luva de angústia... Era inverno e a mulher
sozinha... Escureciam as esquinas e o vento
uivando... Saí com júbilo escolar nas pernas,
frases bem compostas de pornografia pura,
meninas de saiote que zumbiam nas escadas
íngremes. Galguei a ladeira com caretas,
antecipando o frio e os sons eróticos povoando
a sala esfumaçada.

Fagulha

Abri curiosa

o céu.

Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,

coração ante coração,

inteiriça

ou pelo menos mover-me um pouco,

com aquela parcimônia que caracterizava

as agitações me chamando

Eu queria até mesmo

saber ver,

e num movimento redondo

como as ondas

que me circundavam, invisíveis,

abraçar com as retinas

cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria

(só)

perceber o invislumbrável

no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria

apanhar uma braçada

do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria

captar o impercebido

nos momentos mínimos do espaço

nu e cheio

Eu queria

ao menos manter descerradas as cortinas

na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia

que virar pelo avesso

era uma experiência mortal.

Olho muito tempo

Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas

Psicografia

Psicografia

Tambem eu saio à revelia

e procuro uma síntese nas demoras

cato obsessões com fria têmpera e digo

do coração: não soube e digo

da palavra: não digo (não posso ainda acreditar

na vida) e demito o verso como quem acena

e vivo como quem despede a raiva de ter visto

Samba-canção

Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica,
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz...

Sem você

Sem você bem que sou lago, montanha.
Penso num homem chamado Herberto.
Me deito a fumar debaixo da janela.
Respiro com vertigem. Rolo no colchão.
E sem bravata, coração, aumenta o preço.

Dias Não

Menos Dias

Chora-se
com a facilidade das nascentes
Nasce-se sem querer, de um jato, como uma dádiva
(às primeiras virações vi corações se entrefugindo todos
ninguém soubera antes o que havia de ser não bater
as pálpebras em monocorde

e a tarde
pendurada ro raminho de um
fogáceo arborescente
deixava-se ir
muda feita uma coisa ultima.

Deus na Antecâmera

Mereço(merecemos,
meretrizes)
Perdão(perdoai-nos, patres conscripti)
Socorro (correi, valei-nos, santos perdidos)

Eu quero me livrar desta poesia infecta
beijar mãos sem elos sem tinturas
consciências soltas pelos ventos
desatando o culto das antecedências
sem medo de dedos de dados de dúvidas
em prontidão sangüinária

(sangue e amor se aconchegando
horas atrás de hora)

Eu quero pensar ao apalpar
eu quero dizer ao conviver
eu quero parir ao repartir

Filho
Pai

E
Fogo
DE-LI-BE-RA-MEN-TE
abertos ao tudo inteiro
maiores que o todo nosso
em nós(com a gente) se dando

HOMEM: ACORDA!

Psicografia

Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube e digo
da palavra: não digo (não posso ainda acreditar
na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto

Que deslize

Onde seus olhos estão
as lupas desistem.
O túnel corre, interminável
pouco negro sem quebra
de estações.
Os passageiros nada adivinham.
Deixam correr
Não ficam negros
Deslizam na borracha
carinho discreto
pelo cansaço
que apenas se recosta
contra a transparente
escuridão.



Ana Cristina César (Rio de Janeiro RJ, 1952 - 1983) formou-se em Letras, em 1975; no ano seguinte, teve alguns de seus poemas incluídos na antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. Na época, já produzia ensaios e resenhas para periódicos como Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e Veja. Em 1980, viajou para a Inglaterra, onde estudou tradução literária na Universidade de Essex. Voltando ao Brasil, trabalhou como tradutora, enquanto seguia colaborando para jornais e revistas. Em 1982 sairia A Teus Pés, seu único livro de poemas publicado em vida. Sua obra póstuma inclui os livros Inéditos e Dispersos (1985), Escritos na Inglaterra (1988) e Crítica e Tradução (1999). Considerada uma das principais poetas da chamada "geração-mimeógrafo", Ana Cristina César caracterizou-se pela linguagem coloquial e por tematizar as coisas do cotidiano e a condição feminina, em uma obra fortemente autobiográfica, que apresenta tanto o bom-humor de poemas-piada como a melancolia de versos sobre a impossibilidade de viver.
Ana Cristina Cesar - Brasil Escola
ANA CRISTINA CESAR, CADÊ VOCÊ? #70anos
Saiba quem foi ANA CRISTINA CESAR #NósMulheres
Quem foi ANA CRISTINA CESAR I 50 FATOS
Conheça a história de ANA CRISTINA CESAR: poeta e crítica literária | MULHERES ADMIRÁVEIS
Vida e obra da poeta Ana Cristina Cesar - Jornal Futura - Canal Futura
A teus pés (Ana Cristina Cesar) | UNICAMP | Tatiana Feltrin
UMA LEITURA CONJUNTA DE ANA CRISTINA CÉSAR #1
A TEUS PÉS | Ana Cristina Cesar | Resumo + Análise
Para ler... Ana Cristina César
ANÁLISE DO POEMA "SONETO" - ANA CRISTINA CESAR - OBRA DO PAS/UnB 3ª ETAPA
Poética (Ana Cristina Cesar): um acontecimento na vida!
LENDO ANA CRISTINA CESAR AO VIVO | "Cenas de Abril" e "Correspondência Completa" #2
ANA CRISTINA CESAR por CAIO FERNANDO ABREU
Ana Cristina Cesar - Samba-Canção
CORRESPONDÊNCIA I Ana Cristina Cesar
Ana Cristina Cesar | Curta! Livro
Ana C., um ícone da poesia marginal
A POESIA DE ANA CRISTINA CÉSAR NOS PALCOS
Fagulha | Poema de Ana Cristina Cesar com narração de Mundo Dos Poemas
Bianca Comparato | Samba-Canção | Ana Cristina Cesar
Ana 60 Cesar | Debate
Heloisa Buarque de Hollanda sobre Ana Cristina Cesar
POEMAS DE ANA CRISTINA CESAR - VESTIBULAR UEM 2024
Flip 2016 - Chacal sobre Ana C.
AMOR MAIS QUE MAIÚSCULO I cartas de Ana Cristina Cesar
Flip 2016 - “De Clarice a Ana C.”, com Benjamin Moser e Heloisa Buarque de Hollanda (áudio original)
A TEUS PÉS de ANA CRISTINA CESAR | AULA DO LIVRO 2018 | Pandora Vestibulares
Flip 2016 - Clara Alvim sobre Ana C.
Armando Freitas Filho sobre Ana Cristina Cesar | Correio IMS
Samba-canção: Booktrailer de "Poética", de Ana Cristina Cesar
Documentário : Bruta Aventura em Versos
Especial FLIP: Ana Cristina Cesar - Poética
ANA CRISTINA CESAR na UNICAMP
A POÉTICA DE ANA CRISTINA CESAR I VEDA 26 #VRATATA
A teus pés, de Ana Cristina César - by Ju Palermo, com Tati Fadel e Sil Romani
A teus pés, de Ana Cristina César - by Ju Palermo, com Tati Fadel e Silvana Romani
Matéria especial sobre Ana Cristina Cesar | Homo Literatus
Resenha #173 Poética, de Ana Cristina César | Uma poeta pra frentex
Pedro Henrique Ramos | Samba Canção | Ana Cristina Cesar
PRIMEIRA LIÇÃO OS GÊNEROS DE POESIA SÃO: LÍRICO, SATÍRICO, DIDÁTICO(...) | ESTRUTURA DO TEXTO
Enem 2016 - Linguagens | Questão 113 (Caderno Rosa)
DESTINO: POESIA (Leminski, Ana Cristina Cesar, Cacaso e Wally Salomão
Ana Cristina Cesar + Billie Eilish
FLORES DO MAIS - Antônio Humberto & Ana Cristina Cesar
Cordelistas homenageiam Ana Cristina Cesar na Flip
a teus pés - ana cristina césar - resumo
Homenagem a Ana Cristina Cesar por Bruna Beber
Traduzindo Ana Cristina Cesar part01.f4v
Metrópolis: Flip

Ver também

-
wilson1970
me apaixonei pelos seus versos
09/março/2020

Quem Gosta

Seguidores