Álvaro Moreyra

Álvaro Moreyra

Álvaro Moreyra foi um poeta, cronista e jornalista brasileiro. Modificou voluntariamente o longo nome de família para Álvaro Moreyra, com y, para que esta letra "representasse as supressões" destes nomes.

1888-11-23 Porto Alegre RS
1964-09-12 Rio de Janeiro, Brasil
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Alguns Poemas

Elegia da Bruma

Réquiem do Pôr-do-Sol... A Tarde ajoelha e canta,
num mistério augural de cinza e de ouro vivo...
E o hospital, sob a Tarde, entre Árvores, levanta
o seu vulto de pedra, estranho e pensativo...

Ao incenso do Ocaso, a Paisagem parece
movimentar-se, orando, em gestos musicais...
É o silêncio que entoa harmonias de Prece
com a ignota orquestração dos mudos Vegetais...

Passos batem a estrada... E pela estrada, agora,
seguem ranchos buscando o sossego das casas...
Desaparecem... Vão... E ao misticismo da hora,
no ar silente, em quietude, andam saudades de Asas...

A escuridão aumenta... E há vozes... algazarras...
Das águas-verdes cresce um rouco cantochão...
Trilam grilos... E ao alto, as primeiras cigarras
despertam, respondendo... Aumenta a escuridão...

Súbito, em derredor, tudo se cala... E adiante,
ermo, queda o hospital como quem está ouvindo...
O Plenilúnio surge, em êxtase, distante,
branco, a Terra a abençoar... Vai subindo... subindo...

E à alva bênção da Luz, os contornos avultam
na precisão da Linha — hartos, a destacar...
Começa a Noite... E o Sono... E os Sonhos que sepultam
a Tristeza-da-Vida aos que podem sonhar...

E quando a claridade, em chapa, de repente,
cai sobre a frontaria, e a asperge, e a envolve, ondeando,
geme um órgão lá dentro, enevoado, dolente,
como se fora o Luar que estivesse tocando...

A Alma da Terra fala à vibração da Terra...
Espasmos de sofrer!... A Dor a sete tons!...
E ascende... e afunda... e ecoa... e pelos longes erra
um ritmo nebuloso, onde há sombras de sons...


Publicado no livro Legenda da luz e da vida (1911).

In: ZILBERMAN, Regina. Álvaro Moreyra. 2.ed. Porto Alegre: IEL, 1990. p.22-23. (Letras rio-grandenses
Álvaro Moreyra (Porto Alegre RS, 1888 - Rio de Janeiro RJ, 1964) publicou seu primeiro livro de poesia, Degenerada, em 1909. Na época já colaborava em periódicos gaúchos, entre os quais Jornal da Manhã e Correio do Povo. Em 1912 formou-se Bacharel em Direito no Rio de Janeiro RJ. Entre 1910 e 1939 foi colaborador na revista Fon-Fon e diretor das revistas Paratodos, Dom Casmurro, O Malho, e Ilustração Brasileira. Nas décadas de 1910 a 1930 publicou os livros de crônicas Um Sorriso para Tudo e Tempo Perdido, entre outros. No período de 1924 a 1958 publicou várias obras, entre as quais Cocaína e Havia uma Oliveira no Jardim. Em 1937 criou a Companhia de Arte Dramática Álvaro Moreyra. Em 1939, foi preso por motivos políticos, durante o governo de Getúlio Vargas. Entre 1942 e 1951 trabalhou como apresentador de crônicas, na Rádio Cruzeiro do Sul, e dos programas Folhas Mortas e Conversa em Família, na Rádio Globo, no Rio de Janeiro. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1959. Sua obra poética inclui os livros Casa Desmoronada (1909), Elegia da Bruma (1910), Legenda da Luz e da Vida (1911), Lenda das Rosas (1916), Circo (1929) e o póstumo Cada um Carrega o seu Deserto (1994). A poesia de Álvaro Moreyra filia-se à segunda geração do Modernismo e influenciou poetas como Carlos Drummond de Andrade. Sobre sua obra, a crítica Regina Zilberman afirmou: "permeável às transformações ocorridas na cultura e na sociedade, a obra de Álvaro Moreyra é, por esta razão, mutável, sinalizando a atenção do autor aos fenômenos de seu tempo.
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