Fora da História
Loucos
monumentos de pedra e tijolo
erguidos a deuses cruéis e a reis insanos
guerras inglórias, impérios exaustos
heróis, profetas e santos
todos povoam o passado,
gravemente.
Tudo é lógico, tudo está registrado em pedras, em papéis, em lendas,
explicam guias turísticos e professores de História
enquanto olhamos pela janela.
Os poderosos venceram batalhas, construíram impérios
massacraram, escravizaram, consolidaram reinos,
salvaram seus povos, fizeram palácios, muralhas e estradas,
sua glória final erguida em pirâmides para os mortos,
gigantescos palácios, templos para os deuses que os protegeram.
Os práticos venceram a Natureza drenando pântanos,
lendo os calendários escritos pelas estrêlas,
ensinando o cultivo de plantas,
construindo canais e cidades,
buscando a imortalidade na cura das doenças,
reescrevendo a superfície da Terra.
Os bons e sábios venceram o Mal,
falaram com a voz da santidade,
convertendo milhões com a sua dor e a sua palavra
(quando tudo isto já for vaga memória
e a maldade tiver reconquistado as almas,
poderemos ainda olhar suas estátuas de olhar solene
e seus coloridos vitrais).
Mas, mas, mas
e os apaixonados felizes,
os que faziam loucuras à espera de um olhar,
que não entendiam diferenças
entre noite e dia, entre sonhar e viver,
e sua felicidade, incontáveis gotas de chuva
a se armazenar em secretos lençóis,
onde estão as lembranças de seus feitos?
E os amargurados,
a olhar sem ver as ondas em algum cais,
a beber sem notar um vinho entre estranhos,
e suas lembranças, reflexos do sol no orvalho
que temem perder com o calor do dia,
doloridas farpas infeccionadas que lhes restam,
em que estranhos templos suas memórias repousarão,
que ruínas conhecerão as suas sombras?
Mas a História a êles não registra,
aos que atravessaram o ar com palavras,
suaves promessas eternas,
para que macias mãos pousassem nas suas,
aos que possuíam longos silêncios
que não conseguiam mais carregar,
quadros de tristeza e dor pintados dentro de si
com lágrimas há muito secas.
Não eram poderosos,
não eram práticos,
não eram bons nem sábios,
nada sabemos deles
mas os entendemos
e estes, sim
fizeram tudo.
monumentos de pedra e tijolo
erguidos a deuses cruéis e a reis insanos
guerras inglórias, impérios exaustos
heróis, profetas e santos
todos povoam o passado,
gravemente.
Tudo é lógico, tudo está registrado em pedras, em papéis, em lendas,
explicam guias turísticos e professores de História
enquanto olhamos pela janela.
Os poderosos venceram batalhas, construíram impérios
massacraram, escravizaram, consolidaram reinos,
salvaram seus povos, fizeram palácios, muralhas e estradas,
sua glória final erguida em pirâmides para os mortos,
gigantescos palácios, templos para os deuses que os protegeram.
Os práticos venceram a Natureza drenando pântanos,
lendo os calendários escritos pelas estrêlas,
ensinando o cultivo de plantas,
construindo canais e cidades,
buscando a imortalidade na cura das doenças,
reescrevendo a superfície da Terra.
Os bons e sábios venceram o Mal,
falaram com a voz da santidade,
convertendo milhões com a sua dor e a sua palavra
(quando tudo isto já for vaga memória
e a maldade tiver reconquistado as almas,
poderemos ainda olhar suas estátuas de olhar solene
e seus coloridos vitrais).
Mas, mas, mas
e os apaixonados felizes,
os que faziam loucuras à espera de um olhar,
que não entendiam diferenças
entre noite e dia, entre sonhar e viver,
e sua felicidade, incontáveis gotas de chuva
a se armazenar em secretos lençóis,
onde estão as lembranças de seus feitos?
E os amargurados,
a olhar sem ver as ondas em algum cais,
a beber sem notar um vinho entre estranhos,
e suas lembranças, reflexos do sol no orvalho
que temem perder com o calor do dia,
doloridas farpas infeccionadas que lhes restam,
em que estranhos templos suas memórias repousarão,
que ruínas conhecerão as suas sombras?
Mas a História a êles não registra,
aos que atravessaram o ar com palavras,
suaves promessas eternas,
para que macias mãos pousassem nas suas,
aos que possuíam longos silêncios
que não conseguiam mais carregar,
quadros de tristeza e dor pintados dentro de si
com lágrimas há muito secas.
Não eram poderosos,
não eram práticos,
não eram bons nem sábios,
nada sabemos deles
mas os entendemos
e estes, sim
fizeram tudo.
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