Nem sempre vinham imperadores a nossos enterros
Nem sempre vinham imperadores a nossos enterros
naquele tempo
mas nunca deixamos nossos mortos insepultos
insepultos eram os temerários
que ousaram nossa terra e nosso punho.
O Padre Martiniano de Alencar, pai de José de Alencar, governava a província
in illo tempore
a província era governada por um padre endemoniado, adúltero, covarde e por covarde
invejoso dos bravos que troavam livremente o clavinote pelos pés-de-serra dos Mourões
do pé-da-serra
e emprenhavam suas fêmeas ao ar livre
e eram fortes e belos e bons.
Este papel amarelo é uma carta de seu tetravô: encomenda doze caixas de vinho
francês outras doze de cognac de la ville de Cognac
para a fartura de sua mesa de caitetus, marrecos e veados e atas
maduras graviolas silvestres, cajás, cajus, melancias e ananazes no país dos Mourões
e biscoitos de Jacobs, London,
para as mulheres de sua casa
e por essas fidalguias
o biltre do Alencar decreta:
seja afogado em sangue o país dos Mourões.
Meus engenhos foram queimados
queimados vivos os garrotes de meus currais
ainda hoje nossas terras cheiram
a carne assada a mel queimado
à la viande flambée
não se afogam na água os surubins
no sangue não se afoga a raça dos Mourões
alimento do amor e da bravura
deste vinho se nutre o coração dos puros
deste vinho venho vindo e vejo a vida
e busco sua uva e te chamo de novo
vem, formosa mulher, camélia pálida
que banharam de luz as alvoradas
vem com teus olhos verdes desvairados
ensinar o caminho das uvas
o fervor destas veias quer mais vinho
minha raça é a dos embriagados
minha profissão, meu estado civil: bêbado
residência não tenho: bebo, bêbado, exilado
do país dos Mourões
conspiro a volta e conspiro o Anschlusz
de todas as terras à Capitania de meu avô à sesmaria
de meu país
de Ipueiras a Stocolmo e de Palmares de Pernambuco à ilha grega
essas terras são minhas
sobre elas hei lavrado a escritura de meu canto
e vou lavrando a escritura de meu canto
e lavrando o tempo e o cedro de uma noite e de uma cama.
naquele tempo
mas nunca deixamos nossos mortos insepultos
insepultos eram os temerários
que ousaram nossa terra e nosso punho.
O Padre Martiniano de Alencar, pai de José de Alencar, governava a província
in illo tempore
a província era governada por um padre endemoniado, adúltero, covarde e por covarde
invejoso dos bravos que troavam livremente o clavinote pelos pés-de-serra dos Mourões
do pé-da-serra
e emprenhavam suas fêmeas ao ar livre
e eram fortes e belos e bons.
Este papel amarelo é uma carta de seu tetravô: encomenda doze caixas de vinho
francês outras doze de cognac de la ville de Cognac
para a fartura de sua mesa de caitetus, marrecos e veados e atas
maduras graviolas silvestres, cajás, cajus, melancias e ananazes no país dos Mourões
e biscoitos de Jacobs, London,
para as mulheres de sua casa
e por essas fidalguias
o biltre do Alencar decreta:
seja afogado em sangue o país dos Mourões.
Meus engenhos foram queimados
queimados vivos os garrotes de meus currais
ainda hoje nossas terras cheiram
a carne assada a mel queimado
à la viande flambée
não se afogam na água os surubins
no sangue não se afoga a raça dos Mourões
alimento do amor e da bravura
deste vinho se nutre o coração dos puros
deste vinho venho vindo e vejo a vida
e busco sua uva e te chamo de novo
vem, formosa mulher, camélia pálida
que banharam de luz as alvoradas
vem com teus olhos verdes desvairados
ensinar o caminho das uvas
o fervor destas veias quer mais vinho
minha raça é a dos embriagados
minha profissão, meu estado civil: bêbado
residência não tenho: bebo, bêbado, exilado
do país dos Mourões
conspiro a volta e conspiro o Anschlusz
de todas as terras à Capitania de meu avô à sesmaria
de meu país
de Ipueiras a Stocolmo e de Palmares de Pernambuco à ilha grega
essas terras são minhas
sobre elas hei lavrado a escritura de meu canto
e vou lavrando a escritura de meu canto
e lavrando o tempo e o cedro de uma noite e de uma cama.
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