O Pastor e Sua Aldeia

a Altino Caixeta de Castro

Eu creio que a eternidade nasceu na aldeia

Lucian Blaga

O ladrido infinito de um cão morto
nas vozes de outros cães é repetido

muito além, incessante ao nosso ouvido
mais além, muito além da voz de um cão

trago a lua no bolso e o sol na mão
e um rebanho de cabras e de estrelas

no desejo incomum de sempre tê-las
na distante lembrança de uma aldeia

pervagando a memória das areias
onde estrelas e cabras pastam sonhos

trago à sombra de alpendres breve sono
pressentindo o rangido da tramela

despertado ao contorno da janela
no silêncio imortal da noite fria

canta o galo, outra vez, e denuncia
(seu cantar tem a cor da lua cheia)

o prenúncio de um dia em outro dia
da eterna solidão - eterna aldeia.

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