Falas a Dioniso en Crise
I
Páginas não riscadas, muros não pichados,
paredes sorvidas em tintas unicores,
paisagem verde encostada na parede,
número nove paredes pintadas por
crianças multicoloridas que se
extravasam à parede e tecem-lhe
veias disformes e lamentando
o pouco sangue que lhes percorre
e como desejariam voar e tolher
ao espírito o vento mais alto.
Crianças choram, paredes choram,
lágrimas desusadas fecundam
óvulos dissolvendo-se evaporando-se
à temperatura da superfície e
enervando a eletricidade dos dedos;
escuta: dispara a seta e atingirás
o alvo. O que se pensa não se
determina. Termina tua estada
com glória e boa companhia.
Ecoam belos risos e os vejo
debocharem e persuadirem-se...
II
Deixe tocar tua mão... Apega-me
o teu calor. E agora que estou
agonizando, verto-me em frio
e luz opaca, rapto-te da memória,
desmancho-me e desmancho-te
em éter de outrora e agora
ficar acordado, agora permanecer
e ser longe de ti, éter comum!
Deixar-te é enfim um máximo de
beleza: agora és bela como os cegos
a vissem pela primeira vez: és tu
e não-eu és a mim e a ti juntos.
Ainda és e eu não sou mais que
isso: eu e tu. Despeço-me antes
que despedace-me a visão que
elegi como última: a que eu
realmente não sei...
III
O que pertubaria a tua consciência,
nesta tarde, neste minuto vesperal,
nesta canção, o que te pertuba?
Serão lembranças a te perturbar,
a afastar de ti a felicidade,
será o passado tão pesado que
não possa ser posto de lado
para o presente, tua memória
te esfalecendo a felicidade?
De que vale a vida, cheia de símbolos diversos,
se quem vale a vida é cheio de símbolo-fixo?
Expõe o passado à sua podridão e
à sua morte e verás como foge.
Paraste de pensá-lo e já escutas!
A música harmônica do vazio pe-
netra em ti para esvair-se e
repenetrar a tua energia nos
cúmulos e cônscios onipresentes.
IV
Se um dia precisar de proteção
contra o frio, já tenho o tapete,
que comprei no Seixas. Deus
me fez assim, Dioniso, procuro
sempre me converter, prezo fazer
acima de tudo e todo ter ou
saber. Prefiro a autenticidade
no homem e admiro nele sua
loucura lúcida e sua louca lucidez.
Sabe lá como não se faz o quê
constituir-se como não é ou é,
sendo assim ou não sendo assado.
Se precisar um dia de algo e não terei,
terei de fazer e tornar para fazer e ser depois,
se for a mídia que a compre e a tenha enclausurada.
Ninguém necessita minha proteção,
visto que cada um pode se proteger
sozinho; até eu não quero exércitos.
Se comprares algo, terás feito nas mãos.
Terás uma imagem nova para idolatrares...
V
Definitivamente eu sou um mutante;
não posso conter em mim o Adão que
compraz-se ver sua humanidade reinar,
quebrando degraus, saudando novas vias,
ao mesmo tempo que ruge a tradição
e amamos a tradição mais que tudo
ao esfumaçá-la e tornar-lhe nova
tradição que não susterá sequer um
grande ser que se movimenta, que
soluça por todo o Bem consumado
por si e por Tao, por mim e
por ti. Reina homem, mas conhece teus
estragos miserentos! Não podes manchar
tua humanidade com tão vil chaga!
Espera a embriaguez benévola, pacífico-guerreira.
A estupidez da desordem organizada.
A ens-vitae torna-se, o homem
torna-se, cada célula faz-se e
somos construídos para construir,
destruindo as velhas tábuas,
simbolizar o movimento, o moto-
-contínuo, Dioniso.
VI
Sinta-me: levemente esvoaço o tempo ao teu redor;
neste instante não me vês, mas estarei aí a roçar
tua pele e beijar teus cabelos, estarei agora
planejando uma visão desvirtualmente divina, tuas
mãos praguejam moscas impertinentes e me acaricias,
sem o saber, o vento que te rodeia é meu.
Oh! Diana, que mataste Actéon por ter visto tua beleza,
o que não farias se soubesses que tens um vigilante
cósmico, uma sentinela de tua respiração ofegante.
É the best part of the trip, the very best; ser
"companhia incesta amabilíssima elétrica ácida salutar"
é a viagem, movimento, a melhor parte...
Se olho o céu, se olho mesmo o céu, sol ou noite,
realmente não te vejo, mas vejo-te ao meu lado,
não na lua, teu maior espelho celeste, Deus;
vejo-te aqui como eu concentrado em ti e
cheirando tua pele, nessa carícia que ma faz
um vento que rodeia minha amada, Deusa.
Toque-me, veja-o ao vento que esvoaça teu ins,
éter-me-ei para sentir saudades do que não vi,
furtar-me-ão os sentidos, atolar-nos-ão no
racionalismo-idealismo, mas nunca a memória terá
sido importante, ¿nunca verei de novo o novo?
Ésse, essa letra sibilante, sss, como o ser
"novo atuante tórrido actus purus Adam filho".
VII
Talvez não seja sincero; pensar em ti tão cedo pode ser
uma deslavada coreografia da minha mente, que te deseja
próxima, que me permite acordá-la de madrugada, e
dentro do teu sonho dizer que te amo. Não,
não pode ser sincera, esta vontade que, rasgando
o peito imberbe, sangra-o facilmente à distância,
de te tornar companhia hodierna e na tua pre-
sença devo permanecer escutando o estrondo dos
vulcões sob sua pele, devo permanecer calado,
nessa extrema angústia que quer me levar por
baixo de tuas roupas, quer colar-me à tua pele.
Estás longe, perdida e vaga lembrança, cada vez mais
longe. Mas! como fazes, se não te esfumaças em
minha vã memória? Não consigo te matar-em-mim?
Não te amo sinceramente, estás longe, eu invento
uma doença que me matiamorte, sangro indiscreta-
mente, mas! como faço para esfumaçar-te em minha
vã memória? E se não estiveres só aí? E se dominas
algo em mim, algo que não pode ser chamado vão?
Estou com tendências à repressão neste território...
Mas pensar em ti tão cedo só poderia terminar confundindo
a mim e acordando o vizinho, para escutar-te a música.
O fato não foge à tendência tradicional de sonhar
a noiva antes do casamento, ou querer mais das
bebidas bacantes ou do néctar divino ou apenas lembrar que
há pouco nasceu o sol, já ontem choveu, há muito não
quero tanta solidão, me dói pensar-te e não tocar,
por isso farei-te a estátua; desejo adorá-la, enquanto estás longe.
VIII
Ah! criança selvagem brilhando no meio-dia nuestra vida.
Rasgarias meu coração, adoçarias minhas entranhas e
sacrificarias-me a algum Deus cruel sangüentino.
Emprestarias minh´alma como virtude ao Deus solar,
meu inimigo humano, meu pólo destruidor, meu degelo,
a morte dos meus amigos e amigas, varão coloquial.
Eu posso ver do vão pórtico teu fulgor, usurpo a ti
a energia que movimenta o vento e o círculo;
¿podes ser maior? Do tamanho de um pé, podes
insignificantizar-me? Podes deixar teu fulgor, Deus?
Um sempre-pronto, o semi-pronto-círculo, proto-Deus.
Gravita sobre mim, chegas-me à necessidade, sabes-me.
Teu sopro me acorda, teu vento quente me cerca e
desalmado arranca as epidermes, leva-as de mim, o
que não me possui, livra-me do frio, tirando-me.
Teu corpo suado liberta o meu, teu trabalho duro,
meu corpo semeado em tuas entranhas, os frutos
Páginas não riscadas, muros não pichados,
paredes sorvidas em tintas unicores,
paisagem verde encostada na parede,
número nove paredes pintadas por
crianças multicoloridas que se
extravasam à parede e tecem-lhe
veias disformes e lamentando
o pouco sangue que lhes percorre
e como desejariam voar e tolher
ao espírito o vento mais alto.
Crianças choram, paredes choram,
lágrimas desusadas fecundam
óvulos dissolvendo-se evaporando-se
à temperatura da superfície e
enervando a eletricidade dos dedos;
escuta: dispara a seta e atingirás
o alvo. O que se pensa não se
determina. Termina tua estada
com glória e boa companhia.
Ecoam belos risos e os vejo
debocharem e persuadirem-se...
II
Deixe tocar tua mão... Apega-me
o teu calor. E agora que estou
agonizando, verto-me em frio
e luz opaca, rapto-te da memória,
desmancho-me e desmancho-te
em éter de outrora e agora
ficar acordado, agora permanecer
e ser longe de ti, éter comum!
Deixar-te é enfim um máximo de
beleza: agora és bela como os cegos
a vissem pela primeira vez: és tu
e não-eu és a mim e a ti juntos.
Ainda és e eu não sou mais que
isso: eu e tu. Despeço-me antes
que despedace-me a visão que
elegi como última: a que eu
realmente não sei...
III
O que pertubaria a tua consciência,
nesta tarde, neste minuto vesperal,
nesta canção, o que te pertuba?
Serão lembranças a te perturbar,
a afastar de ti a felicidade,
será o passado tão pesado que
não possa ser posto de lado
para o presente, tua memória
te esfalecendo a felicidade?
De que vale a vida, cheia de símbolos diversos,
se quem vale a vida é cheio de símbolo-fixo?
Expõe o passado à sua podridão e
à sua morte e verás como foge.
Paraste de pensá-lo e já escutas!
A música harmônica do vazio pe-
netra em ti para esvair-se e
repenetrar a tua energia nos
cúmulos e cônscios onipresentes.
IV
Se um dia precisar de proteção
contra o frio, já tenho o tapete,
que comprei no Seixas. Deus
me fez assim, Dioniso, procuro
sempre me converter, prezo fazer
acima de tudo e todo ter ou
saber. Prefiro a autenticidade
no homem e admiro nele sua
loucura lúcida e sua louca lucidez.
Sabe lá como não se faz o quê
constituir-se como não é ou é,
sendo assim ou não sendo assado.
Se precisar um dia de algo e não terei,
terei de fazer e tornar para fazer e ser depois,
se for a mídia que a compre e a tenha enclausurada.
Ninguém necessita minha proteção,
visto que cada um pode se proteger
sozinho; até eu não quero exércitos.
Se comprares algo, terás feito nas mãos.
Terás uma imagem nova para idolatrares...
V
Definitivamente eu sou um mutante;
não posso conter em mim o Adão que
compraz-se ver sua humanidade reinar,
quebrando degraus, saudando novas vias,
ao mesmo tempo que ruge a tradição
e amamos a tradição mais que tudo
ao esfumaçá-la e tornar-lhe nova
tradição que não susterá sequer um
grande ser que se movimenta, que
soluça por todo o Bem consumado
por si e por Tao, por mim e
por ti. Reina homem, mas conhece teus
estragos miserentos! Não podes manchar
tua humanidade com tão vil chaga!
Espera a embriaguez benévola, pacífico-guerreira.
A estupidez da desordem organizada.
A ens-vitae torna-se, o homem
torna-se, cada célula faz-se e
somos construídos para construir,
destruindo as velhas tábuas,
simbolizar o movimento, o moto-
-contínuo, Dioniso.
VI
Sinta-me: levemente esvoaço o tempo ao teu redor;
neste instante não me vês, mas estarei aí a roçar
tua pele e beijar teus cabelos, estarei agora
planejando uma visão desvirtualmente divina, tuas
mãos praguejam moscas impertinentes e me acaricias,
sem o saber, o vento que te rodeia é meu.
Oh! Diana, que mataste Actéon por ter visto tua beleza,
o que não farias se soubesses que tens um vigilante
cósmico, uma sentinela de tua respiração ofegante.
É the best part of the trip, the very best; ser
"companhia incesta amabilíssima elétrica ácida salutar"
é a viagem, movimento, a melhor parte...
Se olho o céu, se olho mesmo o céu, sol ou noite,
realmente não te vejo, mas vejo-te ao meu lado,
não na lua, teu maior espelho celeste, Deus;
vejo-te aqui como eu concentrado em ti e
cheirando tua pele, nessa carícia que ma faz
um vento que rodeia minha amada, Deusa.
Toque-me, veja-o ao vento que esvoaça teu ins,
éter-me-ei para sentir saudades do que não vi,
furtar-me-ão os sentidos, atolar-nos-ão no
racionalismo-idealismo, mas nunca a memória terá
sido importante, ¿nunca verei de novo o novo?
Ésse, essa letra sibilante, sss, como o ser
"novo atuante tórrido actus purus Adam filho".
VII
Talvez não seja sincero; pensar em ti tão cedo pode ser
uma deslavada coreografia da minha mente, que te deseja
próxima, que me permite acordá-la de madrugada, e
dentro do teu sonho dizer que te amo. Não,
não pode ser sincera, esta vontade que, rasgando
o peito imberbe, sangra-o facilmente à distância,
de te tornar companhia hodierna e na tua pre-
sença devo permanecer escutando o estrondo dos
vulcões sob sua pele, devo permanecer calado,
nessa extrema angústia que quer me levar por
baixo de tuas roupas, quer colar-me à tua pele.
Estás longe, perdida e vaga lembrança, cada vez mais
longe. Mas! como fazes, se não te esfumaças em
minha vã memória? Não consigo te matar-em-mim?
Não te amo sinceramente, estás longe, eu invento
uma doença que me matiamorte, sangro indiscreta-
mente, mas! como faço para esfumaçar-te em minha
vã memória? E se não estiveres só aí? E se dominas
algo em mim, algo que não pode ser chamado vão?
Estou com tendências à repressão neste território...
Mas pensar em ti tão cedo só poderia terminar confundindo
a mim e acordando o vizinho, para escutar-te a música.
O fato não foge à tendência tradicional de sonhar
a noiva antes do casamento, ou querer mais das
bebidas bacantes ou do néctar divino ou apenas lembrar que
há pouco nasceu o sol, já ontem choveu, há muito não
quero tanta solidão, me dói pensar-te e não tocar,
por isso farei-te a estátua; desejo adorá-la, enquanto estás longe.
VIII
Ah! criança selvagem brilhando no meio-dia nuestra vida.
Rasgarias meu coração, adoçarias minhas entranhas e
sacrificarias-me a algum Deus cruel sangüentino.
Emprestarias minh´alma como virtude ao Deus solar,
meu inimigo humano, meu pólo destruidor, meu degelo,
a morte dos meus amigos e amigas, varão coloquial.
Eu posso ver do vão pórtico teu fulgor, usurpo a ti
a energia que movimenta o vento e o círculo;
¿podes ser maior? Do tamanho de um pé, podes
insignificantizar-me? Podes deixar teu fulgor, Deus?
Um sempre-pronto, o semi-pronto-círculo, proto-Deus.
Gravita sobre mim, chegas-me à necessidade, sabes-me.
Teu sopro me acorda, teu vento quente me cerca e
desalmado arranca as epidermes, leva-as de mim, o
que não me possui, livra-me do frio, tirando-me.
Teu corpo suado liberta o meu, teu trabalho duro,
meu corpo semeado em tuas entranhas, os frutos
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