Edmir Domingues

Edmir Domingues

Edmir Domingues da Silva foi um advogado e poeta brasileiro.

1927-06-08 Recife Pernambuco Brasil
2001-04-01 Recife
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Coroa dos sete pecados ou virtudes capitais

I - ORGULHO
Desse prazer que é apenas natureza
pode advir o orgulho da conquista.
Se orgulho é impulsão, essa imprevista
força que leva à frente. Que se preza

de ser o que constrói, deixada a reza
de lado, que apesar de ser benquista
por uns, é para outros a imprevista
petição recebida com frieza.

Quase sempre constrói um vago orgulho
que vem do fundo da alma, num marulho
de mar cansado, esfeito em verdes ondas.

Nascido, muita vez, de uma ansiedade,
(o novelo de antigas anacondas)
o orgulho de ser bom já é bondade.

II- INVEJA
O orgulho de ser bom já é bondade
que muita vez atrai despeito e inveja.
Mas inveja é virtude e há quem veja
que é impulso normal da humanidade.

Também constrói a inveja, desagrade
aos que só vêem pecado, os de alma aneja
que não possuam senso que preveja
que pode vir de ignota enfermidade.

Mas inveja até pode ser proveito
aquele a quem acaso endereçada
que sentiu que seu passo foi perfeito,

que a inveja que causou não foi nociva.
O invejoso invejou mas não foi nada.
Só é pecado a inveja corrosiva.

III - IRA
Só é pecado a inveja corrosiwa
que esta provoca a ira e o desconforto,
faz naufragar o barco já no porto,
faz nascer a vontade negativa.

No dia a dia deste mundo torto
onde vale talvez a tentativa
mais do que o resultado da saliva
das pregações, nos montes ou no horto,

não vale ver na ira o absoluto
mal, inda mesmo quando fere e assusta
no afã diário, o ritmo dissoluto.

Não é bom que esqueçamos a baraça
de Quem se viu tomado de ira justa
quando expulsou os vendilhões da Praça.

IV- PREGUIÇA
Quando expulsou os vendilhões da Praça
do Templo, Ele calmou-se, descansando,
pois fizera correr o triste bando
e a sua cupidez, sua desgraça.

Descansou, sem preguiça, se a arruaça
acabara, e era a paz. Novo comando
imperava. Mas se sentisse um brando
enfaro de preguiça, essa mordaça

interior, não seria nada estranho.
O “doce não fazer"pode ser justo
“ócio com dignidade”, justo ganho,

depois de afã contínuo, grande luta
em que se quis vencer a todo o custo,
preguiça na vitória após disputa.

V - AVAREZA
Preguiça na vitória após disputa
não é então pecado mas virtude.
A prodigalidade nunca ilude,
essa que é tão ruim quanto a cicuta.

Poupar é sempre bom, uma atitude
que o profeta do templo e o da gruta,
o primeiro aconselha, em resoluta
lição, e o outro exerce em mansuetude.

Quem trabalha, e o seu ganho muito custa
sabe emprestar valor a quanto ganha,
e o medo de perdê-lo sempre o assusta.

Se ao avaro uma perda mortifica
e ao pródigo o espalhar é sempre sanha,
o guardar ou gastar não significa.

VI - GULA
O guardar ou gastar não significa
nem a vida gulosa é condenada
sem um motivo forte. A terra arada
dá presentes ao homem, que o enrica.

As primícias da terra (a Terra amada,
um presente do Céu, que mortifica
o frugal que depende da botica
para ter a saúde desejada),

não podem ser pecado. O vinho doce
que nos desperta a fome dos sentidos
que o Criador nos deu, como se fosse

o seu sinal de amor à sua igreja
que ensina os apetites permitidos.
Amar não é luxúria, assim se veja.

VII - LUXÚRIA
Amar não é luxúria, assim se veja,
na grande intensidade que lhe marca
em toda a vida, até que venha a Barca
de Caronte, e nos leve, benfazeja.

Amar com força viva, na peleja
do edredom, do lençol que o duplo abarca,
é seguir todo o ensino do Nomarca
que mandou construir a sua igreja

e fazê-la crescer, multiplicá-la
a base de atrações e convivências
que podem ser um luxo, com certeza.

(Que não são acidentes mas essências
do natural preparo na ante-sala
desse prazer que é apenas natureza.
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