Violante do Céu

Violante do Céu, ou Violante do Ceo, nascida Violante Montesino foi uma religiosa e escritora barroca portuguesa. Seu pai era Manoel da Silveira Montesino e a mãe Helena da França de Ávila.

1601-05-30 Lisboa
1693 Lisboa
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Canção

Amante pensamento,
Núncio de amor, correio da vontade,
Emulação do vento,
Lisonja da mais triste soledade,
Ministro da lembrança,
Gosto na posse, alívio na esperança,
Já que de minhas queixas
A causa idolatrada vás seguindo,
Diz-lhe qual me deixas:
Diz-lhe que estou morta, mas sentindo,
Que pode mal tão forte
Fazer que sinta (ai triste!) a mesma morte.
Diz-lhe que é já tanto
O pesar de me ver tão dividida,
Que só me causa espanto
A sombra que me segue de üa vida
Tão morta para o gosto
Como via (ai de mi!) para o desgosto.
Diz-lhe que me mata
Quem, vendo-me morrer sem resistência,
De socorrer-me trata,
Pois para quem padece o mal de ausência
Que é só remédio entendo
Ver o que quer ou fenecer querendo.
Diz-lhe que a memória
Toma por instrumento do meu dano
A já passada glória,
Fazendo o mais suave tão tirano,
Que o bem mais estimado
Me passa o coração, porque é passado.
Diz-lhe que se sabe
O poder de üa ausência rigorosa,
Que a que começa acabe
Antes que ela me acabe poderosa,
Pois de tal modo a sinto,
Que julgo ter por eterno o mais sucinto.
Diz-lhe que se admite
Rogos de um coração que o segue amante,
Que ver-me solicite
Apesar do preciso e do distante,
E que tão cedo seja
Que toda a compaixão se torne inveja.
Diz-lhe que se acorde
De uns efeitos de amor que encarecia,
E que todos recorde,
Mas que seja um minuto cada dia,
Pois eu cada minuto
Infinitas lembranças lhe tributo.
Diz-lhe que até à morte
Assistência contínua lhe ofereces,
E que te invejo a sorte;
E enfim, se de meu mal te compadeces,
Ó pensamento amigo,
Diz-lhe tudo, ou leva-me contigo.
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