Face Morta

Trazes nas mãos o verso adormecido
que ao poente desce murmurante
trazes também a procissão dos atos
no amarelo ácido dos instantes

Quando circundam frestas e anseios
no peito pardo da mulher calada
águias e feras, vultos permanentes,
insistem em despertar a madrugada

Enquanto a vida acarícia a morte
vertidas lágrimas cristalizam a noite
espaços vagos por perdido amante
nutrem de solidão a cavalgada

E nos segredos dos cofres dos amores
a noite enclausura suas vítimas
no coito da manhã assassinada

Amores intermináveis vão rolando
na areia namorada da saudade
e beijos tombam em hálitos venenosos
beijando a face do horizonte amado

E o verso despe-se às escâncaras
mesmo existindo sentimentos amordaçados
e caem pétalas das orquídeas vespertinas
enquanto em silêncio fecham pálpebras
no útero da manhã que ainda dorme.

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