Vicente Franz Cecim

Vicente Franz Cecim é um escritor brasileiro.

1946-08-07 Belém
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Àquele que dorme sem sono

Os teus corpos, Um de Carne e Outro de Sombra,

envolve em óleos

pois são dois, e o segundo é mais real

É preciso ver num sonho

a paisagem das verdades

onde insetos vêm pousar em nossas mãos

Há palavras que os homens não dizem

Há águas tão amargas,

filho,

que se recusam a devolver às fontes

as antigas possibilidades musicais da espécie

Mas as luas da febre

estão passando

sobre os lugares onde a sombra humana ainda irá passar

Um longo caminho não é sinal de eternidade

Ninguém ainda foi ouvir o silêncio das estrelas

E não ter colhido o mel,

a um murmúrio de distância dos teus lábios,

salgou ainda mais as colméias eternas

É lenta a economia daqueles que aqui esquecem o sabor do sal

E há uns que temem a queda das unhas no inverno,

e há outros que pararam a vida

numa estação vazia

É preciso ir à paisagem das verdades: Insetos

pousariam

em nossas mãos: Os ouvidos humanos

são cavernas escuras

Agora nascerão raízes,

quando esperavas asas

E quem sabe um dia virão frutos

para te dar ao leite coagulado,

suficiente é ter nascido

Suficiente é ser a sede, pois só por isso se obteve

a dádiva

dos lagos e da gota de veneno

e um oceano de lágrimas

para encher os olhos de ternura

O que tu sabes de ti?

Somente que já vai começando a desaceleração do vento

em teus cabelos

A menos que desças no caminho, para colher as

imagens

que foram caindo da nossa memória,

estás perdido

A menos que subas, ao avistar uma montanha de

homens

que foram virados do avesso, os ossos por fora,

a carne por dentro,

e te prostres em adoração ao pó,
v
em que esses homens se tornarão?

Chama o vento com o ar dos teus pulmões

por amor às cinzas

Estas perdido

Entre a festa para receber,

com festa humana,

e uma esperança de ferrugens

Sob os sons das estrelas,

uma esperança de ferrugens

é o que te fere a sombra

e estás perdido

A melhor coisa que fazes

e a pior, será parar a circulação contínua da máquina

Prova uma gota do nosso sangue,

e aceita, sorrindo,

que isso aconteceu,

que foram caindo da nossa memória

a polpa e a seiva, tingidas de vermelho

Um futuro de rodas que já não rodarão

para as colheitas do destino

Entrega o nosso trem ao delírio de uma floresta

virgem a cada dia

E a voz que te diz isso:

ao menos uma vez

teremos o ferro do nosso dispensável coração

Então, por que não semear de mãos vazias?

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