Gilka Machado
Gilka Machado foi uma poetisa brasileira.
1893-01-01 Rio de Janeiro, Brasil
1980 Rio de Janeiro
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Particularidades 2
Tudo quanto é macio os meus ímpetos doma,
e flexuosa me torna e me torna felina.
Amo do pessegueiro a pubescente poma,
porque afagos de velo oferece e propina.
O intrínseco sabor lhe ignoro, se ela assoma,
no rubor da sazão, sonho-a doce, divina!
gozo-a pela maciez cariciante, de coma,
e o meu senso em mantê-la incólume se obstina...
Toco-a, palpo-a, acarinho o seu carnal contorno,
saboreio-a num beijo, evitando um ressábio,
como num lento olhar te osculo o lábio morno.
E que prazer o meu! que prazer insensato!
– pela vista comer-te o pêssego do lábio,
e o pêssego comer apenas pelo tato.
e flexuosa me torna e me torna felina.
Amo do pessegueiro a pubescente poma,
porque afagos de velo oferece e propina.
O intrínseco sabor lhe ignoro, se ela assoma,
no rubor da sazão, sonho-a doce, divina!
gozo-a pela maciez cariciante, de coma,
e o meu senso em mantê-la incólume se obstina...
Toco-a, palpo-a, acarinho o seu carnal contorno,
saboreio-a num beijo, evitando um ressábio,
como num lento olhar te osculo o lábio morno.
E que prazer o meu! que prazer insensato!
– pela vista comer-te o pêssego do lábio,
e o pêssego comer apenas pelo tato.
1906
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