Gonçalves Dias

Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro. Um grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como 'indianismo'.

1823-08-10 Caxias, Maranhão, Brasil
1864-11-03 Guimarães, Maranhão, Brasil
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Marabá

Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
— Tu és, me responde,
— Tu és Marabá!

— Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"

— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. —

Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."

— Meu colo de leve se encurva engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,
— Como um soluçado suspiro de amor! —

"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."

— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."

E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:

Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!

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Publicado no livro Últimos Cantos (1851). Poema integrante da série Poesias Americanas.

In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.
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Prémios e Movimentos

Romantismo
João
Me identifico bastante com Marabá, sou indigena desaldeiado, sou lido com branco e como indigena, simplesmente não sei o que sou, me aflige muito.
13/agosto/2024
Walquiria Gabrielle
Neste poema de Gonçalves Dias, podemos perceber que o eu-lírico é feminino, ela sofre por não ser aceita porque é uma mestiça branca, de olhos azuis, corpo com curvas e cabelos loiros e enrolados, ou seja, Marabá tem todas as características do padrão de mulher europeia. Então ela é rejeitada por sua tribo, especificamente pelos índios, que não a tomam como mulher por ela não ser parecidas com as outras índias.
24/fevereiro/2022
ana
sim ele e muito lindo
??????
13/novembro/2021
Ana
Lindo mesmo Ana Talyane
29/dezembro/2020
Ana Talyane
Mais eu também quero ter tan
29/dezembro/2020
Ana Talyane
Que poema bonito Que lindas palavras
29/dezembro/2020
Patrícia
Bonita as letras
27/dezembro/2020
Julio
Como faso para analisar esse poema, preciso para escola!!!
13/maio/2019

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