Murilo Mendes
Murilo Monteiro Mendes foi um poeta e prosador brasileiro, expoente do surrealismo brasileiro.
1901-05-13 Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil
1975-08-13 Lisboa
52418
1
14
Grafito para Ipólita
1
A tarde consumada, Ipólita desponta.
Ipólita, a putain do fim da infância.
Nascera em Juiz de Fora, a família em Ferrara.
Seus passos feminantes fundam o timbre.
Marcha, parece, ao som do gramofone.
A cabeleira-púbis, perturbante.
Os dedos prolongados em estiletes.
Os lábios escandindo a marselhesa
Do sexo. Os dentes mordem a matéria.
O olho meduseu sacode o espaço.
O corpo transmitindo e recebendo
O desejo o chacal a praga o solferino.
Pudesse eu decifrar sua íntima praça!
Expulsa o sol-e-dó, a professora, o ícone
Só de vê-la passar, meu sangue inobre
Desata as rédeas ao cavalo interno.
2
Quando tarde a revejo, rio usado,
Já a morte lhe prepara a ferramenta.
Deixa o teatro, a matéria fecal.
Pudesse eu libertar seu corpo (Minha cruzada!)
Quem sabe, agora redescobre o viso
Da sua primeira estrela, esquartejada.
3
Por ela meus sentidos progrediram.
Por ela fui voyeur antes do tempo.
4
O dia emagreceu. Ipólita desponta.
Roma 1965
Poema integrante da série Convergência.
In: MENDES, Murilo. Convergência, 1963/1966: 1 — convergência; 2 — sintaxe. São Paulo: Duas Cidades, 1970
A tarde consumada, Ipólita desponta.
Ipólita, a putain do fim da infância.
Nascera em Juiz de Fora, a família em Ferrara.
Seus passos feminantes fundam o timbre.
Marcha, parece, ao som do gramofone.
A cabeleira-púbis, perturbante.
Os dedos prolongados em estiletes.
Os lábios escandindo a marselhesa
Do sexo. Os dentes mordem a matéria.
O olho meduseu sacode o espaço.
O corpo transmitindo e recebendo
O desejo o chacal a praga o solferino.
Pudesse eu decifrar sua íntima praça!
Expulsa o sol-e-dó, a professora, o ícone
Só de vê-la passar, meu sangue inobre
Desata as rédeas ao cavalo interno.
2
Quando tarde a revejo, rio usado,
Já a morte lhe prepara a ferramenta.
Deixa o teatro, a matéria fecal.
Pudesse eu libertar seu corpo (Minha cruzada!)
Quem sabe, agora redescobre o viso
Da sua primeira estrela, esquartejada.
3
Por ela meus sentidos progrediram.
Por ela fui voyeur antes do tempo.
4
O dia emagreceu. Ipólita desponta.
Roma 1965
Poema integrante da série Convergência.
In: MENDES, Murilo. Convergência, 1963/1966: 1 — convergência; 2 — sintaxe. São Paulo: Duas Cidades, 1970
1358
0
Mais como isto
Ver também