Fontoura Xavier

Fontoura Xavier

1856-06-07 Cachoeira do Sul RS
1922 Lisboa
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Loura e Branca

I

Loura e branca, de lírio na brancura
Parece filha dum pincel divino!...
A gente, ao vê-la, lembra-se de Urbino
Tem ímpetos de pôr-lhe uma moldura.

Um garbo de velhice prematura
Nevou de leve a coma d'ouro fino...
Meneio e gesto lânguido e felino.
Firme e correta a linha da cintura.

Não sei quem fez daquilo um ser humano!
Sanzio, juntando um resplendor de aurora,
Faria a estância de seu gênio ufano!

Dante... não sei o que faria agora:
Mas Virgílio se a visse, o Mantuano
Fazia a Deusa que minh'alma adora!...

II

Eleva-me, arrebata-me os sentidos
Se a vejo ou se a contemplo um só momento!
De seu passo o mais leve movimento
Ecoa como um canto em meus ouvidos.

Ouço-lhe as formas, num deslumbramento,
A sonata do belo; e nos rugidos
Da cambraia e do linho dos vestidos
Vibram acordes de acompanhamento.

Todo seu corpo musical e adornos,
Na cadência dum ritmo que embala,
Estrugem na harmonia dos contornos!...

Caminha! — e o canto uníssono trescala,
Como por noites de langores mornos,
Toda a volúpia dum luar de opala!...


In: XAVIER, Fontoura. Opalas. Apres. Regina Zilberman. 5.ed. Porto Alegre: Centro de Pesquisas Literárias - PUCRS, 1984. p.75-76. Poema integrante da série Ruínas.

NOTA: Urbino = cidade natal do pintor italiano Rafael Sanzi
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