Fontoura Xavier

Fontoura Xavier

1856-06-07 Cachoeira do Sul RS
1922 Lisboa
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Flor da Decadência

Sou como o guardião dos tempos do mosteiro!
Na tumular mudez dum povo que descansa,
As criações do Sonho, os fetos da Esperança
Repousam no meu seio o sono derradeiro.

De quando em vez eu ouço os dobres do sineiro:
É mais uma ilusão, um féretro que avança...
Dizem-me — Deus... Jesus... outra palavra mansa
Depois de um som cavado — a enxada do coveiro!

Minha alma, como o monge à sombra das clausuras,
Passa na solidão do pó das sepulturas
A desfiar a dor no pranto da demência.

— E é de cogitar insano nessas cousas,
É da supuração medonha dessas lousas
Que medra em nós o tédio — a flor da decadência!


In: XAVIER, Fontoura. Opalas. Apres. Regina Zilberman. 5.ed. Porto Alegre: Centro de Pesquisas Literárias - PUCRS, 1984. p.69. Poema integrante da série Ruínas
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