Onde Há Fumaça

"dan steigt ihr als Rauch in die Luft"
(Paul Celan)

Fumaça alguma implica
memória, já que as coisas
se perdem na fumaça
que, assim, tampouco pode

tornar-se um monumento,
pois sendo transitória
nem mesmo homenageia
a transitoriedade.

Fumaça enquanto tinta,
embora branca (um branco
mais palidez de horror
que alvura de inocência),

serve talvez à escrita;
porém, não há destreza
que inscreva na fumaça,
como na pedra, um nome.

Quando a fumaça, quase
vegetativa, irrompe e,
traindo o genealógico,
assume aspecto arbóreo,

não cabe perguntar
acerca (onde há fumaça,
há cinzas) das raízes
mais fundas da fumaça.


In: ASCHER, Nelson. O sonho da razão. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993
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