Régis Bonvicino
Régis Bonvicino é um poeta, tradutor, antologista, editor e importante teórico da poesia brasileiro. É editor e um dos principais colaboradores da revista de vulto internacional Sibila.
1955-02-25 São Paulo, Brasil
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RB Resolve Ser Poeta
Nas páginas de "La Rosa Profunda"
descubro que escolhi
a mais curiosa das profissões humanas,
salvo que todas, a seu modo, o são.
Como os alquimistas
que buscaram a pedra filosofal
no azougue fugitivo,
farei com que as palavras comuns
— naipes marcados do tahur, moeda da plebe —
rendam a magia que foi sua
quando Thor era o nume e o estrépito,
o trovão e a prece.
No dialeto de hoje,
direi, de minha forma, as coisas eternas;
tratarei de não ser indigno
do grande eco de Camões.
Este pó(eta) que sou será invulnerável.
Se uma mulher compartilhar de meu amor,
meu verso roçará a décima esfera dos céus concêntricos;
se uma mulher desdenhar meu amor,
farei de minha tristeza uma música,
um alto rio que siga ressoando no tempo.
Viverei de esquecer-me.
Serei a cara que entrevejo e esqueço,
Judas que aceita
a divina missão de ser traidor,
Calibán no lamaçal,
um soldado mercenário que morre
sem temor e sem fé,
Polícrates que vê com espanto
o anel devolvido pelo destino,
serei o amigo que me odeia.
O Rubáiyát me dará o rouxinol
e os Texperts as palavras-espadas.
Máscaras, agonias, ressurreições,
desmancharam e mancharam minha sorte:
e, alguma vez, talvez agora,
eu seja Jorge Luis Borges.
In: BONVICINO, Régis. Más companhias: poesia, 1983/1986. São Paulo: Olavobrás, 1987.
NOTA DE RÉGIS BONVICINO: Tradução-encarnação do poema "Browning Resuelve Ser Poeta", de Jorge Luis Borges, do livro LA ROSA PROFUND
descubro que escolhi
a mais curiosa das profissões humanas,
salvo que todas, a seu modo, o são.
Como os alquimistas
que buscaram a pedra filosofal
no azougue fugitivo,
farei com que as palavras comuns
— naipes marcados do tahur, moeda da plebe —
rendam a magia que foi sua
quando Thor era o nume e o estrépito,
o trovão e a prece.
No dialeto de hoje,
direi, de minha forma, as coisas eternas;
tratarei de não ser indigno
do grande eco de Camões.
Este pó(eta) que sou será invulnerável.
Se uma mulher compartilhar de meu amor,
meu verso roçará a décima esfera dos céus concêntricos;
se uma mulher desdenhar meu amor,
farei de minha tristeza uma música,
um alto rio que siga ressoando no tempo.
Viverei de esquecer-me.
Serei a cara que entrevejo e esqueço,
Judas que aceita
a divina missão de ser traidor,
Calibán no lamaçal,
um soldado mercenário que morre
sem temor e sem fé,
Polícrates que vê com espanto
o anel devolvido pelo destino,
serei o amigo que me odeia.
O Rubáiyát me dará o rouxinol
e os Texperts as palavras-espadas.
Máscaras, agonias, ressurreições,
desmancharam e mancharam minha sorte:
e, alguma vez, talvez agora,
eu seja Jorge Luis Borges.
In: BONVICINO, Régis. Más companhias: poesia, 1983/1986. São Paulo: Olavobrás, 1987.
NOTA DE RÉGIS BONVICINO: Tradução-encarnação do poema "Browning Resuelve Ser Poeta", de Jorge Luis Borges, do livro LA ROSA PROFUND
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