Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.
1901-11-07 Rio de Janeiro, Brasil
1964-11-09 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que
pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um
galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar,
cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.
ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que
pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um
galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar,
cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.
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Genilda Borges
Amo esse poema, mas gostaria imensamente que ele estivesse completo.
É possível ?
Obrigada !
É possível ?
Obrigada !
15/novembro/2021
GRAÇA PINTO
ESSE POEMA NOS FAZ PERCEBER QUE É PRECISO PARAR UM POUCO PARA OLHAR PELAS NOSSAS PRÓPRIAS JANELAS, POIS NA CORRERIA DO DIA A DIA, ESQUECEMOS DE APRECIAR O QUE ACONTECE AO NOSSO REDOR E DESSA FORMA VIVER O SIMPLES, O COTIDIANO, O SER E ESTAR UNS COM OS OUTROS.
20/outubro/2021
CAROL
VERDADE. ADOREI O TEXTO
08/junho/2021
SOFIA
EU ADOREI O TEXTO E SEM FALA QUE A CECÍLIA É LINDA
08/junho/2021
ALANNA
EU AMEI MELHOR TEXTO DO MUNDO ??
08/junho/2021
Mayara
Texto eu olhava para as plantas para o homem para as gotas para água que caiam de seus dedos magros com coração ficava completamente feliz autora retrata uma imensa felicidade motivada pelo altitude do homem por que isso deixa a poesia ser feliz
03/junho/2020
edf
nao gostei conheci da pior forma
05/novembro/2019
Costanzo
Gostaria que fosse colocado o poema todo. Pode ser?
29/julho/2012
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Nossa! O que comentar de algum tão lindo!
Sem palavras.
Sem palavras.
29/fevereiro/2012