Sérgio Milliet

Sérgio Milliet

Sérgio Milliet da Costa e Silva foi um escritor, pintor, poeta, ensaísta, crítico de arte e de literatura, sociólogo e tradutor brasileiro. Foi também diretor de biblioteca, tendo dirigido a Biblioteca Mário de Andrade.

1898-09-20 São Paulo, Brasil
1966-11-09 São Paulo
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Alguns Poemas

Revolta

Em que pese a nossa revolta...
mas que somos nós!
mas que somos nós!

Terror dos olhos que se voltam para dentro,
impotência das mãos presas à vida.

Jamais aceitaremos essa lei terrível!
Mas que somos nós!
Mas que somos nós!

Pobre cousa agora sorridente
nesse descanso que não queria,
já sem problemas,
sem perspectivas,
já sem gritos para dizer do inconformismo,
barro que torna ao barro
em que pese a nossa revolta!

Como uma estufa se constrói um cérebro
e dentro desabrocha um pensamento,
flor de requinte
e se afinam as células sensíveis,
os olhos vêem mais longe
e fundo,
os ouvidos ouvem melhor,
distinguem Bach, Noel Rosa,
as narinas se adelgaçam
o tato se faz ligeiro
abre-se o coração em simpatia,
mas a morte está de atalaia
e eis que tudo se afoga em um pouco de sangue...

E que se creia em Deus!
E que se creia em Deus!

Mas Deus chama os melhores
em que pese a nossa revolta...
Ele se cerca dos mais puros
dos mais fortes e perspicazes,
Ele quer tropas aguerridas
de lúcidas almas que lhe possam ouvir
e entender os desígnios inescrutáveis.

Sim Deus chama os melhores
porque os criou para si próprio
frágeis mudas para o jardim celeste.
Ele os arranca desta terra negra e suja
nessa hora exata em que começam a florescer...

Ah! que somos nós!
apenas recipientes.
potes de faiança ou porcelana

e se vinga a semente plantada.
Ele colhe a flor
e transplanta a muda
em que pese a nossa revolta.

Jamais aceitaremos essa lei terrível,
essa lei inumana,
e que só justifica a metafísica.
Jamais a aceitaremos.
nós que somos de carne, ossos, sangue e vísceras,
nós que somos fraquezas e imperfeições,
solidão, angústias, esperanças malogradas.
Jamais aceitaremos o destino subalterno
de instrumentos de sua vontade.

Mas que somos nós!
Mas que somos nós!

Imagem - 01660007


In: MILLIET, Sérgio. Poema do trigésimo dia: versos... Il. Samson Flexor. São Paulo: Ind. Gráf. Brasileira, 1950

Carta à Dançarina

porque não tens olhos amantes
para te contemplarem esguia
dançando ao luar de maio,
um desafio brilha em teu olhar.
pés descalços na relva orvalhada,
queres ser livre e dançar,

não te iludas,
loucuras não libertam ninguém.
na comissura dos lábios
deixam um vinco de remorso e nojo;
de tristeza turvam-se os olhos
que desafiantes brilhavam.
antes apóia a tua mão na minha mão,
deixa que de ternura ela se aqueça
e a calma descerá no coração.

beiço de choro, insistes em dançar ao luar;
mas não entendem essa tua ânsia feminina
de transbordar da carne morena.
desafias inutilmente um mundo cego,
gente que não vê teu ventro magro.
desafias inutilmente um mundo distraído,
gente que não sente a doçura de tuas mãos,
a riqueza quente de teus lábios.
e um desafio brilha em teus olhos.

não te iludas,
não basta quebrar as cadeias
para alcançar a liberdade.
a uma prisão sucedem mil prisões:
a do vício, a do tédio, a do cinismo.
antes chega tua pele à minha pele,
e teus lábios entreabertos a meus lábios.
é pelo amor que te hás-de libertar,
é para o amor que poderás dançar
ao luar.

quando tudo morrer dentro de ti
quando tudo se fizer adubo
para a semente que em dia raro de inocência
o destino semear em tua alma,
a planta do amor vingará

dançarás em êxtase ao luar,
para olhos porém de saber ver,
para boca de saber gostar,
para coração de comungar.

sem loucuras nem remorsos,
olhos límpidos e pés ligeiros,
serás livre enfim
na prisão que então escolherás.


In: MILLIET, Sérgio. ... Cartas à dançarina. Il. Fernando Odriozola. São Paulo: Massao Ohno, 1959

O Poeta e a Guerra

As noites de amor são minutos
Mas só em você me refugio de você.
Azul cobalto, azul cerúleo, azul turquesa
Ultramarino
E verde e verde e verde e amarelo
As noites de amor são minutos
Chegam inchadas de esperança
Vão-se dobradas de saudades
Roxos da madrugada
Vagidos da primeira vida
Quando eu me canso de você
É em você que eu descanso
Onde estou? Quem sou eu?
No estupor do remorso
na exaustão da tarefa
no entusiasmo viril
na depressão e na lama
ora esponja sensível
ora pedra bonita,
diamante ou argila,
Ariel, Cáliban,
Onde estou? Quem sou eu?
Oh por mais que saia de mim,
é em mim que torno a cair,
o mundo gira, rodopia,
num expressionismo de fogo.
Quem pensa em amor, meu bem,
sem coberta e sem comida
quem pensa em amor, perdido
pelas estradas sem fim?
O quarto ruiu sob as bombas
o bosque do idílio queimou
todos os beijos se crestaram.
Encolho-me todo no canto
mais profundo de mim mesmo.
Aí é que encontro você
de novo e sempre você;
aí é que longe dos outros
posso gozar esse amor
sonegado ao ódio de todos,
posso ter essa riqueza
roubada à miséria de todos.
Oh bem da gente, arisco bem da gente,
agora que tenho você
bem presa dentro de mim,
irei deixar o mal alheio
libertá-la de mim e prender-me?
Fecho os olhos raivosos para o mundo
tampo os ouvidos ao fragor da guerra.
As noites de amor são minutos
vão-se dobradas de saudades...
Ah, plantaremos outros bosques
Ah, construiremos outro quarto
para os beijos que não crestaram...
E talvez então escapemos
à maldição da desgraça
contra os felizes do amor!
Azul cobalto, azul cerúleo, azul turquesa
Ultramarino...


Publicado no livro Oh! Valsa Latejante...1922/1943: poemas (1943).

In: MILLIET, Sérgio. Poesias. Porto Alegre: Livr. do Globo, 1946. p.142-143. (Autores brasileiros, 19
Sérgio Milliet (São Paulo SP, 1898 - 1966) fez os estudos primários e secundários em São Paulo e, em 1912, iniciou o curso de Ciências Econômicas e Sociais na Escola de Comércio de Genebra, concluído na Universidade de Berna (Suíça). Lá, foi colaborador e diretor da revista Le Carmel e publicou seus primeiros livros de poesia, Par le Sentier e En Singeant (1918). De volta ao Brasil, em 1922, participou na Semana de Arte Moderna. No ano seguinte colaborou com artigos e traduziu poemas dos modernistas brasileiros na revista francesa LUMIÉRE. Foi também colaborador nas revistas Klaxon, Terra Roxa, Revista do Brasil, Clima, entre outras, e nos jornais O Tempo, A Manhã e Folha da Manhã. Criou, com Oswald de Andrade e Afonso Schmidt, a revista Cultura. Entre 1935 e 1938 participou na elaboração do projeto do Departamento de Cultura da Prefeitura. Nomeado chefe da Divisão de Documentação Histórica e Social do Departamento de Cultura, reformulou a Revista do Arquivo Municipal. Ainda na década de 1930, atuou como crítico de arte e de literatura do jornal O Estado de S. Paulo. Nos anos de 1940 foi militante da Esquerda Democrática e candidato a vereador pelo Partido Socialista. No período de 1943 a 1959 foi diretor da Biblioteca Municipal de São Paulo, além de presidente da Associação Brasileira de Escritores e do Congresso Internacional de Críticos de Arte. Também foi o primeiro presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Em 1954, organizou a Cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade de Lausanne (Suíça). Poeta, cronista, tradutor, crítico, Sérgio Milliet foi um dos intelectuais brasileiros mais importantes do século XX. Sua obra poética, filiada à primeira geração do Modernismo, inclui os livros Poemas (1937), Oh! valsa latejante...1922-1943 (1943) e ...Cartas à dançarina (1959), entre outros. Para o crítico Francisco Alambert Júnior, "ao contrário da voga/nacionalista de vários matizes que tomou a cultura modernista, principalmente após a Semana, Milliet conservou sempre uma postura desconfiada e até mesmo irônica com a obrigatoriedade de se ter 'as coisas do Brasil' como material obrigatório para se pensar a modernidade, ao contrário do 'ufanista crítico' Oswald de Andrade (como o definiu Roberto Schwartz) ou do otimismo da brasilidade de Mário de Andrade.".
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