A NOIVA
Era final de tarde. Maio em flor! Os paus-d’arco coloridos se envergavam ao látego da brisa melodiosa e concupiscente, espalhando por todo o vale que se estendia para além da vista, o aroma suave de flores silvestres.
No cenário celestial e caprichosamente florido, tudo conspirava em favor daquele casal de amantes. No horizonte, o crepúsculo da tarde promovia um espetáculo de luz e de beleza que, aos poucos, ia dando lugar aos clarões frouxos e azulados da lua que já despontava na linha turva do nascente.
- Já é tarde, meu amor! Preciso ir – disse Doninha. Ver-nos-emos, amanhã.
Foram vários anos de romance e de encontros amorosos até que uma disputa por terras colocou as duas famílias em pé de guerra e de rivalidade, marcada por uma série de mortes e de assassinatos que se sucediam uns após os outros.
Fabrício, pressionado pela família, que temia vê-lo assassinado pelos rivais, viajara para longe de Doninha e a jovem não suportando a ausência do amante, encontrou na loucura uma forma de sublimar a solidão.
A partir daquele dia, Doninha não falava com mais ninguém, nunca mais fora vista nas festas e nos adjuntos, não reconheceu mais as amigas. Reclusa na sua torre de marfim, Doninha sonhava todos os dias com a volta do noivo.
Alguns anos mais tarde, Fabrício retornara às Porteiras Velhas e seu maior desejo era encontrar a amada, apertá-la nos braços, beijá-la sofregamente e tomá-la como esposa.
Naquele dia, o povoado se preparava para uma grande festa. No baile, Fabrício encontrou a amada que há muitos anos não saía de casa, mas que ao saber da volta do noivo, resolveu ir ao baile. Dançaram a noite inteira, beijaram-se, amaram-se, trocaram juras secretas de amor e ternas promessas de casamento.
No dia seguinte, Fabrício era só felicidades. Curiosos, os familiares indagaram-no o motivo de tamanha alegria e enquanto todos ouviam, atônitos, Fabrício contar, com riqueza de detalhes, o reencontro com Doninha, uma voz solene veio lá de dentro da camarinha:
- Isso só pode ter sido um sonho, meu filho, pois Doninha morreu há mais de dez anos!
E foi só então que contaram para Fabrício que, depois da partida dele, Doninha enlouqueceu, permanecendo por mais de dez anos trancada em casa. Durante esses anos todos, não falou com mais ninguém, alimentava-se mal, não se asseava mais, vivia isolada na sua torre de marfim até que, até que, num belo dia de sábado e para espanto de todos, Doninha amanhecera lúcida e disposta, tomara banho e fora à feira dos Altos de João de Paiva.
Sorridente, feliz e incontida, Doninha cumprimentava a todos. Voltou a reconhecer a todas as amigas e abraçava a todas que via num daqueles momentos em que a saúde costuma visitar o doente na véspera da morte e a sanidade retornar, brevemente, aos loucos, externando uma lucidez impressionante.
Era mês de maio – os pais de Doninha, que há muitos anos não saiam mais de casa para nada, vendo que a filha estava curada, resolveram ir à novena de Maria na casa de parentes da família. Doninha não fora alegando que ainda estava se recuperando da insanidade, mas que os seus pais ficassem tranquilos que ela já estava curada.
Convencidos, então, da cura da filha, os pais foram agradecer a graça alcançada.
Enquanto os pais estavam ausentes, Doninha tomara banho, perfumara-se toda, cobrira com pó de arroz as faces angelicais, passara batom nos lábios e, em seguida, se vestira de noiva.
Estava linda e radiante e ali no altar que a fantasia tresloucada lhe permitiu idealizar se untou com o óleo que havia comprado na feira dos Altos de João de Paiva e pôs fogo no próprio corpo, dando fim a uma vida de longo sofrimento e de interminável abstinência amorosa para gozar na ‘eternidade’ as bodas nupciais.
Desolados que ficaram com a tragédia, os pais de Doninha se suicidaram e o resto da família sumiu da localidade sem deixar paradeiro.
Fabrício, enlouquecido, chorava copiosamente, gritava e, em desespero, se batia todo, recusando-se a acreditar naquela história dos diachos e descabida e só se convenceu da verdade quando, chegando ao cemitério, mostraram-lhe o jazigo onde Doninha, sua amada, estava sepultada.
No cenário celestial e caprichosamente florido, tudo conspirava em favor daquele casal de amantes. No horizonte, o crepúsculo da tarde promovia um espetáculo de luz e de beleza que, aos poucos, ia dando lugar aos clarões frouxos e azulados da lua que já despontava na linha turva do nascente.
- Já é tarde, meu amor! Preciso ir – disse Doninha. Ver-nos-emos, amanhã.
Foram vários anos de romance e de encontros amorosos até que uma disputa por terras colocou as duas famílias em pé de guerra e de rivalidade, marcada por uma série de mortes e de assassinatos que se sucediam uns após os outros.
Fabrício, pressionado pela família, que temia vê-lo assassinado pelos rivais, viajara para longe de Doninha e a jovem não suportando a ausência do amante, encontrou na loucura uma forma de sublimar a solidão.
A partir daquele dia, Doninha não falava com mais ninguém, nunca mais fora vista nas festas e nos adjuntos, não reconheceu mais as amigas. Reclusa na sua torre de marfim, Doninha sonhava todos os dias com a volta do noivo.
Alguns anos mais tarde, Fabrício retornara às Porteiras Velhas e seu maior desejo era encontrar a amada, apertá-la nos braços, beijá-la sofregamente e tomá-la como esposa.
Naquele dia, o povoado se preparava para uma grande festa. No baile, Fabrício encontrou a amada que há muitos anos não saía de casa, mas que ao saber da volta do noivo, resolveu ir ao baile. Dançaram a noite inteira, beijaram-se, amaram-se, trocaram juras secretas de amor e ternas promessas de casamento.
No dia seguinte, Fabrício era só felicidades. Curiosos, os familiares indagaram-no o motivo de tamanha alegria e enquanto todos ouviam, atônitos, Fabrício contar, com riqueza de detalhes, o reencontro com Doninha, uma voz solene veio lá de dentro da camarinha:
- Isso só pode ter sido um sonho, meu filho, pois Doninha morreu há mais de dez anos!
E foi só então que contaram para Fabrício que, depois da partida dele, Doninha enlouqueceu, permanecendo por mais de dez anos trancada em casa. Durante esses anos todos, não falou com mais ninguém, alimentava-se mal, não se asseava mais, vivia isolada na sua torre de marfim até que, até que, num belo dia de sábado e para espanto de todos, Doninha amanhecera lúcida e disposta, tomara banho e fora à feira dos Altos de João de Paiva.
Sorridente, feliz e incontida, Doninha cumprimentava a todos. Voltou a reconhecer a todas as amigas e abraçava a todas que via num daqueles momentos em que a saúde costuma visitar o doente na véspera da morte e a sanidade retornar, brevemente, aos loucos, externando uma lucidez impressionante.
Era mês de maio – os pais de Doninha, que há muitos anos não saiam mais de casa para nada, vendo que a filha estava curada, resolveram ir à novena de Maria na casa de parentes da família. Doninha não fora alegando que ainda estava se recuperando da insanidade, mas que os seus pais ficassem tranquilos que ela já estava curada.
Convencidos, então, da cura da filha, os pais foram agradecer a graça alcançada.
Enquanto os pais estavam ausentes, Doninha tomara banho, perfumara-se toda, cobrira com pó de arroz as faces angelicais, passara batom nos lábios e, em seguida, se vestira de noiva.
Estava linda e radiante e ali no altar que a fantasia tresloucada lhe permitiu idealizar se untou com o óleo que havia comprado na feira dos Altos de João de Paiva e pôs fogo no próprio corpo, dando fim a uma vida de longo sofrimento e de interminável abstinência amorosa para gozar na ‘eternidade’ as bodas nupciais.
Desolados que ficaram com a tragédia, os pais de Doninha se suicidaram e o resto da família sumiu da localidade sem deixar paradeiro.
Fabrício, enlouquecido, chorava copiosamente, gritava e, em desespero, se batia todo, recusando-se a acreditar naquela história dos diachos e descabida e só se convenceu da verdade quando, chegando ao cemitério, mostraram-lhe o jazigo onde Doninha, sua amada, estava sepultada.
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