SERAPHIM [Manoel Serrão]
Ó d'ingrata o labéu, errância, desdouro confeito infiel, inda que amargue-me com oo vosso fel.
Ostento em terra os pés, do que sê-lo "céu", e o servil no "paraísio" do teu bordel.
Não! Não sou o Pégaso, nem o Ego alado “solipso” dos vossos desenfastos.
Não! Não sou a verme, nem a rês do canzil, a marca à ferro dos vossos cobiçados.
Não! Não sou a presa inútil no calabouço da vossa purga, nem o surto de Tântalo o suplício:
Ora tão perto e, ora distante, tornado a pedra agastada do vosso anel.
Ó vês, sei d’Eu tanto quanto mais sei do que sei, e quem sou,
E do que sei, não sabendo, eu, assim como não sei, quem não sou:
Ora cheio de nãos, outras vaguezas de sins?
Ser afim, de per si, assim: solitude soluçada, queiras ou não?
Inda A insita liberta da minha orbe calejada.
Inda A gota suicida estilada, clara, tão útil, tão alma, tão cava na bátega afogada.
Inda O papel crepom azul, ora leve brisa sul, ora plúmbico céu encrespa, sob o manto celeste dos meus ceos.
Anjo ardente de mim, Seraphim! Sou o meu único e, insito fim.