Maria Antonieta Matos
Maria Antonieta Rosado Mira Valentim de Matos - MARIA ANTONIETA MATOS, nasceu em 1949 em Terena, Concelho de Alandroal e reside em Évora, Alentejo, Portugal
TROVAS AO VENTO
Ao vento, espalho as mágoas,
Que trago dentro de mim,
Porque o vento chama as águas,
Que determina que as mágoas,
No meu peito cheguem ao fim.
O vento canta e a assobia,
Tudo leva à sua frente,
Nos muros se refugia,
Desmaiado de contente.
Tão doido que é o vento,
Que desfralda as folhas no ar,
Deixando nua, a árvore ao relento,
Como se estivesse a brincar.
Não há força que te aguente,
Ó vento quando te assanhas,
Enfureces e levas rente,
Tudo aquilo que apanhas.
Com tão grande ventania,
Teus cânticos sacodem as flores,
Um sentimento de poesia,
Pelas vestes das tuas cores.
O vento leva sentado,
No selim do seu cavalo,
O corpo tremelicado,
Sem rédea para segurá-lo.
A nuvem sente nos ombros.
O peso do seu caminho,
Enchendo o céu de assombros,
Com o vento em remoinho.
No chão chiam a rodopiar,
O encanto colorido,
Que o vento faz a assoprar,
Numa sonata ao ouvido.
Com o mar brigas às vezes
Fazes tremendo chinfrim,
Que ao longe soam-me vozes,
Parecendo chamar por mim.
Vento suão que feres,
As entranhas do meu ser,
Como punhais interferes,
No corpo dorido a morrer.
Vento brando que o sol aquece,
Que beija doce o meu rosto,
Que faz sonhar, adormece,
Um sono pesado, um encosto.
Vento que folheias o livro,
Que embevecida, estou a ler,
Como se estivesse proibida,
Folheias, folheias por querer.
Com a dor tão pesarosa,
Gritam trovões a estrondar,
Dos teus olhos correm lágrimas,
Como rios a desaguar.
Maria Antonieta Matos 13-05-2016