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Daniel Smuler foi/é um poeta de Porto Alegre, Brasil, onde sempre morou. É autor de um livro ("Asilo e Anonimato", de 2020), editado de forma independente. Também é autor de outro livro, ainda não concluído; e até é possível, por que não?, que se torne autor de outros mais.
Maciço facial ósseo
Alucino. Me transito.
Me transmigro, impossível:
às cegas sorrateiro,
sombriamente ao sol,
tangendo o violão do inútil.
O crânio assomando e sumindo,
e de novo assomando (lúdico?)
nas janelas da razão,
sem qualquer serventia nem dó.
Alucino, sim. Me transmito
a intratáveis jogos e mitos.
Tosco e perdido, eu grito –
e sou faísca e goma e pó.
Assim só, de litro em litro,
com um pé na masmorra
e o outro no delito.
Me transfiguro, improvável:
ao céu sem deus,
relampejante sob tetos,
caçando o coelho da contradição.
Alucino. Me desfaço
em hino, em faca,
quietude barata ou estrondo.
Traço o quadrado redondo.
O crânio, ainda, piscando
no breu mais longo,
e eu andando e andando.
Acordo. Me transmito,
a mim mesmo ou a outro bicho,
não sei, mas impossível:
batendo nas teclas dum piano invisível.