Azulzinho


Hoje acordei azul. 

Sim, azul, 

azulzinho, 

azulão, 

A-Z-U-L. 

azul da cor do mar.

Foi um despertar normal

como todos os outros dias antes desse.

Levantei da cama

como faço todas as manhãs

como todos os dias antes desse

Dei uma looonga espreguiçada como faço

como todos os dias antes desse

e me encarei no espelho. 

como todos os dias antes desse

E lá estava eu, como sempre

como todos os dias antes desse

Mao ao contrário de todos os dias antes desse

Eu estava azul

Sim, azul!

Azulzinho!

Azulão!

A-Z-U-L!

azul da cor do mar!

um ser azul,

descabelado e nu

e azul em pelos

Por alguns instantes, fiquei parado, apenas me olhando. 

Pensei que ainda estivesse sonhando, preso em alguma fantasia surreal que minha mente perturbada produziu

Mas era realidade 

crua e azulada diante dos meus olhos

Comecei a me esfregar freneticamente, 

E nada acontecia

o azul permanecia ali, teimoso e vibrante, como se sempre estivera ali, impregnando minha pele.

Passei as mãos pelo rosto, pelo pescoço, pelos braços. Olhei minhas mãos, e elas também estavam envoltas de azul,

Fui ao banheiro, 

tomei um banho, mas o azul não saiu 

passei todos os shampoos, cremes, sabonete líquido e hidratante na pele, mas o azul não saiu

Escovei os dentes, mas o azul não saiu 

olhei no espelho, e lá estava eu, ainda azul. 

Depois de uma hora desisti de lutar contra isso e, ao invés de entrar em pânico

decidi aceitar o azul que me envolvia. 

Saí de casa, meio constrangido, meio curioso.

 As pessoas na rua olhavam, alguns disfarçadamente, outros sem pudor algum.

Eu sorria amarelo, ou melhor, azul. 

Eles me lançavam olhares confusos, alguns com um leve ar de preocupação. 

Uma senhora fez o sinal da cruz ao passar por mim.

As crianças riam ao me ver algumas corriam para longe

No trabalho, tentei agir naturalmente, como se ser azul fosse algo comum. 

Alguns colegas perguntaram se eu estava me sentindo bem. "Yes, Just a little blue Today.", respondi com um sorriso forçado. 

Todos ficaram mais confusos ainda.

Durante o dia, comecei a me acostumar com a ideia de ser azul. 

Era diferente, era estranho, mas também tinha seu charme.

À noite, ao me deitar na cama

ainda azul, 

falei comigo mesmo

Hoje acordei azul, talvez amanhã eu acorde verde, 

ou vermelho, quem sabe? 

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