O SANFONEIRO
Milton, pé de forró e puxador de fole, percorria toda a vizinhança desde as Mangabeiras até às Barras do Gameleira tocando em festas e matinês. Sujeitinho do tipo franzino, canelas de seriema.
Era tal qual um sibito. A voz estrídula e desafinada se contrapunha a habilidade dos dedos finos e magricelas no acordeão de oito baixos que o pai lhe presenteara quando Milton ainda era criança tamanho fosse o talento do capetinha no manejo da sanfona.
A fama de Milton logo se espalhou por toda a redondeza. Não demorou muito para correr o boato de que o sanfoneiro Milton tocava em duas festas ao mesmo tempo. Tal era a fama do Milton que curiosos de todos os cantos dos Altos de João de Paiva vinham para o São Joaquim só pra ver o Milton tocar o fole. Alarmados com o que viam e ouviam não tinham dúvida: tamanha habilidade no manejo do acordeão só podia mesmo ser coisa do cabrunco com quem o Milton, segundo as más línguas, tinha feito um pacto de sangue.
Certo dia, Venancim, caixeiro viajante e tomador de pinga, resolveu tirar essa história a limpo. De passagem pela Canabrava dos Delmiros e do São Pedro dos Fortes, se juntou aos colegas Ciço Badoso e Pedro Fortes e foram ao Jatobá ver o cumpade Milton que naquela noite tocava por lá.
Chegando ao local do adjunto, os três resolveram confirmar se era mesmo o 'cumpade' Milton quem estava animando a festa. Os três pés-de-valsa entraram no salão, cumprimentaram o tocador e até pediram pra Milton tocar o forró a ema gemeu no tronco do juremá e só depois disso resolveram descer lá pras bandas das Mangabeiras onde outro arrasta-pé rolava solto.
Ao se aproximarem do lugarejo, de longe, viram o terreiro apinhado de gente bebendo, fumando e conversando enquanto, lá dentro do barracão de palha, lotado de dançarinos, o fole gemia num soluço bem parecido com a tocada do 'cumpade' Milton.
Porquanto estranhassem bastante aquela batida e como já viviam cismados com a história do 'empautamento', resolveram tirar as provas dos noves. Entraram no salão e, quando viram que o Milton estava tocando, ficaram acabrunhados e os três pés-de-valsa, que costumavam chamar atenção de todos nos arrasta-pés da região e adjacências pela maleabilidade, malemolência, requebros e gingas corporais na arte da dança, naquela noite foram para casa se recomendar a Deus já que tinham visto e conversado com o capeta encarnado num dos tipos do sanfoneiro.
Por muitos anos ficaram se perguntando qual daqueles entes era o Milton e qual deles era o dito cujo.
Comentários do autor:
Este é um conto verossímil cujo enredo foi-me narrado pelo saudoso amigo Ciço Badoso que o conheci nas minhas andanças pelos rincões altoenses e com quem tive a grata satisfação de compartilhar saudáveis e pujantes laços de amizade.
Já o Pedro Fortes, latifundiário e morador da localidade São Pedro, foi um homem benquisto, conhecido, respeitado e admirado por todos os moradores do povoado São Pedro e das localidades vizinhas. Em sua residência costumava receber a todos com distinção, prestimosidade e gentileza.
Era tal qual um sibito. A voz estrídula e desafinada se contrapunha a habilidade dos dedos finos e magricelas no acordeão de oito baixos que o pai lhe presenteara quando Milton ainda era criança tamanho fosse o talento do capetinha no manejo da sanfona.
A fama de Milton logo se espalhou por toda a redondeza. Não demorou muito para correr o boato de que o sanfoneiro Milton tocava em duas festas ao mesmo tempo. Tal era a fama do Milton que curiosos de todos os cantos dos Altos de João de Paiva vinham para o São Joaquim só pra ver o Milton tocar o fole. Alarmados com o que viam e ouviam não tinham dúvida: tamanha habilidade no manejo do acordeão só podia mesmo ser coisa do cabrunco com quem o Milton, segundo as más línguas, tinha feito um pacto de sangue.
Certo dia, Venancim, caixeiro viajante e tomador de pinga, resolveu tirar essa história a limpo. De passagem pela Canabrava dos Delmiros e do São Pedro dos Fortes, se juntou aos colegas Ciço Badoso e Pedro Fortes e foram ao Jatobá ver o cumpade Milton que naquela noite tocava por lá.
Chegando ao local do adjunto, os três resolveram confirmar se era mesmo o 'cumpade' Milton quem estava animando a festa. Os três pés-de-valsa entraram no salão, cumprimentaram o tocador e até pediram pra Milton tocar o forró a ema gemeu no tronco do juremá e só depois disso resolveram descer lá pras bandas das Mangabeiras onde outro arrasta-pé rolava solto.
Ao se aproximarem do lugarejo, de longe, viram o terreiro apinhado de gente bebendo, fumando e conversando enquanto, lá dentro do barracão de palha, lotado de dançarinos, o fole gemia num soluço bem parecido com a tocada do 'cumpade' Milton.
Porquanto estranhassem bastante aquela batida e como já viviam cismados com a história do 'empautamento', resolveram tirar as provas dos noves. Entraram no salão e, quando viram que o Milton estava tocando, ficaram acabrunhados e os três pés-de-valsa, que costumavam chamar atenção de todos nos arrasta-pés da região e adjacências pela maleabilidade, malemolência, requebros e gingas corporais na arte da dança, naquela noite foram para casa se recomendar a Deus já que tinham visto e conversado com o capeta encarnado num dos tipos do sanfoneiro.
Por muitos anos ficaram se perguntando qual daqueles entes era o Milton e qual deles era o dito cujo.
Comentários do autor:
Este é um conto verossímil cujo enredo foi-me narrado pelo saudoso amigo Ciço Badoso que o conheci nas minhas andanças pelos rincões altoenses e com quem tive a grata satisfação de compartilhar saudáveis e pujantes laços de amizade.
Já o Pedro Fortes, latifundiário e morador da localidade São Pedro, foi um homem benquisto, conhecido, respeitado e admirado por todos os moradores do povoado São Pedro e das localidades vizinhas. Em sua residência costumava receber a todos com distinção, prestimosidade e gentileza.
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