três sonetilhos
I
este infinito instante
em que vives agora
basta apenas que pisques
e pronto: é memória
inda não dás por isto
à sombra das batalhas
mas o tempo que torna
as crianças grisalhas
é este mesmo que colhe
teus momentos dispersos
e te confunde os olhos
para te dar, enfim,
da vida, alguns versos,
dos sonhos, seus espólios.
II
abre os olhos e vê:
o tempo já passou.
apenas em você
o instante não murchou.
este lugar não é
o de quando eras outro.
se aqui ainda vives,
talvez estejas morto.
nem houve no intervalo
de tempo dos teus olhos
qualquer sonho ou excesso...
mas se passaram anos.
e é como se tivesses
vivido em retrospecto.
III
como aceitar que a mão
que a minha mão enlaça
é só minha outra mão
que o coração disfarça?
a memória é um tecido
assim dissimulado
que tanto nos engana
mesmo estando rasgado
ah, que doce a mentira
que em mim se acalora
quase fisicamente...
mas o tecido é falho.
e as minhas mãos se esfriam
melancolicamente...