Maurício de Oliveira

Maurício de Oliveira

Maurício de Oliveira é um músico e escritor brasileiro.

1973-11-16 Batatais
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Alguns Poemas

A noite da consciência

Um cão selvagem corre por minhas veias

Não é daqui, mas de outros tempos

Vaga pelos milênios perdidos em meus sonhos

Salta tantas montanhas

E cruza tantos desertos

Quanto a lua pode ver de seu silêncio

Nos uivos desse cão não há história nenhuma

Há somente a vastidão, o espaço e o universo que se conhece por si mesmo

Mudo na noite intensa, sem que a consciência tenha explodido a admirá-lo

O cão selvagem nunca descansa,

E sente o suor frio em sua pele quente

E luta ferozmente pelo prazer de correr o mundo inteiro selvagem

Se é desafiado a sobreviver,

Se é ameaçado por outros ferozes animais

Não há sonho que ele já não tenha vivido

Não há um parto da natureza que se esconda dele

Não há luta que não tenha travado

Não há território inabitado que ele não conheça

Não há noite que se livre de seu ganido distante

Não há ar glacial ou equatorial que não tenha sido respirado por seuspulmões ofegantes

Um cão selvagem corre por minhas veias

Ele é de outros tempos

E não é violento nem maldoso

Porque em seu tempo não existe a maldade

Não é caridoso ou subserviente

Porque em seu tempo só há seres selvagens como ele

Ninguém sabe de onde ele veio

Ou se um dia irá de minha profundidade

Ele sempre existiu e nunca morrerá

Admirará a lua virgem de qualquer olhar humano, de cima de um montesagrado

Conhecerá os raios de sol que nunca tocaram um só pensamento

Uivará forte procurando sua companheira selvagem, porque é sua natureza

Não existem dúvidas nem certezas por seus caminhos

Só existe a terra virgem e aberta a seus passos

E a liberdade de não haver nenhum caminho

Certa vez ele viu uma fogueira em volta da qual homens das pedrascismavam

Despreocupados do ontem e do amanhã

Entreolhavam-se tão quietos quanto pode ser a pureza e a inocência danatureza

E o cão selvagem correu em direção a eles

E ao tocá-los, mergulhou na história humana,

E nada lhe foi olvidado

E quase cego pelo que viu

E ansioso, ofegante, extenuado

Encontrou outra fogueira e outros homens ao redor dela

Correu desesperadamente ao seu encontro

E pode retornar a seu tempo

Onde não há tempo nenhum

E salta de uma montanha a outra, forte

E cruza os desertos,

E é tão livre porque desconhece o que seja uma prisão

Numa feita experimentou o descanso

Dormindo num campo de mato orvalhado pela madrugada

Foi ai a única vez que eu quase o vi

Quando perdi a consciência de mim e de tudo ao redor

Mas me transformei nele e pude vagar pela noite desconhecida

E percorri as veias de um homem sem ser um homem

Vi explosões de pensamentos e memórias no horizonte

Sem saber o que significasse isso

E corri livremente sem nenhum cansaço.

Ás vezes quase o vejo

Professor e estudioso de História, Literatura, Poesia e Música.

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