Se há um pássaro que não me passa beleza
É o pássaro certeza.
Na música desse zabelê
Não há espaço para o porquê.
Ele parece um pássaro de verdade,
Mas não passa de um bicho falso, sem identidade.
O pássaro certeza é tão belo
Quanto o espetáculo do mercado paralelo.
O pássaro certeza é tão de confiança
Quanto os fios podres de uma trança.
O pássaro certeza canta forte, canta alto:
Para que o som possa desenhar o seu retrato,
Para que o vento varra um navio de verdade,
Para que o fogo queime quem não segue sua vontade.
O pássaro certeza canta forte, canta alto:
Para defender o passeio de um estrato,
Para não ouvir quem não é papagaio,
Para que fato, falso e feio se misturem no balaio.
O pássaro certeza canta forte, canta alto:
Para vender caro seu produto barato,
Para esconder o seu rosto caricato,
Para servir aos que sugam feito carrapato,
Para tirar as calças do pacato,
Para deixar o pacato sem teto, sem tato,
Para deixar o negro sem sapato
E para deixar Deus estupefato.