ENTRE O AMOR E A RAZÃO
Apaixonei-me por um cão lindo, há um tempo atrás,
Estava a venda a um preço acessível – era tudo bom de mais!
Então paguei sem pensar duas vezes, sem olhar para atrás,
Até ver as consequências que a escolha pela beleza traz.
E então fui colocado entre o Amor e a Razão,
Por um lado, eu o amava; por outro, era um péssimo cão,
A pesar de crer que o sentimento não deve se sobrepor a razão,
Ignorei o que a Mente dizia e segui o Coração.
Apesar de já enxergar os seus defeitos no princípio do caminho,
Não quis desistir do mesmo, afinal era só cachorrinho.
Com esperança de que mudaria – não precisava ser um santinho –,
Lhe pus no meu coração, e lhe dei amor e carinho.
E o tempo foi passando...
Em cada momento lindo vivido fui cada vez mais me apaixonando,
O cão lindo foi crescendo, mas infelizmente não mudando,
Então, a esperança e a paciência começaram se esgotando.
E então fui colocado entre o Amor e a Razão,
Por um lado, eu o amava; por outro, era um péssimo cão,
A pesar de crer que o sentimento não deve se sobrepor a razão,
Ignorei o que a Mente dizia e segui o Coração.
O saco da paciência encheu, mas não conseguia desfazer-me dele,
Por um lado, os seus mil defeitos; por outro, eu amava ele;
Então, frustrado e sem querer, passei maltratando ele,
Matando aos poucos o sentimento de amor por mim que estava nele;
Passei a dar-lhe apenas abrigo e alimentação,
E ele estava sofrendo, pois não lhe dava carinho e atenção.
Eu já estava decido, já tinha escolhido a separação,
Decidi seguir a Mente e ignorar o Coração.
Mas, muito antes da oficial separação,
O vizinho que o deseja aproveitou-se da confusão,
Em minhas ausências o chamava e lhe dava não só alimentação,
Como também amor, carinho e atenção.
Então, o cão mordeu-me e refugiou-se naquele vizinho,
Apesar de doer o coração, decidi seguir sozinho,
Não foi pela mordida que me desfiz daquele cãozinho,
E sim pelos seus mil defeitos, notados no princípio do caminho.
E como apesar dos mil defeitos eu o amava,
Saber que estávamos separados doía-me bastante na alma,
Mas quando eu via o quanto o vizinho comemorava,
Conhecendo o cão, não sabia se sorria ou se lamentava.
Assim eu estive, entre o Amor e a Razão,
Por um lado, eu o amava; por outro, era um péssimo cão,
E como penso que o sentimento não deve se sobrepor a razão,
Apesar da dor, segui o que a Mente me disse e ignorei o Coração.
África, Angola – Luanda, 2020.