Mário-Henrique Leiria

Mário-Henrique Leiria

Mário Henrique Batista Leiria, escritor surrealista português. Foi aluno na Escola Superior de Belas Artes, de onde foi expulso em 1942 por motivos políticos. Participou nas actividades do Grupo Surrealista de Lisboa, entre 1949 e 1951 e em 1962.

1923-01-02 Lisboa
1980-01-09 Cascais
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Alguns Poemas

Aviso Urgente

Quando as coisas que hão-de vir
chegarem
confúcio buda lao-tsé
reis barbudos pendões e caldeiros duvidosos
arnezes oscilantes aríetes sem emprego fixo
reis imberbes e condutores de noite aprisionada
cristo maomé
conquistadores a construir pirâmides inúteis
vitória e os seus lagos imperiais
e outros muitos sempre
estarão nos livros
de consulta e história analítica
os paraísos diversos indicados
tornar-se-ão textos curiosos
em microfilme encadernado
levado na mala exacta
das férias pelo espaço
serão armas perfeitamente abandonadas
do medo ainda a querer viver
nas propostas teo ilógicas
de uma morte para além da morte
paraísos dispersos mastigando-se
fornecidos com molho especial
mas mesmo assim
quotidianamente incertos na afirmação
das garantias oportunas
de uma wall street de promessas
em inflação constante
colunas templárias sem cavalo de sela
para ser montado
pequenas fábricas do acontecer
obrigatório por esperança empacotada
memórias
de santos mártires heróis santos efectivos
no livro de registo caligráfico
para a organização menor da lepra em família
três mártires três
todos na panela sem tempero hoje
prato do dia por enquanto
santos
vários
a lista é grande
tiveram sortes imagísticas abundantes
e heróis
ainda em produção contínua
na necessidade urgente de criar novos modelos
e pô-los em circulação imediata
antes que a história os recuse
um carimbo eficaz no peito
a garantir origem qualidade e preço
e alguma perna a menos para andar
tudo isto nos textos em que estará a recordação
de cóleras bancos pestes governos
batalhas casamentos impreteríveis
ducados colónias sobras de banquetes bíblicos
notícias de suicídios
sexos mutilados cidades afundadas

quando as coisas que hão-de vir
chegarem

claridade dada pelo tempo

I

Deixa-me sentar numa nuvem
a mais alta
e dar pontapés na Lua
que era como eu devia ter vivido
a vida toda
dar pontapés
até sentir um tal cansaço nas pernas
que elas pudessem voar
mas não é possível
que tenho tonturas e quando
olho para baixo
vejo sempre planícies muito brancas
intermináveis
povoadas por uma enorme quantidade
de sombras
dá-me um cão ou uma bola
ou qualquer coisa que eu possa olhar
dá-me os teus braços exaustivamente
longos
dá-me o sono que me pediste uma vez
e que transformaste apenas para
teu prazer
nos nossos encontros e nos nossos
dias perdidos e achados logo em
seguida
depois de terem passado
por uma ponte feita por nós dois
em qualquer sítio me serve
encontrar o teu cabelo
em qualquer lugar me bastam
os teus olhos
porque
sentado numa nuvem
na lua
ou em qualquer precipício
eu sei
que as minhas pernas
feitas pássaros
voam para ti
e as tonturas que a planície me dá
são feitas por nós
de propósito
para irritar aqueles que não sabem
subir e descer as montanhas geladas
são feitas por nós
para nunca nos esquecermos
da beleza dum corpo
cintilando fulgurantemente
para nunca nos esquecermos
do abraço que nos foi dado
por um braço desconhecido
nós sabemos
tu e eu
que depois de tudo
apenas existem os nossos corpos
rutilantes
até se perderem no
limite do olhar
dá-me um cigarro
mesmo que seja só um
já me basta
desde que seja dado por ti
mas não me leves
não me tires
as tonturas que eu teria
que eu terei
sempre que penso cá de cima
duma altura vertiginosa
onde a própria águia
nada mais é que um minúsculo
objecto perdido
onde a nuvem
mais alta de todas
se agasalha como um cão de caça
leva-me a recordação
apenas a recordação
da vida martelada
que em mim tem ficado
como herança dada há mil e
duzentos anos

deixa que eu fique
muito afastado
silencioso
e único
no alto daquela nuvem
que escolhi
ainda antes de existir
Poeta português, nascido em Cascais. Esteve ligado ao surrealismo e foi membro do Grupo Surrealista Dissidente. A sua obra, composta maioritariamente por poemas e breves textos narrativos, encontrou-se até aos anos 70 dispersa por jornais e revistas. Só a partir dessa altura começou a publicar livros, basicamente constituídos por poemas e pequenos textos sobre casos insólitos. A sua poesia, fortemente influenciada pelo surrealismo, incide sobre imagens invulgares, muitas das vezes associadas à mulher, que o autor compara aos mais diferentes objectos ou seres. A antropofagia, tema típico do surrealismo, está também presente nalguns dos seus textos. Nas suas obras Contos do Gin-Tonic (1973), Novos Contos do Gin (1974) e Casos do Direito Galáctico, Seguido de o Mundo Inquietante de Josela (1975), assistimos a breves narrativas, quase sempre pontuadas pelo humor negro, pelo nonsense e pelo estranho (presença de seres extra-terrestres ou animais protagonistas de cenas bizarras). O seu último livro de ficção publicado em vida intitulou-se Lisboa ao Voo do Pássaro (1979). Postumamente, foi também publicado um conjunto de textos, intitulado Depoimentos Escritos (1997
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24/outubro/2023

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