Marcus Accioly

Marcus Accioly

Marcus Morais Accioly, é um poeta brasileiro de Pernambuco.

1943-01-21 Aliança PE
2017-10-21 Ilha de Itamaracá
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Prémios e Movimentos

Jabuti 2003

Alguns Poemas

Da Prosa e da Poesia

A prosa e a poesia se diferem
pelo mistério:
a casa era sem portas e janelas (...)
isto é prosa
a casa era de vidros e silêncios (...)
isto é poesia
pela música:
era uma vez um eco que dizia (...)
isto é prosa
era uma vez a vez a vez a vez (...)
isto é poesia
pela forma:
sob a luz apagada ele dormia (...)
isto é prosa
sob o peso da treva era o seu sono (...)
isto é poesia
pelo motivo:
a infância veio visitá-lo um dia (...)
isto é prosa
a infância acordou-se nos seus olhos (...)
isto é poesia
pela pintura:
o seu rosto era branco como o mármore (...)
isto é prosa
o seu rosto era um pássaro de nuvem (...)
isto é poesia
pelo equilíbrio:
o sol estava vertical no céu (...)
isto é prosa
o sol caía sobre a própria sombra (...)
isto é poesia
pelo movimento:
a flecha arremessada pelo arco (...)
isto é prosa
a flecha além do arco era uma asa (...)
isto é poesia
pelo ritmo:
era no dia o sol — na noite a lua (...)
isto é prosa
era no sol o sol — na lua a lua (...)
isto é poesia
pela força:
a lâmina brilhou sobre seus olhos (...)
isto é prosa
a lâmina de luz cegou seus olhos (...)
isto é poesia
pelo assombro:
o chicote vibrou como uma cobra (...)
isto é prosa
o chicote vibrou como um relâmpago (...)
isto é poesia
pela imagem:
dentro do rio era canção das águas (...)
isto é prosa
dentro do rio era a canção dos peixes (...)
isto é poesia
etc etc etc
(...)


In: ACCIOLY, Marcus. Poética: pré-manifesto ou anteprojeto do Realismo Épico (época-épica). Recife: Ed. Universitária, 1977

NOTA: Poema composto de 3 partes

Prosação

— Senhores, vou lhes contar
Uma conversa ligeira
Que tive, faz muito tempo,
Num dia de quarta-feira
Do mês de outubro de um ano,
Do qual não me lembro a data,
Na mais agreste caatinga,
Depois da zona da Mata.
Havia fome na terra
E o povo se retirava
Levando os últimos bichos
Que a seca aos poucos matava.
Para esquecer essas coisas
Fui palestrar com Quintão,
Um cego que tinha fama
De sábio, em todo Sertão.

— "Já desde que tempo é tempo
E o mundo é mundo, que eu ouço
Muitas histórias contadas
Por retirantes, seu moço.
Histórias que falam sempre
Das secas com seus rigores,
Dos homens virando lendas
Na boca dos cantadores.
Histórias que a gente encontra
Escritas, de outra maneira,
Em verso e não mais em prosa,
Nesses folhetos de feira.
Histórias que são as mesmas
Que a gente sabe de cor,
Mas finge que nunca sabe
Para escutá-las melhor.

— Dessas estórias, lhe digo,
Me causa admiração
A vida do Padre Cícero
E a lenda de Lampião
Que tinha o corpo fechado
E um olho cego que via,
Por isso fechava o outro
Para fazer pontaria.
Pois que bastava somente
Para enxergar o perfil
Da tropa que o perseguia,
O olho do seu fuzil.
E que bastava o soldado
Sentir seu faro real,
Para vestir-se de terra
Após vestir seu punhal.

— Não sei se é lenda ou verdade,
Seu moço, falo por mim,
A lenda sempre começa
Quando uma história tem fim.
Pois se a história nos conta
Que Virgulino nasceu,
A lenda logo acrescenta
Que Lampião não morreu.
Além da história e da lenda
Existe o sonho do povo,
Que entre o que houve e não houve
Inventa tudo de novo.
Por isso a lenda é mais certa
Do que o sonho e a história,
Pois Lampião anda vivo
Dentro de cada memória.

(...)

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Poema integrante da série Sertão-Sertões - Canto II.

In: ACCIOLY, Marcus. Nordestinados. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1978. p.118-119. (Tempoesia, 18)

NOTA: Poema composto de 13 estrofes de 16 verso
Marcus Accioly (Aliança (Engenho Laureano) PE, 1943) publicou seu primeiro livro de poesia, Cancioneiro, em 1968. No ano seguinte concluiu o curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco, em Recife PE. Em 1972 recebeu o Prêmio Recife de Humanidades pelo livro Nordestinados (1971). Publicou, em 1974, Xilografia e, em 1980, Guriatã, que ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia, concedido pela União Brasileira de Escritores. Guriatã também recebeu a Láurea Altamente Recomendável para o Jovem, concedida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 1985 recebeu o Prêmio de Poesia, pelo livro Narciso (1984), concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Artes, e o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, também por Narciso. Sua obra poética inclui ainda Sísifo (1976), Poética (1977), Íxion (1978 ), Ó(de) Itabira (1980), P/Bara(ti)nação (1986) Érato (1990) e O Jogo dos Bichos (1990). A crítica Nelly Novaes Coelho afirmou, sobre o poeta: "Pertencendo ao grupo de escritores e artistas nordestinos que, dos anos 60 para cá, tem mergulhado nas raízes populares, de origem ibero-lusitana, latentes nos Romanceiros e Cancioneiros, na Literatura de Cordel e nas Cantorias, na Música, nas Gravuras e Esculturas primitivas, Marcus Accioly é dos poetas que hoje tentam recuperar a poesia em sua natureza primitiva: a palavra que nasceu do canto e se perpetua na voz popular".
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