Manuel Botelho de Oliveira

Manuel Botelho de Oliveira

Manuel Botelho de Oliveira foi um advogado, político e um poeta barroco de nacionalidade portuguesa nascido no Brasil colônia. Foi o primeiro autor nascido no Brasil a ter um livro publicado.

1636-01-01 Salvador BA
1711-01-05 Salvador
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Prémios e Movimentos

Barroco

Alguns Poemas

À Ilha de Maré - Termo desta Cidade da Bahia

Silva

Jaz em oblíqua forma e prolongada
A terra de Maré toda cercada
De Netuno, que tendo o amor constante,
Lhe dá muitos abraços por amante,
(...)
As plantas sempre nela reverdecem,
E nas folhas parecem,
Desterrando do Inverno os desfavores,
Esmeraldas de Abril em seus verdores,
E delas por adorno apetecido
Faz a divina Flora seu vestido.
As fruitas se produzem copiosas,
E são tão deleitosas,
Que como junto ao mar o sítio é posto,
Lhes dá salgado o mar o sal do gosto.
As canas fertilmente se produzem,
E a tão breve discurso se reduzem,
Que, porque crescem muito,
Em doze meses lhe sazona o fruito.
E não quer, quando o fruito se deseja,
Que sendo velha a cana, fértil seja.
(...)
As romãs rubicundas quando abertas
À vista agrados são, à língua ofertas,
São tesouro das fruitas entre afagos,
Pois são rubis suaves os seus bagos.
As fruitas quase todas nomeadas
São ao Brasil de Europa transladadas,
Porque tenha o Brasil por mais façanhas
Além das próprias fruitas, as estranhas.
E tratando das próprias, os coqueiros,
Galhardos e frondosos
Criam cocos gostosos;
E andou tão liberal a natureza
Que lhes deu por grandeza,
Não só para bebida, mas sustento,
O néctar doce, o cândido alimento.
De várias cores são os cajus belos,
Uns são vermelhos, outros amarelos,
E como vários são nas várias cores,
Também se mostram vários nos sabores;
E criam a castanha,
Que é melhor que a de França, Itália, Espanha.
(...)
Tenho explicado as fruitas e legumes,
Que dão a Portugal muitos ciúmes;
Tenho recopilado
O que o Brasil contém para invejado,
E para preferir a toda a terra,
Em si perfeitos quatro AA encerra.
Tem o primeiro A, nos arvoredos
Sempre verdes aos olhos, sempre ledos;
Tem o segundo A, nos ares puros
Tem tempérie agradáveis e seguros;
Tem o terceiro A, nas águas frias,
Que refrescam o peito, e são sadias;
O quarto A, no açúcar deleitoso,
Que é do Mundo o regalo mais mimoso.
(...)
Esta Ilha de Maré, ou de alegria
Que é termo da Bahia,
Tem quase tudo quanto o Brasil todo,
Que de todo o Brasil é breve apodo;
E se algum tempo Citeréia a achara,
Por esta sua Chipre desprezara,
Porém tem com Maria verdadeira
Outra Vênus melhor por padroeira.

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In: OLIVEIRA, Manuel Botelho de. Música do Parnasso. Pref. e org. do texto Antenor Nascentes. Rio de Janeiro: INL, 1953. v.1. (Biblioteca popular brasileira, 2
Manuel Botelho de Oliveira (Salvador BA, 1636 – 1711) cursou Direito na Universidade de Coimbra (Portugal). De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia; também foi vereador da Câmara de Salvador BA. Em 1694 tornou-se capitão-mor dos distritos de Papagaio, Rio do Peixe e Gameleira, cargo obtido em função de empréstimo de 22 mil cruzados para a criação da Casa da Moeda na Bahia. Em 1705 ocorreu em Lisboa (Portugal) a publicação de seu Música do Parnasso, o primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil. Poeta barroco, Manuel Botelho de Oliveira conviveu com Gregório de Matos e versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo. No entanto, segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, “uma das composições da Música do Parnasso tem caráter diferente das demais: é a silva 'À Ilha da Maré', gabada por seu nativismo, ou seja, pela exaltação dos frutos e legumes, que são colocados pelo poeta muito acima dos de Portugal. É composição por vezes sem grande tacto, mas deu origem a uma fila de trabalhos me-ufanistas, de Santa Maria Itaparica a Santa Rita Durão.”.
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Essa pintura é de Gregório de Matos, não de Manuel Botelho de Oliveira.
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