Luís Guimarães Júnior

Luís Guimarães Júnior

Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior foi um diplomata, poeta, contista, romancista e teatrólogo brasileiro.

1845-02-17 Rio de Janeiro RJ
1898-05-20 Lisboa (Portugal)
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Alguns Poemas

Nhanhã

Um dia apresentaram-me. Ela lia
Num canto do salão.
Deixou cair aos pés o livro, — e ria
Estendendo-me a mão.

Mão de princesa, fina, delicada,
De tão macio alvor
Qual se a talhara alguma boa fada
No cálix de uma flor.

Era no campo. As auras forasteiras
Suspiravam no ar,
Frescas do grato odor das laranjeiras,
Dos raios do luar.

Surda uma voz ao longe ressoava
Em doloridos ais...
Quem canta? perguntei. — Ora! uma escrava!
Disse ela. E nada mais.

Falou-me então das valsas delirantes
De Strauss e do furor
Dos novos cotillons. Disse-me: — Dantes
Valsava-se melhor.

E a voz da escrava como um ai de morte
Adejava ao luar...
— "Li, há dois dias, num jornal da corte
Que a Patti vai chegar:

Será verdade? Ah! quem me dera! A moda
Renascerá enfim!"
E ela, a bater as mãos, ria-se toda
Olhando para mim.

Contemplei melancólico o semblante
Dessa virgem feliz:
Era mais alva que ao luar errante
As pálidas willis;

Era tão doce como a Fantasia
Dum bardo sonhador:
Lamartine colhera uma Harmonia
Nos lábios dessa flor.

E enquanto o seu olhar negro brilhava
Como a onda ao luar,
E a suspirosa aragem derramava
O aroma do pomar;

Enquanto aquela boca fulgurante
Mais pura que os cristais,
Repetia-me a crônica elegante
Dos últimos jornais;

A voz da escrava — trêmula, queixosa,
Expirou na amplidão,
Longa como uma nênia dolorosa,
Triste como a paixão.


Poema integrante da série Primeira Parte.

In: GUIMARÃES JÚNIOR, Luiz. Sonetos e rimas: lírica. 3.ed. Pref. Fialho d'Almeida. Lisboa: Livr. Clássica Ed. de A. M. Teixeira, 191

A Sertaneja

Eu sou a virgem morena,
Robusta, lesta, pequena
Como a cabrita montês;
Vivo cercada de amores,
E aquele que fez as flores,
Irmã das flores me fez.

Vinde ver, ó boiadeiros,
Meus vestidos domingueiros,
Meus braços limpos e nus:
Ah! vinde ver-me enfeitada
Com minha sala engomada,
Com meus tamancos azuis.

Sertanejos, sertanejos,
Pedis debalde os meus beijos,
Em vão pedis meu amor!
Eu sou a agreste cutia,
Que se expõe à pontaria
E ri-se do caçador!

A sertaneja morena
Bonita, forte, pequena,
Não cai na armadilha, não:
A jaçanã corre e voa
Quando vê sobre a lagoa
A sombra do gavião.

Sou órfã, donzela e pobre,
Vistosa telha não cobre
O lar que herdei de meus pais:
Que importa? Vivo contente:
Ser moça, bela e inocente
É ter fortuna demais!

Quem tece e protege o ninho,
Quem defende o passarinho,
Quem das mãos espalha o bem,
Quem fez o sol e as estrelas,
Dando a virtude às donzelas,
Deu-lhes a força também.

A Virgem nunca se esquece
Da mais tosca e simples prece
Que voa ao seio de Deus;
Por cada infeliz que chora
Abre na terra uma aurora,
Crava uma estrela nos céus.

Sertanejos, sertanejos,
Podeis morrer de desejos,
Que eu não me temo de vós!
A sertaneja faceira
É mais que a paca ligeira
Mais que a andorinha veloz.

Sou viva, arisca, medrosa,
Bem como a onça raivosa
Pronta ao mais leve rumor!
No meu cabelo selvagem
Sente-se a morna bafagem
Das matas virgens em flor.

No samba quem puxa a fieira ,
Melhor, melhor que a trigueira
Maravilha dos sertões?
Que peito mais brando anseia,
Quem mais gentil sapateia,
Quem pisa mais corações?

Ai! Gentes! Ai! Boiadeiros!
Não sois decerto os primeiros
Que o meu olhar cativou:
Desta morena a doçura
É como frecha segura:
Peito que encontra — rasgou!

Minha rede é perfumada,
Como a folha machucada
Da verde malva-maçã:
Nela me embalo sonhando,
E dela salto cantando,
Quando vem rindo a manhã.

Sonho com jambos e rosas,
Com as madrugadas formosas
Deste formoso sertão:
Meu sonho é como a canoa,
Que voa, que voa e voa
Nas águas do ribeirão.

Trago no seio guardado
O rosário abençoado
Que minha mãe me deixou:
Ai! Gentes! Ai! Pastorinhas!
Se estão alvas as continhas
Foi que meu pranto as lavou.

Quem é mais feliz na terra?
Quem mais delícias encerra,
Quem mais feitiços contém?
Vem moreno boiadeiro,
Desafiar meu pandeiro
Com tua guitarra, — vem!

Raiou domingo! Que festa!
Que barulho na floresta!
Quanto rumor no sertão!
Que céu! que matas cheirosas
Quanto perfume nas rosas,
E quantas rosas no chão!

Vinde ouvir-me na guitarra:
Não há nas brenhas cigarra
Que me acompanhe, — não há!
Trazei, trazei, boiadeiros,
As violas, os pandeiros,
Os búzios, o maracá!

Eu sou a virgem morena,
Robusta, lesta, pequena
Como a cabrita montês:
Vivo cercada de amores,
E aquele que fez as flores,
Irmã das flores me fez.

Luiz Guimarães Júnior (Rio de Janeiro RJ, 1845 - Lisboa Portugal, 1898) iniciou o curso de Direito em 1863, na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo SP. Concluiu o curso em 1869, em Recife PE, onde conviveu com Castro Alves e Tobias Barreto. Ainda em 1869 publicou seu primeiro livro de poesia, Corimbos. Entre 1862 e 1872 publicou as obras em prosa Curvas e Zig-Zag, A Família Agulha, Lírio Branco, Filigrama e Noturnos. Foi colaborador do jornal A Esperança, em 1863. Nos anos de 1871 e 1872 publicou as biografias de Carlos Gomes e Pedro Américo. Ingressou na carreira diplomática em 1872 e serviu no Chile, Inglaterra, Itália, Portugal e Venezuela. Foi um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897. Em 1880, foi publicado seu livro Sonetos e Rimas. Sobre a obra de Luiz Guimarães Júnior, o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos afirmou: "verdade é que nos Sonetos e Rimas ainda há notas românticas perceptíveis; mas, descontadas estas, fica-nos o livro como o primeiro marco verdadeiramente importante na implantação do Parnasianismo no Brasil."
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