Frank O'Hara

Frank O'Hara

Francis Russell O’Hara, conhecido como Frank O'Hara foi um poeta, crítico e dramaturgo dos Estados Unidos, que formou o grupo fundador da chamada Escola de Nova Iorque, juntamente com John Ashbery e Kenneth Koch.

1926-03-27 Baltimore
1966-07-25 Mastic Beach
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Alguns Poemas

Por que eu não sou pintor

Eu não sou pintor, sou poeta.
Por quê? Eu acho que preferiria ser
pintor, mas não sou. Bem,
por exemplo, Mike Goldberg
começa um quadro. Eu dou
uma passada. "Senta e bebe alguma coisa",
ele diz. Eu bebo; nós bebemos. Eu dou
uma olhada."Você pôs SARDINHAS neste."
"É, precisava de alguma coisa ali."
"Ah." Eu vou e os dias vão-se
e dou outra passada. O quadro
está indo, e eu vou, e os dias
vão-se. Dou uma passada. O quadro está
pronto. "Cadê SARDINHAS?"
Tudo o que sobrou são
letras, "Estava exagerado", diz Mike.
E eu? Um dia começo a pensar sobre
uma cor: laranja. Eu escrevo um verso
sobre laranja. Não demora a tornar-se
uma página inteira de palavras, não de versos.
Então, mais uma página. Deveria ter
tantas coisas mais, não de laranja, de
palavras, de como laranja é horrível,
e a vida. Dias vão-se. É assim mesmo
em prosa, eu sou poeta de verdade. Meu poema
está pronto e eu ainda não mencionei
laranja. São doze poemas, eu chamo de
LARANJAS. E um dia numa galeria
eu vejo o quadro de Mike, chamado SARDINHAS.
(tradução de Ricardo Domeneck)
Why I am Not A Painter
I am not a painter, I am a poet.
Why? I think I would rather be
a painter, but I am not. Well,
for instance, Mike Goldberg
is starting a painting. I drop in.
"Sit down and have a drink" he
says. I drink; we drink. I look
up. "You have SARDINES in it."
"Yes, it needed something there."
"Oh." I go and the days go by
and I drop in again. The painting
is going on, and I go, and the days
go by. I drop in. The painting is
finished. "Where's SARDINES?"
All that's left is just
letters, "It was too much," Mike says.
But me? One day I am thinking of
a color: orange. I write a line
about orange. Pretty soon it is a
whole page of words, not lines.
Then another page. There should be
so much more, not of orange, of
words, of how terrible orange is
and life. Days go by. It is even in
prose, I am a real poet. My poem
is finished and I haven't mentioned
orange yet. It's twelve poems, I call
it ORANGES. And one day in a gallery
I see Mike's painting, called SARDINES.

Tomar coca-cola com você

é ainda mais divertido que ir a São Francisco, La Jolla, Tijuana, Tecate, Ensenada
ou ter o estômago revirado de enjoo na Madison Avenue em Nova Iorque
em parte porque nesta camisa laranja você me parece um São Francisco melhor mais feliz
em parte por causa do meu amor por você, em parte por causa do seu amor por vodca
em parte por causa das margaridas laranja fluorescente cercando os ipês
em parte por causa do mistério que nossos sorrisos vestem diante de gente e estatuária
é difícil de acreditar quando estou com você que pode haver algo tão imóvel
tão solene tão desagradavelmente definitivo quanto estatuária quando bem em frente
no ar quente das quatro da tarde em São Paulo nós vagamos em círculos num vai e vem como uma árvore respirando por suas oftálmicas

e a exposição de retratos parece não ter qualquer rosto, só tinta
você de repente pergunta-se por que diabos alguém deu-se ao trabalho de pintá-los
.................................................................................eu olho
você e preferiria olhar você a todos os retratos do planeta com exceção
talvez doAuto-Retrato com corrente de ouro de vez em quando que está no MASP
aonde graças aos céus você nunca foi então podemos ir juntos pela primeira vez
e o fato de que você se move tão lindo resolve mais ou menos o Futurismo
assim como em casa eu nunca penso noNu Descendo uma Escada ou
num ensaio nalgum desenho do Michelangelo ou Da Vinci que antes me deixava boquiaberto
e de que adianta aos Impressionistas toda a sua pesquisa
quando eles nunca conseguiam a pessoa certa para encostar-se à árvore ao pôr-do-sol
ou a propósito Marino Marini se ele não escolheu o cavaleiro com o mesmo cuidado
.................................................................................que o cavalo
é como se tivessem roubado deles uma experiência maravilhosa que eu não pretendo desperdiçar e é por isso que estou aqui falando tudo isso pra você


(contextualização de Ricardo Domeneck)

Três árias

para Norman Bluhm
1.
Tantas coisas no ar! fuligem,
bolas de elefante, uma nuvem chinesa
que já desabou por completo, um gato
girado pelo rabo
e as sensações
dos mortos que batem e se esbarram
dentro dos meus olhos cansados
2.
Lá nas profundezas vive um passarinho
que só cantarola, um canto de coragem
e temperança; administra uma fundição
e como é firme ao pegar as coisas! arranca-as
do limo e depois – oh! céus! – numa travessura
ele as joga no caldeirão da feiura
e já um pôr do sol vem nomeando
os álamos que, aguados, só veem a si mesmos
3.
Ah ser um anjo (se anjos houvesse!) e subir
direto ao céu e dar uma olhada e depois
descer
não estar coberto com aço e alumínio
fulgurantemente feio nas distâncias puras e estalando e
estourando, arfando
mas ser parte do topo das árvores e do azul, invisível,
na escuridão iridescente ao longe,
silencioso, ouvindo ao
ar tornar-se não ar tornar-se ar de novo
:
Three airs
to Normam Bluhm
1.
So many things in the air! soot,
elephant balls, a Chinese cloud
which is entirely collapsed, a cat
swung by its tail
and the senses
of the dead which are banging about
inside my tired red eyes
2.
In the deeps there is a little bird
and it only hums, it hums of fortitude
and temperance, it is managing a foundry
how firmly it must grasp things! tear them
out of the slime and then, alas! It mischievously
drops them into the cauldron of hideousness
there is already a sunset naming
the poplars which see only, watery, themselves
3.
Oh to be an angel (if there were any!), and go
straight up into the sky and look around and then
come down
not to be covered with steel and aluminum
glaringly ugly in the pure distances and clattering and
buckling, wheezing
but to be part of the treetops and the blueness, invisible,
the iridescent darkness beyond,
silent, listening to
the air becoming no air becoming air again

São Paulo e tudo mais

Totalmente sem graça e sorridente
eu entro
me sento e
encaro a geladeira
é abril
não maio
é maio
coisas tão pequenas precisam ser definidas pela manhã
depois das coisas grandes da noite
você quer que eu vá? quando
penso em tudo que tenho pensado fico maluco
apenas “viver em Birmingham é um inferno”
apenas “você vai sentir minha falta
mas isso é bom”
quando as lágrimas de toda uma geração forem reunidas
caberão todas numa xícara
e se elas evaporam
nem por isso a vida tem calor
“esse variado sonho, viver”
eu estou vivo com você
cheio de prazeres ansiosos e ansiedades prazerosas
dureza e maciez
ouvindo enquanto você fala e falando enquanto você lê
eu leio o que você lê
você não lê o que eu leio
e tudo bem, o curioso sou eu
você lê por alguma razão misteriosa
eu leio só porque sou escritor
o sol não necessariamente se põe, às vezes só desaparece
quando você não está aqui alguém entra e fala
“ei,
cadê o dançarino dessa cama?”
Ah os verões poloneses! aquelas brisas!
aqueles dentes pretos e brancos!
você nunca vem quando diz que vem por outro lado você vem sim
:
St.Paul and all that
Totally abashed and smiling
I walk in
sit down
face the frigidaire
it’s April
no May
it’s May
such little things have to be established in the morning
after the big things of night
do you want me to come? when
I think of all the things I’ve been thinking of I feel insane
simply “life in Birmingham is hell”
simply “you will miss me
but that’s good”
when the tears of a whole generation are assembled
they will only fill a coffee cup
just because they evaporate
doesn’t mean life has heat
“this various dream of living”
I am alive with you
full of anxious pleasures and pleasurable anxiety
hardness and softness
listening while you talk and talking while you read
I read what you read
you do not read what I read
which is right, I am the one with the curiosity
you read for some mysterious reason
I read simply because I am a writer
the sun doesn’t necessarily set, sometimes it just disappears
when you’re not here someone walks in says
“hey,
there’s no dancer in that bed”
O the Polish summers! those drafts!
those black and white teeth!
You never come when you say you’ll come but on the other hand you do come
Frank O´Hara (1926 - 1966) nasceu em Baltimore, mas é conhecido como poeta de Nova Iorque. Com os amigos John Ashbery, James Schuyler, Barbara Guest e Kenneth Koch, foi parte de um grupo de poetas que ficou conhecido como Escola de Nova Iorque (New York School of Poets), uma referência ao grupo de pintores conhecido como New York School of Painters, hoje em dia chamado com mais freqüência de Abstract Expressionists, entre os quais surgiu Jackson Pollock, cuja pintura teria grande influência sobre a poesia de O`Hara. Outras influências consideradas importantes por críticos que dedicaram estudos a seus trabalhos seriam uma antologia de poesia dadaísta publicada nos Estados Unidos no início da década de 50, Arthur Rimbaud e Vladimir Maiakóvski. O poeta trabalhou por anos como curador no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e chegou a escrever em um poema que às vezes acreditava estar "apaixonado pela pintura". Frank O´Hara morreu aos 40 anos, em decorrência dos ferimentos causados por um atropelamento na Fire Island.
 
 
 
Frank O'Hara [1926-1966] nasceu em Baltimore e, a partir dos anos 50, foi viver em Nova Iorque, passando a integrar a chamada Escola de Nova Iorque. Publicou diversos livros, dentre os quais está Lunch poems, editado em 1964, por Lawrence Ferlinghetti, na coleção da City Lights. Frank O'Hara morreu tragicamente depois de ter sido atropelado em uma praia em Fire Island. Ainda inédito em livro no Brasil, O’Hara vem ganhando algumas traduções, como as que temos a alegria de publicar neste post, feitas pela Beatriz Bastos em sua tese de doutorado, para os poemas “Linhas ao ler ‘A pintura’ de Coleridge”, “Três árias” e “São Paulo e tudo o mais”.
 
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USA: Poetry Episode Frank O'Hara and Ed Sanders
How Frank O'hara Defined The American Poet
Frank O'Hara reading from Lunch Poems
Mad Men - Meditations in an emergency - Mayakovsky - Frank O'Hara - Don Draper
Having a Coke with Frank O'Hara
Frank O'Hara: Why I Am Not A Painter
ORAL HISTORY INITIATIVE: On Frank O'Hara - Woodberry Poetry Room
Meditations In An Emergency // Frank O'Hara
A Lecture on Frank O'Hara's "Personism," "Why I Am Not a Painter," and "The Day Lady Died"
Frank O’Hara reads selected poems
Frank O'Hara [Complete Reading] @SUNY 9-25-1964
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Mayakovsky // Frank O'Hara
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On Frank O'Hara's "A Step Away from Them"
Frank O'Hara , "Why I Am Not A Painter"
Sea Wolf - Frank O'Hara
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Frank O'Hara
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St. Paul and All That // Frank O'Hara
jim carroll talks about frank o'hara & patti smith
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GordsPoetrySh ow #37: Frank O'Hara's Lunch Poems
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[DAY EIGHT][POEMVEMBER 2022][Frank O’Hara’s “Meditations in an Emergency”]
Let's Talk About a Poem: "The Day Lady Died" by Frank O'Hara. January 30, 2021
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