Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo Leite foi um jornalista, poeta e ensaísta brasileiro. Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta, foi o fundador do ...

1895-07-26 São José dos Campos, São Paulo, Brasil
1974-01-14 Rio de Janeiro RJ
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Prémios e Movimentos

Jabuti 1965Jabuti 1961

Alguns Poemas

João, o Telegrafista

I

João telegrafista.
Nunca mais que isso,
estaçãozinha pobre
havia mais árvores pássaros
que pessoas.
Só tinha coração urgente.
Embora sem nenhuma
promoção.
A bater a bater sua única
tecla.

Elíptico, como todo
telegrafista.
Cortando flores preposições
para encurtar palavras,
para ser breve na necessidade.
Conheceu Dalva uma Dalva
não alva sequer matutina
mas jambo, morena.
Que um dia fugiu — único
dia em que foi matutina —
para ir morar cidade grande
cheia luzes jóias.
História viva, urgente.

Ah, inutilidade alfabeto Morse
nas mãos João telegrafista
procurar procurar Dalva
todo mundo servido telégrafo.
Ah, quando envelhece,
como é dolorosa urgência!
João telegrafista
nunca mais que isso, urgente.

II

Por suas mãos passou mundo,
mundo que o fez urgente,
elíptico, apressado, cifrado.
Passou preço do café.
Passou amor Eduardo
VIII, hoje duque Windsor.
Passou calma ingleses sob
chuva de fogo. Passou
sensação primeira bomba
voadora.
Passaram gafanhotos chineses,
flores catástrofes.
Mas, entre todas as coisas,
passou notícia casamento Dalva
com outro.

João telegrafista
o de coração urgente
não disse palavra, apenas
três andorinhas pretas
(sem a mais mínima intenção simbólica)
pousaram sobre
seu soluço telegráfico.

Um soluço sem endereço — Dalva —
e urgente.


Publicado no livro Poemas murais, 1947/1948 (1950).

In: RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Pref. Tristão de Athayde. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. p.517-51

Café-Expresso

1

Café-expresso — está escrito na porta.
Entro com muita pressa. Meio tonto,
por haver acordado tão cedo...
E pronto! parece um brinquedo...
cai o café na xícara pra gente
maquinalmente.

E eu sinto o gosto, o aroma, o sangue quente de São Paulo
nesta pequena noite líquida e cheirosa
que é a minha xícara de café.
A minha xícara de café
é o resumo de todas as coisas que vi na fazenda e me vêm à memória
[apagada...

Na minha memória anda um carro de bois a bater as porteiras da
[estrada...
Na minha memória pousou um pinhé a gritar: crapinhé!
E passam uns homens
que levam às costas
jacás multicores
com grãos de café.

E piscam lá dentro, no fundo do meu coração,
uns olhos negros de cabocla a olhar pra mim
com seu vestido de alecrim e pés no chão.

E uma casinha cor de luar na tarde roxo-rosa...
Um cuitelinho verde sussurrando enfiando o bico na catléia cor de
[sol que floriu no portão...
E o fazendeiro, calculando a safra do espigão...

Mas acima de tudo
aqueles olhos de veludo da cabocla maliciosa a olhar pra mim
como dois grandes pingos de café
que me caíram dentro da alma
e me deixaram pensativo assim...

2

Mas eu não tenho tempo pra pensar nessas coisas!
Estou com pressa. Muita pressa.
A manhã já desceu do trigésimo andar
daquele arranha-céu colorido onde mora.
Ouço a vida gritando lá fora!
Duzentos réis, e saio. A rua é um vozerio.
Sobe-e-desce de gente que vai pras fábricas.

Pralapracá de automóveis. Buzinas. Letreiros.
Compro um jornal. O Estado! O Diário Nacional!
Levanto a gola do sobretudo, por causa do frio.
E lá me vou pro trabalho, pensando...

Ó meu São Paulo!
Ó minha uiara de cabelo vermelho!
Ó cidade dos homens que acordam mais cedo no mundo!

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In: RICARDO, Cassiano. Martim Cererê: o Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis. Ed. crít. Marlene Gomes Mendes, Deila Conceição Perez e Jayro José Xavier. Pref. Telê Ancona Lopez. Rio de Janeiro: Antares; Brasília: INL: Fundação Pró-Memória, 198
Cassiano Ricardo ( São José dos Campos SP, 1895 - Rio de Janeiro RJ, 1974) publicou, em 1915, o volume Dentro da Noite, primeira reunião de sua produção poética, então de estética parnasiana. Em 1917 formou-se em Direito, no Rio de Janeiro RJ, fundou a revista Panóplia e publicou o livro de poesia Evangelho de Pã. Aderiu ao Modernismo, com o livro Vamos Caçar Papagaios (1926), principalmente ao núcleo formado por Menotti del Picchia, Cândido Motta Filho e Plínio Salgado, de linha nacionalista. Em 1932 foi secretário do governador paulista Pedro de Toledo, sendo preso durante a Revolução Constitucionalista. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1937. Dois anos depois, tornou-se diretor da revista Brasil Novo, do Departamento Nacional de Propaganda (DIP). Entre 1948 e 1952 foi criador, diretor e presidente do Clube de Poesia de São Paulo, além de idealizador do Iº Congresso Paulista de Poesia. Em 1951 dirigiu a editora A Noite. Entre 1953 e 1972 publicou estudos sobre vários poetas, entre os quais Cecília Meireles, Gonçalves Dias e Guilherme de Almeida, e também sobre poesia na técnica do romance e poesia práxis. Em 1960 recebeu o prêmio Jabuti, pelo livro A Difícil Manhã (1960) e, em 1965, ganhou o Prêmio Juca Pato - Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores. No período de 1967 a 1974 foi membro do Conselho Federal de Cultura. A poesia de Cassiano Ricardo está vinculada à primeira geração modernista; no entanto, segundo a crítica Nelly Novaes Coelho, “desde os idos de 1915 (quando Cassiano inicia sua tarefa de poeta) até hoje, sua poesia vem sendo o índice mais eloquente das várias mutações por que tem passado a poesia brasileira nestes últimos cinquenta anos.”.
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CASSIANO RICARDO Nasceu a 26 Julho 1895 (São José dos Campos, São Paulo, Brasil) Morreu em 14 Janeiro 1974 (Rio de Janeiro RJ) Cassiano Ricardo Leite foi um jornalista, poeta e ensaísta brasileiro. Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta, foi o fundador do ... 33 2 A RUA Bem sei que, muitas vezes, o único remédio é adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem, a dívida, o divertimento, o pedido de emprego, ou a própria alegria. A esperança é também uma forma de contínuo adiamento. Sei que é preciso prestigiar a esperança, numa sala de espera. Mas sei também que espera significa luta e não, [apenas, esperança sentada. Não abdicação diante da vida. A esperança nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da [espera. Nunca é a figura de mulher do quadro antigo. Sentada, dando milho aos pombos. Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947). In: RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Pref. Tristão de Athayde. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. p.26 × Comentários Nome... Deixe um comentário... EnviarCancelar Samara Vitória Rodriguês Bueno A RUA é um texto lindo ?? Quem ler vai amar ?? É um pouco emocionante ?????? Adorei esse texto ?????? Parabéns pros editores deste texto Também ???? ???? Samara Vitória Rodriguês Bueno A RUA é um texto lindo ?? Quem ler vai amar ?? É um pouco emocionante ?????? Adorei esse texto ?????? Parabéns pros editores deste texto Também
16/abril/2021
Samara Vitória Rodriguês Bueno
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16/abril/2021
Samara Vitória Rodriguês Bueno
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