Bocage

Bocage

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage foi um poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.

1765-09-15 Setúbal
1805-12-21 Lisboa
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Prémios e Movimentos

Arcadismo

Alguns Poemas

Epístola a Marília

Pavorosa ilusão de Eternidade,
Terror dos vivos, cárcere dos mortos;
Dalmas vãs sonho vão, chamado inferno;
Sistema de política opressora,
Freio que a mão dos déspotas, dos bonzos
Forjou para a boçal credulidade;
Dogma funesto, que o remorso arraigas
Nos ternos corações, e a paz lhe arrancas:
Dogma funesto, detestável crença,
Que envenena delícias inocentes!
Tais como aquelas que o céu fingem:
Fúrias, Cerastes, Dragos, Centimanos,
Perpétua escuridão, perpétua chama,
Incompatíveis produções do engano,
Do sempiterno horror horrível quadro,
(Só terrível aos olhos da ignorância)
Não, não me assombram tuas negras cores,
Dos homens o pincel, e a mão conheço:
Trema de ouvir sacrílego ameaço
Quem dum Deus quando quer faz um tirano:
Trema a superstição; lágrimas, preces,
Votos, suspiros arquejando espalhe,
Coza as faces coa terra, os peitos fira,
Vergonhosa piedade, inútil vênia
Espere às plantas de impostor sagrado,
Que ora os infernos abre, ora os ferrolha:
Que às leis, que às propensões da natureza
Eternas, imutáveis, necessária,
Chama espantosos, voluntários crimes;
Que as vidas paixões que em si fomenta,
Aborrece no mais, nos mais fulmina:
Que molesto jejum roaz cilico
Com despótica voz à carne arbitra,
E, nos ares lançando a fútil bênção,
Vai do grã tribunal desenfadar-se
Em sórdido prazer, venais delícias,
Escândalo de Amor, que dá, não vende.

II

Oh Deus, não opressor, não vingativo,
Não vibrando com a destra o raio ardente
Contra o suave instinto que nos deste;
Não carrancudo, ríspido, arrojando
Sobre os mortais a rígida sentença,
A punição cruel, que execede o crime,
Até na opinião do cego escravo,
Que te adora, te incensa, e crê que és duro!
Monstros de vis paixões, danados peitos
Regidos pelo sôfrego interesse
(Alto, impassivo númen!) te atribuem
A cólera, a vingança, os vícios todos
Negros enxames, que lhes fervem nalma!
Quer sanhudo, ministro dos altares
Dourar o horror das bárbaras cruezas,
Cobrir com véu compacto, e venerando
A atroz satisfação de antigos ódios,
Que a mira põem no estrago da inocência,
(. . .)
Ei-lo, cheio de um Deus, tão mau como ele,
Ei-lo citando os hórridos exemplos
Em que aterrada observe a fantasia
Um Deus algoz, a vítima o seu povo:
( . . .)
Ah! Bárbaro impostor, monstro sedento
De crimes, de ais, de lágrimas, de estragos,
Serena o frenesi, reprime as garras,
E a torrente de horrores, que derramas,
Para fundar o império dos tiranos,
Para deixar-lhe o feio, o duro exemplo
De oprimir seus iguais com férreo jugo.
Não profanes, sacrílego, não manches
Da eterna divindade o nome augusto!
Esse, de quem te ostentas tão válido,
É Deus de teu furor, Deus do teu gênio,
Deus criado por ti, Deus necessário
Aos tiranos da terra, aos que te imitam,
E àqueles, que não crêem que Deus existe.
(. . .)

Poeta português natural de Setúbal, de ascendência francesa por parte da mãe. A sua vocação foi incentivada pelo ambiente familiar. Madame Fiquet du Bocage, uma tia-avó do poeta, era uma poetisa ilustre na época e traduzira o poeta suíço pré-romântico Gessner. O próprio pai de Bocage lia o pré-romântico inglês Young e cultivava a poesia nas horas vagas. Igualmente o marcou, como ele próprio o sublinhou, a morte da mãe aos dez anos de idade («Aos dois lustros a morte devorante/me roubou, terna mãe, teu doce agrado»). Frequentou a Academia Real dos Guarda-Marinhas, para onde entrou em 1783, entregando-se, mais do que aos estudos, à boémia literária da Lisboa da época, frequentando botequins, sobretudo o Nicola, do Rossio, ao qual o seu nome ficou para sempre ligado, como famoso improvisador de versos. Embarcou para Goa (1786) e serviu na guarnição de Damão (1789). Mais tarde, desertou, embarcando para Macau, e daí regressou a Lisboa em 1790, ano em que foi fundada a Nova Arcádia, na qual ingressou, adoptando o nome poético de Elmano Sadino. Dela foi expulso, em 1794, devido ao seu espírito independente, sarcástico e indisciplinado. Inquieto e atraído pela vida boémia, foi preso a 10 de Agosto de 1797, acusado de ideias contra a ordem social, expressas na «Epístola a Marília», texto anti-religioso, e no soneto dedicado a Napoleão, símbolo do ideal revolucionário da época. Julgado, apesar de tudo, com alguma benevolência, por «erro contra a religião», a Inquisição ordenou que o preso fosse «doutrinado». Obrigado, por sentença, a recolher ao Hospício das Necessidades, aí se dedicou ao estudo e à tradução de várias obras, entre as quais as Metamorfoses, de Ovídio. Saiu em liberdade em 1799, convertendo-se a uma vida mais regrada em casa da irmã, Maria Francisca, que sustentou com trabalhos de tradução. Marcado pelas atribulações do seu percurso, a sua vida terminou precocemente e com um doloroso arrependimento, patente nos seus últimos poemas. Bocage é um poeta pré-romântico em que o arcadismo ainda está bem presente. Dos seus poemas irradia o angustiado sentido da existência e do aniquilamento, expresso em oposições dramáticas (o amor, céu e inferno, a morte, horror e libertação) e o gosto pelo macabro, em simultâneo com o convencionalismo arcádico das alegorias. De entre as formas poéticas que cultivou destaca-se o soneto. Muitas vezes evocando o paralelismo entre a sua vida e a de Camões, morreu aos 40 anos, em Lisboa, deixando publicadas, em três volumes, Rimas (1791, 1799 e 1804), completadas com a publicação póstuma de novos volumes e obras sobre a sua criação poética (Poesia de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, de Inocêncio da Silva, 1853, e Obras Poéticas de Bocage, de Teófilo Braga, 1875)
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Eu só sinto Borboletas a mexer cá dentro
10/junho/2021
Osama Bin Laden
Muito interessante o poema, pena que escritor vem de Portugal (à escória dos países).
30/maio/2021
Alguem que intende de história mais que você
Estude realmente a história de portugal e pare de falar besteira
30/setembro/2022
Alguem que intende mais história que você
Se você não sabe ele se converteu no leito de morte(onde ele ditou esssa poesia) e se tornou católico, coisa que a nação portuguesa é e com muito amor.
30/setembro/2022
Rei leao
Amei
26/maio/2021
fernanda
Bom dia, não é astro mas estro
17/maio/2021
hakuna batata
amei o poenma tocou o fundo do meu coração obrigada por proporcionar tamanho entretenimento para a classe operária
11/novembro/2019

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