Alguns Poemas

Vida, Vida

Não acredito em pressentimentos, e augúrios
Não me amedrontam. Não fujo da calúnia
Nem do veneno. Não há morte na Terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há por que
Ter medo da morte aos dezessete
Ou mesmo aos setenta. Realidade e luz
Existem, mas morte e trevas, não.
Estamos agora todos na praia,
E eu sou um dos que içam as redes
Quando um cardume de imortalidade nelas entra.
Vive na casa e a casa continua de pé
Vou aparecer em qualquer século
Entrar e fazer uma casa para mim
É por isso que teus filhos estão ao meu lado
E as tuas esposas, todos sentados em uma mesa,
Uma mesa para o avô e o neto
O futuro é consumado aqui e agora
E se eu erguer levemente minha mão diante de ti,
Ficarás com cinco feixes de luz
Com omoplatas como esteios de madeira
Eu ergui todos os dias que fizeram o passado
Com uma cadeia de agrimensor, eu medi o tempo
E viajei através dele como se viajasse pelos Urais
Escolhi uma era que estivesse à minha altura
Rumamos para o sul, fizemos a poeira rodopiar na estepe
Ervaçais cresciam viçosos; um gafanhoto tocava,
Esfregando as pernas, profetizava
E contou-me, como um monge, que eu pereceria
Peguei meu destino e amarrei-o na minha sela;
E agora que cheguei ao futuro ficarei
Ereto sobre meus estribos como um garoto.
Só preciso da imortalidade
Para que meu sangue continue a fluir de era para era
Eu prontamente trocaria a vida
Por um lugar seguro e quente
Se a agulha veloz da vida
Não me puxasse pelo mundo como uma linha.
(in Tarkóvski, Andrei. Esculpir o tempo, tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1990. - trata-se de um dos poemas recitados por Arseni Tarkóvski no filme O Espelho, de 1975).
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Outra tradução:
VIVA, VIDA!
Não acredito em premonições, não temo superstições,
veneno e calúnia não vigoram sobre mim.
Não existe morte, senão plenitude no mundo.
Somos todos imortais; tudo é imortal.
Não é preciso temer a morte,
seja aos dezessete ou aos setenta.
Nada há além de presente e de luz;
escuridão e morte não existem neste mundo.
Chegados que somos todos à margem, sou um dos escolhidos
para puxar as redes quando o cardume da imortalidade as cumular.
Habitai a casa, e a casa se sustentará.
Invocarei um dos séculos ao acaso: eu o adentrarei
e nele construirei minha morada.
Sento-me portanto à mesma mesa
que vossos filhos, mães e esposas.
Uma só mesa para servir bisavô e neto:
o futuro se consuma aqui agora,
e quando eu erguer a minha mão,
os cinco raios de luz convosco ficarão.
Omoplatas minhas como vigas mestras,
sustentaram por minha vontade a revolução dos dias.
Medi o tempo com vara de agrimensor:
eu o venci como se voasse sobre os Urais.
Talhei as idades à minha medida.
Rumamos para o sul, um rastro de poeira pela estepe.
As altas ervas agitavam-se entre vapores
e o grilo dançarino,
ao perceber com suas antenas as ferraduras faiscantes,
profetizou-me, como monge possuído, a aniquilação.
Atei então, rápido, meu destino à sela,
ergui-me sobre os estribos como um menino
e agora cavalgo os tempos vindouros a meu ritmo.
Basta-me minha imortalidade,
o fluir de meu sangue de uma para outra era,
mas em troca de um canto quente e seguro
daria de bom grado minha vida,
conquanto sua agulha voadora
não me arrastasse, feito linha, mundo afora.
(Versão a partir de traduções para o inglês e outras línguas ocidentais: Álvaro Machado).
Arseni Tarkóvski foi um poeta e tradutor russo, nascido na Ucrânia a 25 de junho de 1907, então parte  do Império. Trabalhou por muitos anos como jornalista. Estudou Literatura em uma universidade de Moscou, onde conheceria sua esposa, Maria Ivanova Vishnyakova, com quem teria dois filhos, um deles o cineasta Andrei Tarkóvski.
 
 Tradutor do turcomeno, georgiano, armênio e árabe, é conhecido por suas traduções para o russo de poetas como Al-Ma‘arri (973 – 1057), Magtymguly Pyragy (1733 – 1797), Mämmetweli Kemine (1770 – 1840), Sayat-Nova (1712 - 1795), Vazha-Pshavela (1861 – 1915), Adam Mickiewicz (1798 – 1855) e Grigol Orbeliani (1804 – 1883), entre outros.
 
 Sua primeira coletânea de poemas, (Antes da neve, 1962), só seria publicada quando o poeta já tinha mais de 50 anos. A esta, seguiram-se livros como À terra os seus, 1966, Mensageiro, 1969, Dia de inverno, 1980 e Da juventude à velhice, 1987.  
 
Conhecido na Rússia, seu trabalho alcançou um público internacional através do trabalho de seu filho, que usaria a poesia do pai, vocalizada pelo próprio, em um de seus filmes mais marcantes, (O espelho, 1975), em que retorna a suas memórias de infância, quando o pai havia deixado a família e se encontrava no front, durante a Segunda Guerra Mundial. Ferido em ação em 1943, Arseni Tarkóvski teria uma das pernas amputadas.
 
 Um poema do pai aparece ainda na voz do stalker no filme Stalker (1979). O poeta morreu em Moscou, a 27 de maio de 1989.
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
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