Allen Ginsberg

Allen Ginsberg

Irwin Allen Ginsberg foi um poeta americano da geração beat, que ficou conhecido pelo seu livro de poesia Howl.

1926-06-03 Newark, Nova Jérsia, EUA
1997-04-05 Nova Iorque, Nova Iorque, EUA
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Alguns Poemas

Salmo mágico

Porque o mundo está à beira do abismo e ninguém sabe o quevirá depois
Oh Fantasma que minha mente persegue de ano para ano desce do céu para esta carne trêmula
colhe meu olho fugitivo no vasto Raio que não conhece limites — Inseparável - Mestre
Gigante fora do tempo com todas as suas folhas caindo - Gênio do Universo - Mágico do Nada onde nuvens vermelhas aparecem -
Indizível Rei das rodovias que se foram - Ininteligível Cavalo saltando fora do sepulcro - Poente sobre a grande Cordilheira e inseto - Cupim -
Lamentoso - Riso sem boca, Coração que nunca teve carne para morrer - Promessa que não foi feita - Consolador, cujo sangue arde em um milhão de animais feridos -
Oh Misericórdia, Destruidor do Mundo, Oh Misericórdia, Criador das Ilusões Acalentadas, Oh Misericórdia, arrulho cacofônico da boca quente, Vem,
invade meu corpo com o sexo de Deus, sufoca minhas narinas com a infinita carícia da corrupção,
transfigura-me em vermes viscosos de pura transcendência sensorial, ainda estou vivo,
grasna minha voz com o mais feio que a realidade, um tomate psíquico falando-Te por milhões de bocas,
Alma minha com miríades de línguas, Monstro ou Anjo, Amante que vem foder-me para sempre - véu branco do Polvo sem Olhos -
Cu do Universo no qual desapareço - Mão Elástica que falou com Crane128 —Música que toca na vitrola dos anos vinda de outro Milênio - Ouvido dos edifícios de NY
Aquilo em que acredito - que vi - procurei incessantemente na folha cachorro olho - sempre culpa, falta, - o que me faz pensar -
Desejo que me criou, Desejo que escondo no meu corpo, Desejo que todo Homem conhece Morte, Desejo ultrapassando o mundo Babilônico possível
que faz minha carne sacudir-se em orgasmos do Teu Nome que não conheço nunca conseguirei nunca dizer -
Dizer à Humanidade para dizer que o grande sino toca um tom dourado nos balcões de ferro em cada milhão de universos,
eu sou Teu profeta volta para casa para este mundo para gritar um insuportável Nome pelo odioso sexto dos meus 5 sentidos
que conhece Tua mão em seu falo invisível, coberta pelos bulbos elétricos da morte -
Paz, Solucionador onde embaralho ilusões, vagina de Boca Moleque entra no meu cérebro por cima, Pomba da Arca com um ramo de Morte.

Enlouquece-me, Deus estou pronto para a desintegração da minha mente, desgraça-me no olho da terra,
ataca meu coração cabeludo come meu caralho Invisível coaxar do sapo da morte salta em mim matilha de pesados cães salivando luz,
devora meu cérebro fluxo Uno de interminável consciência, tenho medo da tua promessa devo fazer que minha oração grite no medo - Desce Oh Luz Criador & Devorador da Humanidade, arrebenta o mundo na sua loucura de bombas e morticínio,
Vulcões de carne sobre Londres, em Paris uma chuva de olhos - caminhões carregados de corações de anjos para lambuzar as paredes do Kremlin - a caveira de luz para Nova York -
miríade de pés recobertos de jóias nos terraços de Pequim - véus de gás elétrico baixando sobre a índia - cidades de
Bactéria invadindo o cérebro - a Alma escapando para as ondulantes bocas de borracha do Paraíso -
Este é o Grande Chamado, esta é a Toxina da Guerra Eterna, este é o grito da Mente assassinada na Nebulosa,
este é o Sino Dourado da Igreja que nunca existiu, este é o Bum no coração do raio do sol, esta é a trombeta do Verme na Morte,
Apelo do agarrâo castrado sem mãos Doação da semente dourada do futuro pelo terremoto & vulcão do mundo -
Sepulta meus pés sob os Andes, esparrama meus miolos sobre a Esfinge, hasteia minha barba e cabelo no Empire State Building,
cobre minha barriga com mãos de musgo, enche meus ouvidos com teu clarão, cega-me com arco-íris proféticos
Que eu prove finalmente a merda de Ser, que eu toque Teus genitais na palmeira,
que o vasto Raio do Futuro entre pela minha boca para fazer soar Tua Criação Eternamente Não-nascida, Oh beleza invisível para meu Século!
que minha oração ultrapasse minha compreensão, que eu deposite minha vaidade a Teus pés, que eu não mais tema o Julgamento de Alien neste mundo
nascido em Newark chegado para a Eternidade em Nova York chorando novamente no Peru pela definitiva Língua para salmodiar o Indisível,
que eu ultrapasse o desejo de transcendência e entre nas calmas águas do universo
que eu cavalgue esta onda, não mais eternamente afogado na torrente da minha imaginação
que eu não seja assassinado pela minha própria doida magia, crime este a ser punido nos piedosos cárceres da Morte,
homens entendei minha fala fora de seus próprios corações turcos, ajudem-me os profetas com a Proclamação,
que os Serafins aclamem Teu Nome, Tu subitamente em uma imensa Boca do Universo fazendo a carne responder.

1960

Notícia de morte

Visita a W.C.W. circa 1957, os poetas Kerouac Corso Orlovsky no sofá do living room indagavam palavra sábias, William enfermo apontou pela janela acortinada da Main Street, “Há muitos bastardos lá fora!”.

Andando de noite na estrada de asfalto
do campus ao lado do Instrutor Alemão com Óculos
W. C. Williams está morto disse ele com sotaque
sob as árvores em Benares; Eu parei perguntei
Williams está morto? Entusiástico e de olhos abertos
sob a Big Dipper. Parado no Pórtico
do bangalô Anexo da International House
insetos zumbindo em volta da luz elétrica
lendo o obituário Médico no Time.
“out among the sparrows behind the shutters”
Williams está na Big Dipper. Ele não está morto
pois as muitas páginas de palavras emoção em arranjo
com suas entonações fremem as bocas de crianças humildes
tornam-se sutis mesmo em Bengala. Assim
há uma vida movendo-se para fora de suas páginas; Blake
também “vivo” através de suas experienciadas máquinas.
Foram suas últimas palavras qualquer coisa de Negro lá fora
no quarto acarpetado da casa de madeira
em Rutherford? Me pergunto o que ele disse,
ou teria qualquer coisa restado nos reinos do discurso
após o ataque & a freme-cérebro ruína entrarem
em seus pensamentos? Se eu rezar por sua alma no Bardo Thodol
ele poderá ouvir a inesperada vibração de estrangeira piedade.
Quietamente desconhecido por três semanas; agora eu vi Passaic
e Ganges, um, consentindo sua devoção,
porque ele percorreu a margem de aço & rezou
para uma Deusa no rio, que ele somente inventou,
uma outra Ganga-Ma. Montando no velho
ferruginoso submarino Holland no andar térreo
do Paterson Museum ao invés de um crocodilo celestial.
Lamentai, Ó Vós, Anjos da Esquerda! que o poeta
das ruas agora é um esqueleto sob o pavimento
e não há outra velha alma tão doce e humilde
e queixo feminino e ele-olhos pode ver vocês
O que vocês queriam estar entre os bastardos lá fora.

Benares, 20 de março de 1963.

Transcrição de música de órgão

A flor na jarra de manteiga de cacau que estava antes na cozinha, contorcida para chegar até a luz,
a porta do armário aberta porque o usei há pouco, continuou gentilmente aberta esperando-me, seu dono.
Comecei a sentir minha miséria no catre sobre o chão, escutando a música, minha miséria, é por isso que eu quero cantar.
O quarto fechou-se por cima de mim, esperava a presença do Criador, vi minhas paredes pintadas de cinza e o forro, elas contêm meu quarto, ele me contém
e o céu contém meu jardim,
abro minha porta
O pé da trepadeira subiu pela pilastra do chalé, as folhas da noite lá onde o dia as havia deixado, as cabeças animais das flores lá onde haviam aparecido
para pensar ao sol
Posso trazer as palavras de volta? Pensar na transcrição, isso embaçará meu olho mental aberto?
A suave busca do crescimento, o gracioso desejo de existir das flores, meu quase êxtase de existir no meio delas.
O privilégio de testemunhar minha própria existência – você também deve procurar o sol...
Meus livros empilhados à minha frente para meu uso
aguardando no espaço onde os coloquei, eles não desapareceram, o
tempo deixou seus restos e qualidades para que eu os usasse – minhas palavras empilhadas, meus textos, meus manuscritos, meus amores.
Tive um lampejo de claridade, vi o sentimento no coração das coisas, saí para o jardim chorando.
Vi as flores vermelhas na luz da noite, o sol que se foi, todas elas cresceram em um momento e estavam aguardando paradas no tempo para que o sol do dia viesse e lhes desse...
Flores que num sonho ao anoitecer eu reguei fielmente sem perceber o quanto as amava.
Estou tão só em minha glória – exceto por elas também lá fora – olhei para cima – essas inflorescências dos arbustos vermelhos acenando e despontando na janela à espera em cego amor, suas folhas também sentem esperança e estão com sua parte de cima virada para o céu para receber –
toda a criação aberta para receber – até a terra achatada.
A música desce, assim como desce o pesado ramo cheio de flores, pois assim tem que ser, para continuar vivendo, para continuar até a última gota de alegria.
O mundo conhece o amor no seu seio assim como na flor, o solitário mundo sofredor.
O Pai é piedoso.
O soquete da lâmpada está cruelmente atarrachado ao forro, desde quando a casa foi construída, para receber um conector bem ligado nela e que agora está ligado também à minha vitrola...
A porta do armário está aberta para mim, lá onde a deixei, e já que a deixei aberta, continuou graciosamente aberta.
A cozinha não tem porta, o buraco que está lá me aceitará se eu quiser entrar na cozinha.
Lembro-me da primeira vez que fui fodido, HP graciosamente me desvirginou, eu estava no cais de Provincetown, 23 anos, alegre, exaltado com a esperança do Pai, a porta do ventre estava aberta para aceitar-me se eu quisesse entrar.
Há tomadas de eletricidade ainda não usadas por toda a casa, se eu precisar delas.
A porta da cozinha está aberta para deixar o ar entrar...
O telefone – é triste contar – largado no chão – não tenho dinheiro para ligá-lo –
Quero que as pessoas se inclinem ao ver-me e digam que ele recebeu o dom da poesia, ele viu a presença do Criador.
E o Criador me deu um instante da sua presença para satisfazer meu desejo, para que eu não me desiluda no meu anseio de conhecê-lo.

Um supermercado na Califórnia

Como estive pensando em você esta noite, Walt Whitman, enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores, com dor de cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.
Em meu cansaço faminto, fazendo o shopping das imagens, entrei no
supermercado das frutas de néon sonhando com tuas enumerações!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras fazendo suas compras à noite! Corredores cheios de maridos! Esposas entre os abacates, bebês nos tomates! – e você, Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?
Eu o vi, Walt Whitman, sem filhos, velho vagabundo solitário, remexendo nas carnes do refrigerador e lançando olhares para os garotos da mercearia.
Ouvi-o fazer perguntas a cada um deles: Quem matou as costeletas de porco? Qual o preço das bananas? Será você meu Anjo?
Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja.
Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso passo solitário, provando alcachofras, pegando cada um dos petiscos gelados, sem nunca passar pelo caixa.
Aonde vamos, Walt Whitman? As portas se fecharão em uma hora. Que
caminhos aponta tua barba esta noite?
(Toco teu livro e sonho com nossa odisseia no supermercado e me sinto absurdo.)
Caminharemos a noite toda por solitárias ruas? As árvores somam sombras às sombras, luzes apagam-se nas casas, ficaremos ambos sós.
Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor, passando pelos automóveis azuis nas vias expressas, voltando para nosso silencioso chalé?
Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor de coragem, qual América era a sua quando Caronte parou de impelir sua balsa e você desceu na margem nevoenta, olhando a barca desaparecer nas negras águas do Letes?

Para um velho poeta no Peru

Porque nos encontramos ao escurecer
Debaixo da sombra do relógio
da estação
Quando minha sombra visitava Lima
E seu espectro morria em Lima
rosto velho precisando fazer a barba
E minha barba juvenil brotando
magnífica como os cabelos dos mortos
nas areias de Chancay
Porque por engano pensei que você estava
melancólico
Saudando seu pé de 60 anos de idade
com o cheiro de morte
das aranhas no assoalho
E você saudando meus olhos
com sua voz de anisete
Por engano aChando-me genial
por eu ser tffo moço
(meu rock and roll é o movimento de um
anjo voando na cidade moderna)
(seu obscuro arrastar os pés é o movimento
de um serafim que perdeu
suas asas)
Beijo-o na sua gorda bochecha (mais uma vez amanhã
Debaixo do esplêndido relógio de Disaguaderos)
Antes de eu partir para minha morte num desastre aéreo
na América do Norte (há muito tempo)
E você partir para seu ataque do coração numa rua
indiferente da América do Sul
(Ambos rodeados pelos gritos
de comunistas com flores
enfiadas no cu)
—você muito antes de mim —
ou numa longa noite só num quarto
no velho hotel do mundo
observando uma porta negra
...rodeado de pedaços de papel
MORRE COM GRANDEZA NA TUA SOLIDÃO
Velho ,
Eu profetizo a Recompensa
Mais vasta que as areias de Pachacamac
Mais brilhante que uma máscara de ouro batido
Mais doce que o gozo dos exércitos nus
fodendo no campo de batalha
Mais rápida que um tempo passado entre
a velha noite de Nasca e a nova Lima
ao anoitecer
Mais estranha que nosso encontro junto ao Palácio
Presidencial em um café
fantasmas de uma velha ilusSo, fantasmas
do amor indiferente —
A OFUSCANTE INTELIGÊNCIA
Emigra da morte
Para oferecer-te novamente um sinal da Vida
Bravia e bela como uma trombada de automóveis
na Plaza de Armas
Eu juro que vi essa Luz
Não deixarei de beijar sua horrenda bochecha
quando seu caixão for fechado
E os carpidores humanos partirem
para seu velho e cansado
Sonho.
E você despertar no Olho do
Ditador do Universo.
Outro milagre estúpido! Estou
enganado mais uma vez!
Sua indiferença! meu entusiasmo!
Eu insisto! Você tosse!
Perdidos no vagalhão de Ouro que
escorre através do Cosmos.
Argh, estou cansado de insistir! Até logo,
eu vou para Pucalpa
para ter visões.
Seus límpidos sonetos?
Eu quero ler seus mais sujos
e secretos rascunhos,
sua Esperança,
na Sua mais obscena Magnificência. Meu Deus!

19 de Maio de 1960

Morte à orelha de Van Gogh!

O Poeta é Sacerdote
0 dinheiro contabilizou a alma da América
O Congresso desabou no precipício da Eternidade
O Presidente construiu uma máquina de guerra que vomitará e varrerá a Rússia para fora do Kansas
O Século Americano foi traído por um Senado louco que não dorme mais com sua mulher
Franco assassinou Lorca o filho queridinho de Whitman
assim como Maiakovski se suicidou para evitar a Rússia
Hart Crane Platônico insigne se suicidou para soterrar a América errada
assim como milhões de toneladas de cereal humano foram queimadas em porões secretos sob a Casa Branca
enquanto a índia morria de fome e gritava e comia cachorros loucos encharcados de chuva
3 montões de ovos eram reduzidos a pó branco nos corredores do Congresso
nenhum homem temente a Deus andará de novo por lá por causa do fedor dos ovos podres da América
e os índios de Chiapas continuam a mastigar suas tortillas sem vitaminas
aborígenes da Austrália talvez resmunguem na selva sem ovos
e raramente eu tenho um ovo para o café da manhã embora meu
trabalho precise de infinitos ovos para nascer de novo na Eternidade
ovos deviam ser comidos ou então devolvidos a suas mães
e o desespero das incontáveis galinhas da América é expressado pela gritaria dos seus comediantes no rádio
Detroit fabricou um milhão de automóveis de seringueiras e fantasmas
porém eu caminho, eu caminho e o Oriente caminha comigo e toda a África caminha
e mais cedo ou mais tarde a América do Norte também caminhará
pois assim como expulsamos o Anjo Chinês da nossa porta, ele também nos expulsará da Porta Dourada do futuro
nós não mostramos piedade para Tanganica
Einstein em vida recebeu zombarias por sua política celestial
Bertrand Russel expulso de Nova York por trepar
e o imortal Chaplin foi expulso das nossas praias com a rosa entre os dentes
uma conspiração secreta da Igreja Católica nos mictórios do
Congresso negou anticoncepcionais às incessantes massas da índia
Ninguém publica uma palavra que não seja o delírio covarde de um robô com mentalidade depravada
o dia da publicação da verdadeira literatura do corpo americano será o dia da Revolução
a revolução do cordeiro sexual
a única revolução incruenta que distribuirá cereais
pobre Genet iluminará os que trabalham nas colheitas de Ohio
Maconha é um narcótico benigno mas J. Edgar Hoover prefere seu mortífero scotch
E a heroína de Lao-Tsé &do Sexto Patriarca é punida com a cadeira elétrica
porém os pobres drogados não têm onde pousar suas cabeças
canalhas em nosso governo inventaram um tratamento torturante
para o vido tão obsoleto quanto o Sistema Defensivo de Alarme pelo Radar
eu sou o sistema defensivo de alarme pelo radar
Nada vejo a não ser bombas
não estou interessado em impedir que a Ásia seja Ásia
e os governos da Rússia e da Ásia se erguerão e cairão mas a Ásia e a Rússia não cairão
o governo da América também cairá mas como pode a América cair
duvido que mais alguém venha a cair alguma vez a não ser os governos
felizmente todos os governos cairão
os únicos que não cairão serão os bons
e os bons governos ainda não existem
Mas eles precisam começar a existir eles existem nos meus poemas
eles existem na morte dos governos da Rússia e da América
eles existem nas mortes de Hart Crane e de Maiakovski
Esta é a hora da profecia sem morte como conseqüência
o universo acabará desaparecendo
Hollywood apodrecerá nos moinhos de vento da Eternidade
Hollywood cujos filmes estão atravessados na garganta de Deus
Sim Hollywood receberá o que merece
Tempo
Infiltração ou gás paralisante pelo rádio
A História tomará profético este poema e sua horrível estupidez será uma hedionda música espiritual
Eu tenho o arrulhar das pombas e a pluma do êxtase
O Homem não pode agüentar mais a fome da abstração canibal
A guerra é abstrata
o mundo será destruído
mas eu só morrerei pela poesia que salvará o mundo
Monumento a Sacco e Vanzetti ainda não patrocinado para dignificar Boston
nativos do Quênia atormentados pelos imbecis criminosos da Inglaterra
a África do Sul nas garras do branco alucinado
Vachel Lindsay Ministro do Interior
Poe Ministro da Imaginação
Pound Ministro da Fazenda
e Kra pertence a Kra e Pucti a Pucti
cruzamento de Blok e Artaud
a Orelha de Van Gogh estampada no dinheiro
chega de propaganda de monstros
e os poetas devem ficar fora da política ou se tornarão monstros
tornei-me monstruoso por causa da política
o poeta russo indiscutivelmente monstruoso no seu diário íntimo
o Tibet deve ser deixado em paz
Estas sao profecias óbvias
A América será destruída
os poetas russos lutarão contra a Rússia
Whitman preveniu contra essa “maldita fábula das nações”
Onde estava Theodore Roosevelt quando ele mandou ultimatos do seu castelo em Camden
Onde estava a Câmara dos Deputados quando Crane leu seus livros proféticos em voz alta
Onde estava tramando Wall Street quando Lindsay anunciou o destino final do Dinheiro
Estariam escutando meus delírios nos vestiários do Departamento de Pessoal de Bickford’s?
Deram ouvidos aos gemidos da minha alma enquanto eu lutavacom estatísticas de pesquisas de mercado no Forum de Roma?
Não eles estavam brigando em reluzentes escritórios, sobre carpetes de parada cardíaca, berrando e negociando com o Destino
brigando com o Esqueleto com sabres, mosquetões, dentes
arreganhados, indigestão, bombas de roubo, prostituição, foguetes, pederastia,
de costas para a parede por causa das suas mulheres, apartamentos, gramados, subúrbios, contos de fada,
Portoriquenhos amontoados para o massacre por causa de uma geladeira de imitação chinesa-moderna
Elefantes da misericórdia trucidados por causa de uma gaiola elizabetana de pássaros
milhões de fanáticos agitados no hospício por causa do estridente soprano da indústria
O canto de dinheiro das saboneteiras - macacos de pasta de dentes nos televisores - desodorantes em cadeiras hipnóticas -
atravessadores de petróleo no Texas - aviões a jato riscando as nuvens -
escritores do céu mentirosos diante da Divindade - açougueiros de afiados dentes com chapéus e sapatos, todos Proprietários! Proprietários! Proprietários! com obsessío de propriedade e Ego evanescente!
e seus longos editoriais tratando friamente do caso do negro que berra atacado por formigas pulando para fora da primeira página!
Maquinaria de um sonho elétrico das massas! A Prostituta da Babilônia criadora de guerras vociferando com Capitólios e Academias!
Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! dinheiro celestial da ilusão berrando loucamente! Dinheiro feito de nada, fome, suicídio! Dinheiro do fracasso! Dinheiro da morte!
Dinheiro contra a Eternidade! e os fortes moinhos da eternidade trituram o imenso papel da Ilusão!

Paris 1958

Para tia Rose

Tia Rose —agora —se eu pudesse vê-la
com seu rosto afilado e sorriso de longos dentes e dor
de reumatismo —e um comprido e pesado sapato preto
para sua ossuda perna esquerda
coxeando pelo carpete do longo saguão de Newark
passando pelo grande piano negro
até a sala de visitas
onde davam festas
e eu cantava canções legalistas espanholas
com uma esganiçada voz aguda
(histérico) o comitê ouvindo
enquanto você coxeava pela sala
recolhendo o dinheiro
Tia Honey, Tio Sam, um estranho com um braço de manga
de casaco
enfiado no bolso
o enorme moço calvo
da brigada Abraham Lincoln
—sua comprida cara triste
suas lágrimas de insatisfação sexual
(que soluços sufocados e ancas ossudas
sob os travesseiros de Osborne Terrace)
—a vez que fiquei sentado nu na privada
enquanto você empoava minhas coxas com Calomine
contra a queimadura da urtiga —meus tenros
e envergonhados primeiros negros pêlos crespos
o que você pensaria secretamente
sabendo que eu já era homem —
e eu a menina ignorante do silêncio familiar no delgado
pedestal
das minhas pernas no banheiro —Museu de Newark

Tia Rose
Hitler está morto, Hitler está na Eternidade; Hitler está junto
com Tamerlão e Emily Bronte
Porém eu ainda a vejo caminhar, um fantasma em Osbome
Terrace
ao longo do saguão escuro até a porta da frente
mancando um pouco com um sorriso cansado naquilo
que deve ter sido um florido
vestido de seda
recebendo meu pai, o Poeta, na sua visita a Newark
—vejo-a chegar à sala de visitas
dançando na sua perna aleijada
e batendo palmas seu livro
havia sido aceito por Liveright

Hitler morreu e Liveright encerrou as atividades
O Sótão do Passado e Duradouro Minuto estão esgotados
Tio Harry vendeu sua última meia de seda
Claire largou a escola de dança interpretativa
Buba está largada um monumento encarquilhado na Casa
de Repouso para Senhoras Idosas piscando para bebês
a última vez que eu a vi você estava no hospital
pálido crânio emergindo da pele cinérea
menina inconsciente com veias azuis
numa tenda de oxigênio
a guerra da Espanha já acabou há muito tempo
Tia Rose

Paris, 1958

Europa! Europa!

Mundo mundo mundo
sentado em meu quarto
imagino o futuro
põe-se o sol em Paris
estou só ninguém
cujo amor seja perfeito
o homem está louco o amor
do homem não é perfeito eu
não chorei o bastante
meu peito pesará
até a morte as cidades
são espectros das roldanas
da guerra as cidades são
trabalho & tijolo & ferro &
fumaça da fornalha do
ego que deixa os olhos sem
lágrimas vermelhos em Londres mas
nenhum olho encontra o sol

Cujo clarão lançado
pelo céu bate no
moderno branco sólido
prédio de papel de lorde
Beaverbrook225 reclinado
na rua de Londres para
receber os derradeiros raios
amarelos que velhas senhoras
distraidamente fitam
através da neblina para o céu
os pobres vasos na janela
derramam flores na rua
a fonte de Trafalgar respinga
pombos aquecidos pelo meio-dia
eu mesmo irradiando êxtase de
selvageria na catedral de St. Paul
olhando a luz em Londres
ou aqui em Paris na cama
clarão do sol pela alta janela
batendo no gesso da parede

Embaixo a multidão humilde
santos morrem miseráveis
mulheres da rua enfrentam o desamor
sob lampiões de gás e néon
mulher alguma em casa amando
marido na unidade da flor
nem garoto suavemente amando garoto
com a política do fogo no peito
a eletricidade atemoriza a cidade
o rádio clama por dinheiro
luz da polícia na tela da TV
risos à meia-luz das lâmpadas
em quartos vazios tanques desabam
em crateras de bombas nenhum sonho
do prazer humano é filmado
a fábrica do pensamento passa drogas
carros com seu sonho de Eros de lata
a mente come sua própria carne
numa fome simulada e nenhuma
foda humana é sagrada pois
o trabalho humano é principalmente guerra

a fome da China Esquelética é
lavagem cerebral na hidroelétrica
a América esconde carne louca
na geladeira a Inglaterra
cozinha Jerusalém por demasiado tempo
a França come petróleo e morte
saladas de braços & pernas na África
ruidosamente devoram a Arábia
negros e brancos lutando
contra a núpcia dourada
a indústria da Rússia alimenta
milhões mas nenhum bêbado pode
sonhar o suicídio de Maiakovski
arco-íris sobre a maquinaria
e a resposta para o sol

Estou na cama na Europa
só numa velha roupa de baixo
vermelha simbólica do desejo
de união com a imortalidade
mas o amor do homem não é perfeito
chove em fevereiro
como outrora para Baudelaire
há cem anos
aviões roncam no ar
carros correm pelas ruas
sei para onde vão
vão para a morte mas tudo bem
é que a morte chega antes
da vida que nenhum homem
chegou a amar perfeitamente ninguém
chega à beatitude no tempo a nova
humanidade ainda não nasceu que
eu chore por essa velharia
e saúde o milênio
pois eu vi o sol atlântico
raiar de uma vasta nuvem
em Dover nos penhascos à beira-mar
um petroleiro do tamanho de uma formiga
pendurado sobre o oceano sob a brilhante
nuvem e as gaivotas voando
através das intermináveis escadarias
da luz do sol escorrendo na Eternidade
para as formigas na miríade de campos
da Inglaterra para os girassóis
inclinados comendo o instante
do infinito delfins dourados saltando
pelos arco-íris mediterrâneos
Fumaça branca e vapor nos Andes
os rios da Ásia cintilando
poetas cegos a fundo na solidão
brilho de Apoio nas encostas das colinas
atulhadas de túmulos vazios

Paris, 1958
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